14 de janeiro de 2006

Mais uma «bigodaça» na Justiça da Pólis?

Tivemos esta semana duas polémicas, uma «pequena polémica» e uma «grande polémica». Porém, ambas com consequências. Uma «pequena polémica», mas levada muito a sério pelas instituições da Pólis, sobretudo pelas judiciais, que aliás investigam tudo quanto é «bagatela». A «pequena polémica» foi a célebre «polémica dos bigodes». Alguém se lembrou – com inegável imaginação e humor – plasmar uns quantos bigodes em outros tantos outdoors de vários candidatos presidenciais. Com que intuitos? Não se sabe! Mas pelo menos fez-nos olhar para os candidatos, o que se calhar de outro modo não aconteceria. Alguns disseram que o bigode era um símbolo de seriedade e de honestidade. Eu li aquilo como sendo uma forma de nos mostrar que os candidatos são todos iguais, normalizando-lhes a aparência, através do tal adereço capilar. Só por nos pôr a pensar e permitir diferentes leituras, os bigodes valeram a pena. Os bigodes – que eram autocolantes - apareceram em várias artérias centrais de Lisboa, do Cais do Sodré ao Saldanha, passando pelo Príncipe Real. Parece que escaparam os cartazes de Manuel Alegre, alegadamente por esse já ter barba e bigode. Os outros também já têm «barbas», diga-se. Bem, mas isso é outra história. Mas desta história, o disparate é outro. São as suas consequências. Primeiro, o Correio da Manhã, de quinta-feira, chamava-lhes «cartazes vandalizados». Vandalizados: mas foram arrancados, rasgados ou pintados?! E depois, a Comissão Nacional de Eleições parece que remeteu o caso para o Ministério Público (MP) para investigação. Mas investigação de quê? Será que vai haver magistrados, cujos vencimentos oscilam entre os 2355,87€ e os 5498,55€, a investigar o caso dos «bigodes autocolantes»?!
Uma segunda polémica, a tal «grande polémica», está aparentada com esta – embora não pareça. Diz respeito às escutas telefónicas a detentores de altos cargos públicos: o 24 Horas chamava-lhes «altas personalidades do Estado». Tudo rapaziada com mais de 1,80m, presume-se. Dizia-nos o dito jornal, de ontem, que, no âmbito do processo Casa Pia, a Portugal Telecom teve sob escuta 208 telefones particulares, nos quais se contavam os do Presidente da República. Parece que nenhum juiz autorizou as escutas. E ainda por cima não se percebe qual a relação dessas escutas com o caso Casa Pia. O PR chamou Souto Moura a Belém e este vai instaurar um inquérito «tão rigoroso quanto possível». Palavras sábias, essas. Daqui a uns meses conhecer-se-á certamente uma qualquer resposta gongórica e inconclusiva. Porquê e para que é que o MP fez essas escutas? Essa é a pergunta que deve ser respondida?!
Independentemente das motivações: o MP anda a investigar o que não deve: os «bigodes» dos cartazes e os telefones do PR. Mas deveria era investigar as razões pela quais se fizeram essas investigações: uma e outra. Uma, a primeira, pelo ridículo e pela falta de bom-senso dos magistrados do MP que «pegam» naquilo. Outra, a segunda, espera-se – a bem do Estado de Direito - que apenas pela falta de bom-senso dos ditos magistrados. Os dois casos demonstram apenas o carácter acéfalo a que chegou a investigação criminal em Portugal. Apenas e só.

4 Comments:

Blogger Curiosa said...

Não conhecia essa história, mas por acaso até ficam com ar castiço de bigodes... Deve ter sido um qualquer esquadrão G que lhes quis mandar a mensagem de mudarem a imagem que estamos fartos do que vemos...

sábado, janeiro 14, 2006 12:39:00 da tarde  
Blogger Orlando said...

Porque é que a notícia apareceu esta semana?
Não será para permitir ao PS discutir o nome do novo PGR com Sampaio e não com Cavaco?

sábado, janeiro 14, 2006 6:23:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Não vou tão longe, caro On. Até porque penso que este episódio não levará à exoneração do PGR. Há incompetência da PT e do MP, em doses iguais. O Governo teria então tb - por maioria de razão - de demitir o presidente da PT. Além disso, o PGR não sai pelo seu próprio pé. Esta gente da Justiça - lá do alto das suas becas, togas e afins - nunca erra, nem nunca se sentem compelidos a fazer o seu «mea culpa». O homem irá arrastar-se e ao MP até ao final do seu mandato... Espera-se que seja rápido... Fundamentalmente urge reequacionar a organização do poder judicial e o modo como é feito o seu controlo. É o único dos poderes que praticamente não é controlado. Não é possível continuarmos como até aqui...

sábado, janeiro 14, 2006 8:34:00 da tarde  
Blogger /me said...

Eu gosto mais de os ver de bigodaça... Assim como assim, sempre ficam diferentes.

terça-feira, janeiro 17, 2006 3:21:00 da tarde  

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