22 de dezembro de 2005

As razões por que voto em Soares


Foi o Pólis&etc. instado a escrever sobre as razões do seu voto nas presidenciais. O Pólis&etc. não gosta de desapontar os seus parcos leitores, pelo que elas aqui vão. Já se percebeu, por aqui na Pólis, que raramente voto num partido ou, no caso de eleições unipessoais como esta, numa pessoa. Para votar preciso de estar realmente convicto de que aquele partido ou aquela pessoa vão exercer bem o mandato que contribuo para lhes entregar. Em caso de forte dúvida ou até mesmo de dúvida razoável, voto em branco, ultimamente nulo, pois ouvi falar, «à boca pequena», em irregularidades recentes com votos brancos, numa freguesia de Lisboa. Believe it or not. Reputo a fonte de confiança. À cautela, ultimamente é sempre nulo. Já se percebeu também o meu sentido de voto nas presidenciais da Pólis. É em Mário Soares. E porquê? Poderia elencar aqui uma boa dúzia de razões baseadas no seu passado e na sua personalidade. Porém, restrinjo-me apenas à sua actividade nos últimos 10 anos, ou seja, ao período após a sua saída da presidência da República, após ter desempenhado o mais alto cargo da hierarquia do Estado. O que é que Soares fez? «Auto-exilou-se» da vida pública num qualquer retiro para escrever as suas memórias «à lareira» junto dos filhos e dos netos? Não. Decidiu «baixar» de estatuto – se é que isso se aplica na vida pública – e foi eleito deputado europeu, cumprindo, apesar dos vaticínios, um mandato completo. Nesse mesmo período, manteve uma intervenção política e cívica regular numa coluna no Grande Educador do Povo da Pólis (fora da Pólis conhecido por Expresso, como se sabe). Manteve ainda, quinzenalmente, uma entrevista – aliás notável - na SIC Notícias, ao jornalista António José Teixeira. Escreveu livros e prefácios de livros. Escreveu artigos e fez intervenções em colóquios e seminários em várias partes do mundo. Presidiu a missões e a comissões internacionais. Foi, só neste período, presidente da Comissão Mundial Independente para os Oceanos, do Movimento Europeu Internacional, do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água, do Comité dos Sábios do Conselho da Europa. Além de ter «posto de pé» e gerido – numa ideia «à americana» - a sua Fundação, uma das mais notáveis em Portugal, com um trabalho ímpar na área da preservação da memória política contemporânea portuguesa. Convido os parcos leitores do Pólis&etc. a visitarem o site da Fundação Mário Soares. Gostaria que me apontassem outro político português com uma dimensão cívica e política semelhante a esta? Tudo isso se passou apenas nos últimos 10 anos, na transição dos 70 para os 80 anos. E agora, nesta fase da vida, ainda se mostra disponível para mais este combate. Numa época em que já nada tem a ganhar, diriam os calculistas e os carreiristas da vida pública. É, também por isso, por já nada ter a ganhar, que eu acredito que Mário Soares é, neste momento, o melhor candidato à Presidência da República. Mas é sobretudo pelo facto de Soares ser alguém de horizontes largos que tem dos problemas uma visão holística e não apenas técnica. Soares é um humanista, com uma sólida cultura geral, com ideias e um pensamento estratégico sobre os grandes problemas do mundo e da actualidade. Soares não é apenas um político partidário ou um técnico. Soares tem ainda um inigualável prestígio internacional. É conhecido e respeitado em todo o mundo e é o único político português com uma dimensão superior à do seu próprio país. Pessoalmente, como português, sinto-me muito bem representado por Soares lá fora. É também por isto – e já não é pouco - que eu voto Soares.
Repete-se, qual estribilho, que tudo isso se passou apenas nos últimos 10 anos, ou seja na transição dos 70 para os 80 anos. Esperamos que isto tenha respondido à falácia que é a questão da idade de Soares… Isto, entre outras coisas?!Já agora…

14 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Isso é uma decisão recente? É que se não é, bem podia ter sido mandatário nacional da candidatura do Marocas. Nem o porta-voz dele seria tão eloquente!

sábado, dezembro 24, 2005 1:17:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Não é recente, não é recente. Já vi que gostou da eloquência. Pode ser que mais alguém repare e eu ainda obtenha, por esta via, uma prebenda qualquer Embora me pareça que noutro candidato isso seria mais possível ;-)

sábado, dezembro 24, 2005 6:22:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Mas as Krónikas é que não se «descosem» nas suas preferências... Sabe-se que é mais à esquerda mas só isso?!

sábado, dezembro 24, 2005 6:23:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não concordo com Politikos quando afirma que no debate foi dada resposta cabal à não senilidade de "sua referência. Também aconselho Politikos a preocupar-se mais com os próximos 5 anos e menos com os últimos 10. Isto porque com esta idade as faculdades existentes perdem-se com muita facilidade e lá gastará o País mais uns milhões de "eurios" em campanha eleitoral.

Mais acrescento que a postura de "sua referência" ultrapassou o que se poderia chamar de pertinente e, em minha opinião, roçou mesmo a má educação.

Contudo, congratular-me-ei com a sua vitória.

sábado, dezembro 24, 2005 9:32:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E agora? Com esta a Graciete entalou-o...

domingo, dezembro 25, 2005 1:14:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ah, eu já tinha dito qual era o meu candidato. Escrevi um post com esse título.

domingo, dezembro 25, 2005 1:15:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

IDADE - Aqui há tempos - talvez 1 ou 2 anos - vi um programa do Prof. José Hermano Saraiva (JHS), evocativo da Batalha de Lalys. A dada altura JHS, depois de alguns rodeios, apresenta o seu padrinho - julguei estar a ouvir mal, mas assim era: o padrinho do JHS. Havia combatido na Batalha de Lalys e ali estava recordando e discorrendo sobre a Batalha, suas causas e consequências. Como a dita Batalha foi em 1918, meus caros, é, como dizia o outro, só fazer as contas...

domingo, dezembro 25, 2005 12:26:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

MÁ EDUCAÇÃO - Também acho que Soares foi longe demais nos ataques ao Cavaco, mas apenas em duas ocasiões:
1.ª Ao considerá-lo um economista razoável: o que acho excessivo, muito embora, se a bitola for o panorama internacional, é isso mesmo que ele é;
2.º Quando ele disse que sabia bem
o que os outros líderes europeus diziam do Cavaco, que não tinha «conversa» para lá da economia. Muito embora se saiba que isso é verdade, há coisas que não se dizem e se se levanta um labéu tem de se concretizar.
Mas atenção que o que ele disse é o que toda a gente diz em privado e o Marocas apenas o disse em público. Pode ser pouco pertinente para a função. Quiçá?! Por acaso, acho que, atendendo à componente de representação que o cargo encerra, não é. O que não se deve é confundir isso com má educação.

domingo, dezembro 25, 2005 12:36:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Sim, senhor, fui reler os postes do Kroniketas e lá descobri as suas «alegres» preferências. As razões do voto, repescadas nas palavras das Krónikas: «Porque acredito que Alegre luta por princípios e convicções, ao passo que Soares luta mais por cargos e pela carreira. Não quero saber se dificulta a vida a Soares ou a Cavaco: apenas o prefiro ao outro.»
Acho pouco para um voto...
O que é que interessa à carreira de Soares mais um mandato na PR? Rigorosamente nada. E se eu por acaso tivesse posto a hipótese de votar Alegre no princípio, hoje, depois da pré-campanha, arrumava essa ideia no baú das velharias.
E o que diz o Kroniketas agora, depois da prestação do seu candidato (para mim o pior de todos)?! Mantém o voto?! Ou põe a hipótese de mudança?!

domingo, dezembro 25, 2005 12:48:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O há alguns tempos em que diz Politikos ter ouvido JHS, não serão para aí há 20 anos? Quando em vêz de andar a festejar a vitória de um, ouvia atentamente a memórias de outro? Perguntar não ofende....

domingo, dezembro 25, 2005 4:45:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

O «há algum tempo» foi há 1 ano ou 2, como se diz, não há 20. Além disso nunca festejei na rua, politicamente falando, o que quer que fosse... Nada ofende, caríssima Graciete. Aqui na Pólis impera a tolerância. Aliás à imagem e semelhança do candidato da Pólis :-)

domingo, dezembro 25, 2005 10:51:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Ainda sobre o debate Soares/Cavaco ou Cavaco/Soares, como preferirem, aconselha-se, aqui na blogosfera:
http://pulo-do-lobo.blogspot.com/2005/12/very-best-of-mrio-soares-flying-circus.html

domingo, dezembro 25, 2005 11:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Na revista "VIsão" numa página de frases "em foco", consta: - Foi Salazar que acabou com a ditadura em 1933 - (JHS). Que credibilidade tem uma pessoa destas? Quando ele mostrou o "padrinho" era talvez o "afilhado" e quanto à batalha, não se referiria à guerra colonal? Penso ser aquele outro personagem da "Polis" já desfazado de certas realidades.

segunda-feira, dezembro 26, 2005 9:34:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Com o exemplo de JHS, o que se pretendia demonstrar era apenas que a idade cronológica ou biológica não significa nada e que o nosso Marocas está ali para as «curvas». E esse é um facto evidente. Quanto à frase do JHS, por norma não comento frases sem contexto. E não conheço o dessa. Abro, porém, uma excepção, com reservas. Não é essa frase que retira ou acrescenta credibilidade a JHS. A frase resulta do seu «engajamento» com o anterior regime - que é conhecido. Mas decerto ele queria referir-se ao facto de Salazar ter terminado com a ditadura militar. O que é verdade. E, porventura, essa «nuance» estaria no contexto.

segunda-feira, dezembro 26, 2005 8:15:00 da tarde  

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