30 de maio de 2006

Tiradas analfabetas

Cada vez tenho menos paciência para aturar certas tiradas das nossas elites... Elites, digo bem! Acabei de assistir a uma, num debate na RTP 1, a propósito da violência na escola. A dada altura e a propósito da possibilidade de os pais serem chamados a avaliar os professores, Fátima Bonifácio aduz como argumento contra a medida o facto de - e cito de memória - «a maioria dos pais serem analfabetos ou quase». Para além da absoluta falta de rigor científico da afirmação, ademais vinda de uma investigadora e professora universitária, e do snobismo intelectual que a mesma encerra, acho que Salazar, há 40 ou 50 anos, decerto a subscreveria... Aliás usou argumentos semelhantes para rejeitar o direito ao voto... Por mim considero-a de um profundo analfabetismo social, cultural, cívico, ou o que se queira...

19 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não ouvi essa tirada, mas é uma completa imbecilidade.

quarta-feira, maio 31, 2006 12:15:00 da manhã  
Blogger maloud said...

Eu como ando sempre a saltar de nenúfar em nenúfar, afinal sou uma das trolls do JPP, li algures que é a favor da avaliação feita pelos pais aos professores. Aquilo que foi parangona na imprensa e sobressalto sindical, deixou-me desconfiada. Já não tenho grande pachorra para o título bombástico, tipo capa do Expresso, nem para os interesses corporativos. Hoje num comentário no blog Tugir, uma senhora professora esclareceu. Sem entrar em detalhes, há 12 itens de avaliação e só num deles intervêm os encarregados de educação.
Quanto à Prof.Fátima Bonifácio li sempre os artigos dela no Público. O que diz só confirma a opinião que tenho da dita senhora. Sempre me pareceu que tinha dificuldade em viver em democracia.

quarta-feira, maio 31, 2006 12:31:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Ainda bem que tb parou neste nenúfar, cara Maloud... Claro que o que se pretende não é que sejam os pais a avaliar os professores mas sim que os pais possam tb avaliar os professores... E esse é apenas um elemento de avaliação, entre outros, e com certeza não o mais decisivo... Tudo normal, portanto, mas, claro, não conforme com os interesses corporativos dos docentes...

quarta-feira, maio 31, 2006 9:53:00 da manhã  
Blogger maloud said...

Cara Luar
Não vou repetir aqui o episódio caricato que protagonizei há 7 anos, para que uma escola do Porto, a Aurélia de Sousa, 3ª do 1º ranking publicado, reprovasse um filho meu. Foi de gritos. Eu insistia que ele não devia transitar para o 10º ano, e eles teimavam que o coitado não era dos piores. Faço ideia o que seriam os tais piores, porque ele era uma nulidade. Lá consegui que o reprovassem, debaixo de fortes protestos pedagógicos.
Três anos mais tarde, numas férias de 4 semanas no sul de Itália, conheci com detalhe um dos tais piores. Foi connosco. Aquilo só visto, porque contado ninguém acredita. Quando regressei, declarei com a maior solenidade que o meu cadet era candidato ao Nobel.

quarta-feira, maio 31, 2006 9:34:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Cara Luar, como sabe os juízes já julgam em causa própria: são eles que se julgam a si próprios (vd. o caso recente do congelamento da progressão nas carreiras, p. ex.: como sabem querem declarar a inconstitucionalidade da medida)... Aliás, o paralelo é interessante, pois tb os professores julgam em causa própria já que se avaliam a si próprios... Aliás, como tb sabe, já que é uma defensora convicta da avaliação e da orientação para o «cliente», quem melhor do que os «clientes» do ensino: estudantes e pais, para avaliar os professores? Coisa que já acontece com todos os outros formadores fora do sistema formal de ensino...

Cara Maloud
Já conhecia esse seu episódio de outras «andanças» mas deixe-me tirar-lhe o chapéu por ser a primeira a reconhecer as limitações do seu filho... Bem sei que é uma excepção mas tb assim se contraria a tese da Luar sobre a objectividade caseira...

quarta-feira, maio 31, 2006 10:25:00 da tarde  
Blogger maloud said...

Caro Politikos
Eu sei que sou uma excepção, mas se nós fossemos educados, para sermos menos hipócritas, mais honestos intelectualmente e mais cívicos, eu não seria excepção. Agora repare que a minha família ficou estupefacta com a minha atitude. Felizmente na altura era eu a encarregada de educação do rapaz. Defendi com unhas e dentes o que era melhor para ele. E veio a revelar-se a decisão acertada. Hoje está a acabar o curso de hotelaria com notas brilhantes.
Agora quando foi preciso meter uma professora na ordem, com a minha filha do meio, também não hesitei. Usei foi o meu estilo. Educado com alguma ironia à mistura. Deixou de ser professora da turma da minha filha. A escola era a mesma e o episódio já tem 15 anos.
Queria dizer só mais uma coisinha, se me permitirem. Eu não percebo a indignação com o comportamento daqueles miúdos e dos seus progenitores. Correndo as caixas de comentários e mesmo alguns posts, não há gente que pelo menos tem acesso à internet e é de uma grosseria e agressividade espantosa? Onde está o espanto?

quarta-feira, maio 31, 2006 11:01:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Caro Ventturi, compreendo a sua interpretação mas ela é isso mesmo, uma interpretação. As palavras da Prof.ª Fátima Bonifácio são o que são e querem dizer aquilo que dizem. Nem mais, nem menos. A Prof.ª Fátima Bonifácio falou em «analfabetismo» e não em «analfabetismo funcional», embora para o caso seja indiferente. E note que ela é uma investigadora e professora universitária exactamente na área das Ciências Sociais? Se fosse um aluno dela que dissesse um dislate avulso daqueles, o que é que ela não diria?
Compreendo a sua posição, mas se seguirmos esse raciocínio, as pessoas de que fala não votavam porque não têm qualquer consciência cívica... Está a ver onde isso nos levava, não está...
Ora se votam, mais facilmente podem - por certo a avaliação é facultativa - preencher uma ficha com alguns itens sobre o desempenho dos professores dos filhos...
Todos somos cidadãos de corpo inteiro: analfabetos, analfabetos funcionais e letrados...

quinta-feira, junho 01, 2006 7:34:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Pois é, cara Maloud... É-me vagamente familiar esse estilo a que chama «educado com alguma ironia à mistura» ;-)
Quanto ao estilo das caixas de comentários dos blogues, subscrevo e tb já por aqui perorei sobre isso, caso lhe interesse:
http://polisetc.blogspot.com/2006/04/acerca-do-anonimato-na-blogosfera-to.html
No fundo a grande diferença entre eles é se calhar apenas «formal»...

quinta-feira, junho 01, 2006 7:59:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro politikos, do meu ponto de vista, a sua comparação de uma simples votação (escolha com algum grau de incerteza) com uma avaliação de um docente, parece-me demasiado simplista. Uma avaliação incorrecta de um mau professor pode incentivar esse mau professor a continuar a sê-lo, em prejuizo de todos os alunos que pelas mãos dele passarem. Uma má avaliação de um bom professor, desmotiva-o e desvaloriza-o, e mais uma vez quem perde com isso são os alunos. E estou a cingir-me aqui ao ponto de vista estrito do interesse do aluno. Só por isso, não me parece pois que seja uma tarefa de tão pouca monta.

Um voto numas eleições tem sempre um grau de incerteza e de responsabilidade muito inferior, pois o cidadão vota em função da boa ou má informação que ele quís ou conseguiu assimilar das propostas dos candidatos, isto não ponderando sequer a seriedade das propostas.

Mas estou de acordo consigo no seu desejo de ver os pais a colaborarem na avaliação dos docentes, quando num futuro que esperaria próximo as condições assim o permitissem.

Deixe-me só apontar aqui uma pequena nota relativamente ao meu último comentário. Quado emitimos um parecer sobre um determinado assunto, muitas vezes nem nos apercebemos (e isto que eu digo é antes de mais válido para mim) que o fazemos influenciados pela realidade que nos é mais próxima, quando não mesmo o fazemos apoiados na nossa própria realidade. Nem nos apercebemos bem do erro de extrapolação que poderemos estar a cometer.

sexta-feira, junho 02, 2006 3:03:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Sr.ª D.ª Luar
Presumo que não queira dizer «tese» mas sim «regra». A «excepção» contraria a «regra», não contraria a «tese». Não vamos sequer entrar em delongas sobre as diferenças entre o método indutivo e dedutivo na formulação de teses... Isso levar-nos-ia longe e não carece, pelo menos neste contexto. Esta é apenas uma pequena precisão conceptual e metodológica, que julgo pertinente introduzir num quadro em que se discute a tecnicidade das avaliações... Se reparar, ainda, na minha frase está lá o advérbio «também», que é claramente modalizador...
Como tb já lhe disse, não se pretende que sejam os pais a avaliar «tecnicamente» - didáctica, pedagógica e cientificamente - os professores e os seus métodos de ensino, pretende-se é que os pais possam avaliar com base no senso comum… E para isso não é necessário ser-se docente…
Não colhem os seus argumentos sobre a especificidade da tecnicidade da avaliação docente por comparação com outros serviços… Dou-lhe um exemplo: ainda há uns dois anos, tive uma intervenção na instalação de gás na minha casa: foi lá a Lisboa-Gás que detectou o problema, uma empresa que fez a reparação, um instituto qualquer que certificou (ou seja, avaliou e avalizou a instalação do ponto de vista técnico) e em seguida eu preenchi um inquérito à qualidade do serviço efectuado… E não sou técnico do gás… É disto que falo, quando falo na avaliação docente…

sexta-feira, junho 02, 2006 6:51:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Caro ventturi
Quando acha que é mais complexa a avaliação de um docente do que a avaliação de um político - e vê nisto simplismo - acho que está tudo dito...
Não duvido que a minha posição seja condicionada pela minha própria realidade, isso é normal e acontece com todos... Mas eu não defendo só a avaliação docente, defendo a avaliação de todas as profissões...
Tudo pode e deve ser avaliado por todos... É esse um princípio essencial da cidadania...

sexta-feira, junho 02, 2006 6:56:00 da tarde  
Blogger maloud said...

Foi esse seu estilo educado com alguma ironia à mistura, caro Politikos, observado nas suas intervenções na GLQL que me conduziu aqui.
Antes de intervir, agora que me tornei mais cuidadosa, li alguns posts. E claro que não podia falhar o que tratava do anonimato na blogosfera. Essa coisa que ainda não percebi bem o que é. Como não sou mediática, tanto me faz usar o meu nome, aliás comecei assim, como o nick. O meu nome só tinha o inconveniente de eventualmente, como moro nas Antas que é um meio pequeno, muito bem delimitado, onde todos mais ou menos nos conhecemos, ter um "parceiro" de comentários a telefonar-me ou tocar à campaínha. Seria francamente desagradável.

sexta-feira, junho 02, 2006 10:29:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

A sua magnanimidade é conhecida, cara Luar, ademais para com os mais novos ;-) que esperam ansiosos a tal «liçãozinha» de hoje...

sábado, junho 03, 2006 11:26:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

E é muito bem-vinda aqui, Maloud, muito bem-vinda mesmo... Além disso, como não moro nas Antas, não há qualquer perigo de lhe tocar à campainha... ;-)
E com a conversa dos nick e dos nomes fiquei achar que se chama MAria de LOUrDes, veja lá para onde me levou o espírito...

sábado, junho 03, 2006 11:45:00 da manhã  
Blogger maloud said...

Grata pelo acolhimento.
Pois é! Foi assim que comecei e ainda lhe acrescentei o Delgado. Que ingénua que eu era em Fevereiro! Encontrei-me pessoalmente com gente que comentava no Espectro e continuo a trocar e-mails. Mas estes meus "amigos" escolhi-os bem. Nenhum é das Antas, nem do Porto.

sábado, junho 03, 2006 12:08:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Ah, começou no Espectro: bom baptismo... Espero que os horizontes geográficos dos seus bem escolhidos «amigos» cheguem à capital do Reino ;-)

terça-feira, junho 06, 2006 12:10:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Não se preocupe com essa parte dos pais e EE, meu caro... Dê é hipótese aos outros de participarem... Não temos nós tb 30 ou 40% de eleitores abstencionistas e vamos, por isso, acabar com a democracia?

terça-feira, junho 06, 2006 1:57:00 da manhã  
Blogger maloud said...

Os que ficaram são de Lisboa. Os outros, descartei-os ou descartaram-me. Afinal, fazendo o balanço, as escolhas só eram todas recomendáveis, porque não havia o risco do tlim-tlim.

terça-feira, junho 06, 2006 4:40:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Óptimo, cara Maloud, além do mais eu prefiro campainhas do modelo antigo, daquelas que fazem trrim, trrim... Prefiro-as às modernices do tlim, tlim... Não há perigo, portanto :-)

terça-feira, junho 06, 2006 11:07:00 da tarde  

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