31 de dezembro de 2005

As regras da CGD

Deparamo-nos no contacto diário com as mais diversas instituições da Pólis com regras cretinas. O cretinismo das regras não escolher sector. Empresas públicas e privadas, organismos públicos e privados emparceiram e igualam-se no disparate, geralmente com propósitos assentes no binómio custo-benefício. Numa lógica próxima da Revolução Industrial, em que cada elemento sabe qual é o seu papel na cadeia mas duvido que se interrogue ou saiba qual é o papel do colectivo na sociedade, os agentes dessas empresas e organismos por norma aplicam essas regras sem pensar, de forma binária, ou é 0 ou é 1. Muitas vezes desvirtuando o seu espírito. Vem isto a propósito de uma «visita» que anteontem de manhã fiz à Caixa Geral de Depósitos (CGD). Actualizei a caderneta na máquina ATM. O «livrinho» acabou e a máquina «mandou-me» dirigir ao balcão. Normalmente, dar-me-ia outra. Porém, nem sempre isso acontece. Caprichos da máquina, de quem a programa ou de quem a devia «alimentar» dos ditos «livrinhos» e não o faz. Entrei e dirigi-me ao balcão onde a funcionária procedeu à substituição da caderneta e me entregou uma nova, porém, com o mesmo saldo que constava na antiga, ou seja, sem a actualizar. Disse-me que ali só «inicializava» - bela palavra essa – a caderneta, mas a actualização teria de ser efectuada novamente na máquina ATM. Deitei o olho para a máquina que não tinha ninguém e decidi não protestar. Era de manhã e a minha «boa vontade» estava no auge, embora como bom neurótico que sou nem sempre isso aconteça a essa hora do dia. Lá fui, pois, pela segunda vez, à dita máquina. O dia, porém, era da máquina. Actualizou-me a caderneta, sobrepôs três movimentos, imprimiu tudo enviesado e no fim brindou-me com a mensagem de que a caderneta estava irregular. Voltei novamente à fila e à mesma funcionária. Aí decidi protestar pelo absurdo da situação. Ir duas vezes à máquina e duas vezes ao balcão para actualizar uma caderneta, quando isso devia ter sido feito numa única operação e apenas na máquina. Assim, a CGD penalizou-me três vezes. Primeira penalização: a máquina não funcionou devidamente, não me deu uma caderneta nova, pelo que tive de ir ao balcão. Segunda penalização: no balcão «inicializaram-me» a caderneta mas não a actualizaram, pelo que passei do balcão novamente para a máquina. Terceira penalização: a máquina actualizou-me incorrectamente a caderneta, pelo que tive de voltar ao balcão. São as regras, disse-me. Além de o sistema informático – excelente álibi – não o permitir?! O «sistema» tem vida própria – está visto - razão tinha o Dias da Cunha?! Adiante. Questionei-a sobre a racionalidade da regra. Com a lógica binária bem encasquetada, lá me foi dizendo que havia muita gente que se dirigia ao balcão, podendo servir-se da máquina, o que sobrecarregava o serviço de balcão. Disse-lhe que não era o caso, que fui primeiramente à máquina e só depois ao balcão. Ela foi forçada a concordar. Um vago sorriso deu-me a razão que as palavras não deram. O caso morreu ali. Ou vai morrer aqui. Mas a regra continua cretina. Até porque há pessoas que podem não gostar da máquina, não saber usar a máquina, não querer usar a máquina, depositar mais confiança nas pessoas do balcão do que na máquina, etc., etc., etc. E que tal pôr um pouco de bom senso na aplicação das regras. Ou não sabemos todos que não há regra sem excepção. A excepção é o bom senso na administração da regra. Sob pena de nos parecermos demasiado com a máquina. Não há dúvida de que nos assemelhamos cada vez mais a máquinas, pequenos títeres programados na retaguarda por outros títeres, por sua vez programados por outros títeres... O Kafka é que sabia…

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Politikos é pertinente nas críticas e paciente, se não civilizado nos actos. Mas, é o sistema... como dizia o presidente do tal clube! E o sistema no nosso país engloba incompetencia; burocracia;corrupção.. e por aí fora de substântivos.

BOM ANO 2006 e porque não mudar de entidade bancária?? O sistema mantem-se, mas a crítica seria outra! Pelo menos não há "cadernetas"

domingo, janeiro 01, 2006 4:34:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Pois é, minha cara. Serei, porventura, isso tudo! Mas mudar de entidade não resolve, as restantes tb não me satisfazem e «levam-me» mais dinheiro por tudo. De onde, continuo na CGD. Já tive uma chatice com o Totta que acabou nos jornais e com o Barclays, onde tenho o meu crédito à habitação, sendo melhor nas condições do que a CGD também o não é nas regras. Ex.: Tive de ir pessoalmente ao banco - podia mandar faxe - para proceder ao pedido de mudança de morada. Atente-se que a mudança de endereço era para a casa para a compra da qual o dito Barclays Bank me havia emprestado o dinheiro... Como se vê o cretinismo não escolhe sector: público e privado. São os bancos da Pólis...

segunda-feira, janeiro 02, 2006 7:52:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ou dito de outra maneira: a estupidez de quem funciona como robot.

sábado, janeiro 07, 2006 2:45:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Tal e qual, caro Kroniketas. Apesar da muito apregoada excelência do sector da banca e dos seguros, ao que parece ao nível do melhor da Europa... Nos resultados, não duvido... Mas em pouco mais...

domingo, janeiro 08, 2006 8:35:00 da tarde  

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