Brideshead na Lapa
A voragem do dia-a-dia deixa-nos pouco tempo para meditar, para nos encontrarmos connosco ou simplesmente para relembrar o passado.
Porém, há certas imagens que são graficamente tão poderosas que nos forçam a reencontrarmo-nos com esse mesmo passado.
Aconteceu-me, esta manhã, na Lapa, em Lisboa, na rua do mesmo nome, onde uma velha drogaria, intocável no seu interior desde há algumas dezenas de anos, ainda sobrevive no tempo dos super e hipermercados. As madeiras escuras e vividas dos armários, as vassouras penduradas por cima do balcão, os detergentes, as ceras e afins em vasilhas para venda avulsa, julguei até vislumbrar boiões de perfume com os rótulos manuscritos para venda a retalho. O dono, e simultaneamente único empregado, de bata branca e um certo porte, apesar de encostado ao balcão, aguardava os clientes.
Foi um momento fugaz, mas suficientemente forte para me transportar até à minha infância e, por momentos, vi-me pela mão da minha mãe a comer uma arrufada na padaria da esquina…
Porém, há certas imagens que são graficamente tão poderosas que nos forçam a reencontrarmo-nos com esse mesmo passado.
Aconteceu-me, esta manhã, na Lapa, em Lisboa, na rua do mesmo nome, onde uma velha drogaria, intocável no seu interior desde há algumas dezenas de anos, ainda sobrevive no tempo dos super e hipermercados. As madeiras escuras e vividas dos armários, as vassouras penduradas por cima do balcão, os detergentes, as ceras e afins em vasilhas para venda avulsa, julguei até vislumbrar boiões de perfume com os rótulos manuscritos para venda a retalho. O dono, e simultaneamente único empregado, de bata branca e um certo porte, apesar de encostado ao balcão, aguardava os clientes.
Foi um momento fugaz, mas suficientemente forte para me transportar até à minha infância e, por momentos, vi-me pela mão da minha mãe a comer uma arrufada na padaria da esquina…
Etiquetas: Pessoais, Sociologia
9 Comments:
Quando cheguei do hipermercado do Plano de Pormenor mais badalado do país, li o seu post, caro Politikos.
De vez em quando há um flash, que nos leva à infância. Os meus levam-me sempre ao meu pai e à minha avó materna do Douro e, ainda ao meu irmão, 3 anos mais novo que eu. Nunca me mostraram a minha mãe. E, no entanto, ela mora a 300m, é uma excelente contadora de histórias, em que normalmente é a protagonista e tem um humor espantoso, para os seus quase 80 anos.
Pois é, cara Maloud, tem de me descodificar essas referências urbanísticas: as minhas estão mais a sul (como sabe)...
Quanto aos flash, é assim a vida, mas não deixa de ser curioso surgirem, do meio do nada, numa vida de constante correria, momentos destes...
Ai as referências urbanísticas do Porto! Lembra-se, caro Politikos, da 1ª eleição do Rio? Aquele senhor que fez a alegria dos putativos 6 milhões de vermelhos e de 3 milhões, nas doutas palavras do dr. Roquette, para quem o mundo é verde? Pois é! Mal tomou posse deu-nos uma visibilidade nunca antes tida. Eram directos, atrás de directos, porque as TVs salivam com episódios picantes. E o piri-piri estava todo concentrado no Plano de Pormenor das Antas, da autoria do arq. Manuel Salgado. Mas isto era só a fachada. Por trás estava o FCP e o Pinto da Costa. Tenho a certeza que de repente, se fez luz. O nome Pinto da Costa é o interruptor que ilumina rapidamente a memória. Agora, se quiser, um dia que venha ao Porto, eu faço-lhe a visita guiada ao campo, onde o Rio perdeu a batalha, ao contrário do que foi noticiado pelas agora tão faladas agências de comunicação. Nestas coisas é bom ir in loco verificar. E é in loco, que desde há um ano eu faço as compras semanais.
Agora não me venha fazer o elogio do Rio, feito hoje comendador de qualquer coisa. Já que o apreciam tanto, levem-no. A gente agradece.
Cara Luar
Aqui está um caso, de honestidade formal irrepreensível. Acima de qualquer suspeita. Mas Deus nos livre de sermos governados pelo senhor "só eu sou honesto". Íamos ao fundo em dois tempos, como o Porto está a ir.
Pois, cara Maloud, estou muito longe, muito longe mesmo do que se passa com o Plano de Pormenor das Antas... Aliás não vou para essas bandas há mais de 20 anos... Creio mesmo que para essa zona só fui uma vez, quando ainda praticava desporto jogar num pavilhão que não sei se ainda existe, chamado das Cavadas... Enfim, coisas antigas... Mas agradeço-lhe a sua oferta de cicerone (prometo que não lhe toco à campainha ;-)
Não faço elogios ao Rio (até já o critiquei numa «cartita» para o Expresso há mtos anos: não faço só «cartas de reclamação quando me pisam os calos», citando certa pessoa - olá Luar :-P), fique descansada, mas menos elogios faço ao Pinto da Costa... Não há por aí uma torre gigante do FCP que agride toda a volumetria da zona?! (falo de cor, cara Maloud, como lhe disse sei pouco da coisa)
Há a torre, há. Mas não é do FCP. Foi feita em terrenos do FCP, com capitais de outro comendador, muito amigo do Eanes. É lá que está a Loja do Cidadão. Por acaso a mim dá-me jeito, porque me permite ter sol no lado nascente do apartamento, durante a tarde. Os espelhos refectem-no.
Agora o PPA não tem nada a ver com a dita torre. Quando e se vier cá, eu mostro-lhe. Se não quiser tocar à campaínha mande um pombo correio ou faça sinais de fumo. Eu perceberei e desço. Pode vir sem receio. Nós, os dragões, não comemos criancinhas ao pequeno-almoço e nem todos sabemos manejar o very-light.
Quanto ao Pinto da Costa não me pronuncio. Não costumo falar dos vizinhos ou dos ex-vizinhos, e é nessa qualidade que o conheço.
Sim, sim, essa torre é linda... tb cá temos as Amoreiras, que por acaso eu não desgosto mas acho que têm pisos a mais... Acho que aqui há uns anos veio cá - creio que o rei da Suécia - e disse ao Sampaio ou ao Soares, ao ver Lisboa do rio Tejo: «é uma cidade linda mas é uma pena não podermos varrer aquelas torres com um canhão...»
Quanto ao pombo-correio e aos sinais de fumo e calculando que a minha cara, apesar de info-excluída até há bem pouco tempo, tem tm, eu dou-lhe um toque... É mais higiénico e eu ando com aversão a pombos que me sujam (ia a dizer «c...», que até é mais apropriado) o carro todo aqui na zona...
Ah, e eu que pensava que a Maloud era uma livre pensadora, afinal descubro que tem por aí umas vacas sagradas de que não fala (o seu vizinho ou ex-vizinho :-)
Caro Politikos, quanto ao meu vizinho agora não dá. Acabei de ver Portugal-Angola e ainda estou "apardalada". Eu gosto de futebol ,eu vejo futebol desde que nasci e percebo de futebol. Imagine o estado catatónico, em que me encontro. Como o meu vizinho mete futebol...falamos depois. O Politikos fala verde, e eu falo azul. Com jeito dá amarelo. Temos de concordar que uma bandeira com essas cores era mais tragável, que o trapo nas janelinhas e varandinhas e marquisezinhas.
A torre é uma obra-prima ao lado das Amoreiras. Parecido, embora mais soft, existe perto do Campo Alegre, no outro lado da cidade. E essa monstruosidade é que é ilegal e devia ser destruída a tiro de canhoeira, até porque se vê do Douro. A daqui não se vê.
Claro que tenho tm. Embora fosse info-excluída, o que me atura faz muita questão de me dar todas as modernices electrónicas, mal elas saem. Digamos que sou uma veterana do tm. E nós aqui também nos temos de defender dos pombos e das gaivotas. Há dias a minha mãe deparou-se com um ninho com os ovinhos no peitoril de uma janela. Telefonou-me toda excitada a dizer que o Correia de Campos tinha transferido a maternidade de Elvas, para casa dela. Não lhe disse já, que é cheia de humor?
Uma bandeira azul e verde? Chiça! Já a minha avó dizia: azul e verde, ranho em parede. Com jeito, o azul e o amarelo é que dão verde, não o inverso...
Calma, Kroniketas, que para já não se pensa em tirar o vermelho da bandeira, embora os designers das camisolas da selecção já o tenham transformado naquela espécie de roxo... E como sabe o vermelho é uma cor primária, é necessário misturar-se para perder esse primarismo e ganhar a variedade e a sofisticação da paleta do arco-íris... E bandeira por bandeira, extraindo a simbologia a ela associada, há que convir que a monárquica era bem mais bonita...
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