6 de setembro de 2006

Pequenos sinais de declínio

Peço por empréstimo o título deste poste a um dos blogues da Pólis. Nele falou-se de bidés e de sanitas, de onde me sinto também legitimado para falar de casas-de-banho. No caso, de leituras de casa-de-banho. As ideias são assim, saem umas das outras (e esta havia ficado a germinar a propósito do uso da expressão oficial de liasion por mim usada no poste anterior e logo glosada em comentário pela autora do supracitado blogue). Tenho, desde há largos meses, no sítio atrás referido, um livro que me acompanha em certas permanências nessa divisão das casas da Pólis. O que aí leio é escolhido pelo seu carácter avulso. Algo que se possa ler a espaços, sem perder o norte. Neste momento, são as denominadas cartas secretas (o que se faz para vender livros), trocadas entre Salazar e Caetano, da autoria de José Freire Antunes. São cartas entre os dois homens, cujo único critério de organização é a ordenação cronológica, conveniente assim para ler aos pedaços. Muitos comentários me ocorrem relativamente ao que vou lendo, mas neste poste vou apenas salientar uma característica, comum à época, e hoje quase em desuso: o uso de galicismos. Deparei-me com um pequeno conjunto de cartas em que todas elas tinham um ou mais galicismos. Nelas não se vê (não tenho, pelo menos, memória) um único anglicismo e se existirem são muito poucos... A época era marcada pelo claro predomínio da cultura francesa. Hoje, se repararmos, acontece exactamente o contrário: sintoma do decréscimo de influência da cultura francesa, completamente pulverizada pela cultura anglo-saxónica... São pequenos sinais de declínio...

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3 Comments:

Blogger maloud said...

O declínio preocupante não está no abandono dos galicismos pela nossa classe política ou intelectual, mas por esse mal de vivre que facilmente se constata {maldito galicismo} na sociedade francesa. Uma sucessão de governos que navegam à vista, conduziu-a a um estado depressivo sem fim à vista.
E para nos rirmos, porque de tristezas andamos todos fartos, sabe, caro Politikos, que é politicamente incorrecto dizer-se Arabe ou Noir? Chamam-se personnes issues de l'imigration. Ou PII, como dizia o pobre que me atura sempre que algum se sentava na mesa ao lado no café. É que mesmo em férias não dispenso a esplanada matinal, não para o pingo, mas para a noisette.

quarta-feira, setembro 06, 2006 10:18:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

A questão é mais de logística, cara Luar, e menos de dignificação do espaço. É que os jornais e as revistas estão em constante renovação e implicam o transporte amiúde. Enquanto os livros podem apenas lá estar durante meses...
Quanto ao predomínio dos anglicismos sobre os galicismos é uma constatação de facto do declínio da influência da cultura francesa na cultura portuguesa: o ponto de vista do observador é aqui inteiramente pertinente e relevante e entre nós isso é muito visível: veja, por exemplo, o que aconteceu com a Alliance Française que deixou de ter «clientes»...

quinta-feira, setembro 07, 2006 9:08:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Pois é, minha cara Maloud, ainda permanecem alguns, de entre nós, de matriz francesa, que ainda usam e abusam dos galicismos mas é uma espécie em vias de extinção, dir-se-ia em linguagem de administração pública: «a extinguir quando vagar»...
Gostei dos PII: mas também por cá temos muitas expressões dessas. Aliás essa ditadura do politicamente correcto na linguagem é hoje transversal e já por aqui me tenho referido a ela. Há mesmo casos em que a designação perde de todo a verosimilhança.
Quanto às esplanadas são um dos meus sítios preferidos para estar à volta de um café e de um jornal, além de observatórios privilegidados do género humano, com a sua pitada de noisette ;-)

quinta-feira, setembro 07, 2006 9:16:00 da manhã  

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