Recepcionar não avilta a língua
Desafiaram-nos, as Krónikas Tugas, a pronunciarmo-nos sobre a correcção do verbo «recepcionar». A razão das Krónikas Tugas para não o aceitar era que, existindo o «receber», para quê o «recepcionar»? Para mim, essa não é uma razão atendível. Há o receber, que é mais simples, mas porque é que não há-de haver o «recepcionar», que é mais técnico? Quantas palavras sinónimas ou com sentidos semelhantes temos na nossa língua? Temos também, por exemplo, o «oferecer» e o «ofertar», que se usam indistintamente sem escandalizar ninguém.
A quantidade e a diversidade do léxico é que faz a riqueza da língua…
Indo ao «recepcionar», por mim está «recepcionado». Nunca uso mas não me repugna nada usá-lo ou passar a usar. A palavra está bem construída, atendendo ao radical de onde provém, a partir do qual se formaram muitas outras palavras. E é - parece-me - utilizada sobretudo em contextos técnicos e profissionais.
Quanto a dicionários, dos que consultei – quase todos os grandes dicionários, diga-se - só o da Academia já a inclui com o sentido que o tal locutor, citado pelas Krónikas Tugas, lhe dá. O que significa que já está dicionarizada com esse sentido. Nem sequer é só consagrada pelo uso. E, a meu ver, bem. Até porque a palavra já existe há muito. Só que foi evoluindo e ganhando novos sentidos. José Pedro Machado define-a, de forma sintética e breve, referindo apenas: «dar recepções». Entre um e um outro dicionário, complementados por outras fontes, atrevo-me até a avançar uma conjectura do que foi a sua evolução. Primeiro, começou por significar «organizar recepções», no sentido de organizar um evento, no qual se recebia conjunto de pessoas (um colectivo) de forma solene. Lembremo-nos das recepções nas embaixadas ou afins. Deve, depois, ter evoluído para a recepção a um conjunto de pessoas (ainda um colectivo) mas em ambiente menos solene, menos formal: profissional, de negócios ou mesmo em casa. Algo do tipo: «recepcionou os clientes no hall e encaminhou-os para o escritório, onde esperaram» ou mesmo individual «recepcionou o cliente x no hall e encaminhou-o para o escritório, onde esperou». Do «recepcionar» pessoas ao «recepcionar» coisas ou objectos, como cartas ou papéis, foi um passo… Penso até que a vulgarização da figura do(a) recepcionista também deve ter ajudado a que isto acontecesse. Os recepcionistas «recepcionam» pessoas mas também «coisas», objectos. A palavra foi-se, pois, popularizando e assim alargando o seu âmbito: das recepções solenes, para as recepções profissionais, das recepções de pessoas para as recepções de objectos…
É a língua a evoluir…
Indo ao «recepcionar», por mim está «recepcionado». Nunca uso mas não me repugna nada usá-lo ou passar a usar. A palavra está bem construída, atendendo ao radical de onde provém, a partir do qual se formaram muitas outras palavras. E é - parece-me - utilizada sobretudo em contextos técnicos e profissionais.
Quanto a dicionários, dos que consultei – quase todos os grandes dicionários, diga-se - só o da Academia já a inclui com o sentido que o tal locutor, citado pelas Krónikas Tugas, lhe dá. O que significa que já está dicionarizada com esse sentido. Nem sequer é só consagrada pelo uso. E, a meu ver, bem. Até porque a palavra já existe há muito. Só que foi evoluindo e ganhando novos sentidos. José Pedro Machado define-a, de forma sintética e breve, referindo apenas: «dar recepções». Entre um e um outro dicionário, complementados por outras fontes, atrevo-me até a avançar uma conjectura do que foi a sua evolução. Primeiro, começou por significar «organizar recepções», no sentido de organizar um evento, no qual se recebia conjunto de pessoas (um colectivo) de forma solene. Lembremo-nos das recepções nas embaixadas ou afins. Deve, depois, ter evoluído para a recepção a um conjunto de pessoas (ainda um colectivo) mas em ambiente menos solene, menos formal: profissional, de negócios ou mesmo em casa. Algo do tipo: «recepcionou os clientes no hall e encaminhou-os para o escritório, onde esperaram» ou mesmo individual «recepcionou o cliente x no hall e encaminhou-o para o escritório, onde esperou». Do «recepcionar» pessoas ao «recepcionar» coisas ou objectos, como cartas ou papéis, foi um passo… Penso até que a vulgarização da figura do(a) recepcionista também deve ter ajudado a que isto acontecesse. Os recepcionistas «recepcionam» pessoas mas também «coisas», objectos. A palavra foi-se, pois, popularizando e assim alargando o seu âmbito: das recepções solenes, para as recepções profissionais, das recepções de pessoas para as recepções de objectos…
É a língua a evoluir…
9 Comments:
Agora pergunto eu: e o que falta para "evoluirmos" do "recepcionista" para o "receptador"? Haverá alguma diferença?
lololol!Excelente kroniketas.
Até podem coincidir na mesma pessoa, meu caro. Como diz o outro, eu desde que vi um «porco a andar de bicicleta» ou um presidente do SLB ter sido sócio do Porto... Tudo é possível e não só na língua... ;-)
A língua é que os falantes e escreventes quiserem que ela seja, cara Luar. Por mim, e como não-especialista, se a palavra estiver lexicalmente bem formada, em princípio aceito-a... Se todos tivéssemos uma posição conservadora, de não abertura, não teríamos uma língua tão rica...
Um dia destes ainda vamos achar que está bem dizer "póssamos", "sêjamos" ou "tênhamos" ou "supônhamos". Se os falantes assim quiserem... Percebes-te o que disses-te?
Ninguém disse isso... Apenas se defende uma posição mais aberta em relação à língua...
Pois é, e junto a isso vem o ouvistes, fizestes, dissestes, etc. O que é que os impede de serem assimilados se muita gente os diz?
Estamos a entrar numa certa «deriva argumentativa»! Parece-me!
A questão é esta: onde é que está o limite para a criação de neologismos e para a assimilação de aportuguesmentos "a martelo"? Aí é que está o busilis...
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