Sofrimentos
Já por aqui tenho dito que ligo muito ao detalhe. Espero que com isso não perca the all picture. Na via rápida de acesso à Costa de Caparica, na álea de palmeiras que separa os sentidos da via, uma coroa de flores pendurada numa das árvores convoca-me alguns pensamentos. Nada mais, além das flores que naquela forma ali claramente destoam, nos indica o que se terá passado: um nome, uma data, um significado. Conjecturo um acidente, um morto jovem, uma mãe desesperada. A confirmar-se esta conjectura, aquelas flores estão ali a mais e deveriam estar no cemitério, honrando serenamente uma memória. Estando ali, significam apenas a incompreensão pelo sucedido e um luto que não se fez. E penso quanto sofrimento não existe visível e invisível na Pólis. Tenho por ali passado todos os dias desta semana e em todos não deixo de, por momentos, partilhar um pouco daquele sofrimento invisível...
3 Comments:
A propósito do seu post vi há uns anos, numa estrada nacional na Aquitaine, silhuetas recortadas, penso que em madeira escura, ora de adultos, ora de crianças a assinalar o local e a data das mortes. Era impressionante!
O que me mais me impressiona neste(s) caso(s) é o facto de a memória não ser venerada no cemitério onde no fundo estão os restos mortais da pessoa mas sim nos locais onde aconteceu(eram) a(s) tragédia(s), o que transporta a morte para uma espécie de dimensão crónica que nem o tempo consegue apagar... Se o corpo tivesse desaparecido, por exemplo, compreendia-se que o «culto» fosse feito no local onde desaparecera, assim, julgo que aquela morte nunca foi bem resolvida, nem o luto devidamente feito, e o sofrimento continua como no próprio dia da morte... São realmente inimagináveis certas «cruzes» que as pessoas carregam...
Aquilo que eu vi era mais uma chamada de atenção sepulcral, para os perigos das nacionais, apesar de junto a algumas silhuetas, assinaladas com datas mais recentes, haver flores. Um cemitério não seria tão triste, como aquela estrada em Dezembro com o céu carregado de nuvens.
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