8 de janeiro de 2006

As pequenas SCUT dos fundos de pensões e os «rótulos»

É fascinante perceber como publicamente se colam «rótulos» às pessoas. É competente ou incompetente, rigoroso ou laxista, metódico ou desorganizado, «bon vivant» ou austero, etc., etc. Justa ou injustamente, Manuela Ferreira Leite ganhou fama de competente, «dura» e muito rigorosa. Enquanto Ministra das Finanças era esse o seu rótulo público. Rótulo para o que também contribuía uma certa assertividade na pose e nas declarações públicas, a par de uma certa «cara de pau», cocktail – mexido não batido - que, em Portugal, tem - como se sabe - muitos adeptos. Soubemos, esta semana, pelo Tribunal de Contas da Pólis, que os fundos de pensões de várias empresas públicas - CTT, RDP, CGD, ANA, NAV-Portugal e INCM - integrados, no seu tempo e no de Bagão Félix, na Caixa Geral de Aposentações, e «contabilizados» como receitas extraordinárias, se revelam hoje um imenso sorvedouro de dinheiro. Ouvi chamar-lhes de pequenas SCUT, pelo que custam e irão custar todos os anos e durante algumas décadas ao País. Essas empresas até agradeceram, pois livraram-se de um peso a curto, médio e longo prazo. Manuela Ferreira Leite também agradeceu pois pôde conservar a sua fama de competente, «dura» e muito rigorosa, mantendo artificialmente um défice abaixo da fasquia definida pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). Dir-se-ia que Manuela Ferreira Leite «atirou» o problema para a frente, «comprando» tempo. Mas nem sequer isso, já que, como refere o Tribunal de Contas, esses fundos apenas têm um efeito positivo nas contas públicas no próprio ano em que ocorrem, começando a dar prejuízo logo no ano seguinte. Este ano irão custar 198,6 milhões de aérios e em 2014, 303 milhões de aérios aos cofres da Pólis. Dizem alguns que se não cumpríssemos o PEC iríamos perder fundos que teriam custos muito maiores do que o que hoje pagamos por este ruinoso negócio. Gostaria, porém, de ver essas contas muito bem feitas e muito bem explicadas. Também ouvi da boca da própria – qual desculpa de mau pagador demonstrando, também ela, uma «engenharia» argumentativa semelhante à «engenharia» financeira da operação – que a maioria dos fundos de pensões transferidos pertenciam ao sector empresarial do Estado, de onde «fica tudo em casa», o que, como se sabe, não é verdade. Essas empresas têm capitais privados e uma mobilidade na gestão de activos e passivos que o Estado não tem. Gostaria também de saber se é este o critério seguido por Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix nas suas finanças domésticas… Se assim for, lançamos já e aqui à blogosfera da Pólis um peditório nacional para ajudar a «senhora» e já agora o Bagão nas respectivas reformas…

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como diz o James Bond, "shaken, not stirred"

sábado, janeiro 14, 2006 2:01:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Ora bem, ora bem... E falando de Martinis, pena é a Manela não se parecer com a menina do Martini que entrava de patins no elevador e compunha a saia... É mesmo uma pena... Assim ainda lhe desculpava as integrações dos fundos de pensões... :-)

sábado, janeiro 14, 2006 3:03:00 da manhã  

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