É cultura, senhores!
Estamos habituados a ver cortes de estrada ou de linhas férreas por causa de reivindicações locais: construção ou melhoramento de estradas, contra a instalação de indústrias poluentes, etc. Estamos habituados a ver ocupações de igrejas por litígios com os respectivos curas. Estamos habituados a ocupações de empresas para defender os postos de trabalho. Estamos ainda habituados a ocupações de universidades ou de escolas devido às propinas, ao estado de conservação ou a qualquer outra razão de carácter material. Tirando a religião, assunto da esfera individual mas que sobretudo no Portugal rural ainda ocasiona este fenómenos, em todos os outros casos estão em causa bens essenciais, bens materiais: vias de comunicação, saúde pública, postos de trabalhos, ou então apenas o vil metal. Porém, hoje, fomos surpreendidos por uma ocupação de um teatro, o Rivoli, no Porto, por se temer a sua entrega a privados e a consequente adopção de uma política estritamente comercial. Ainda por cima, parece que o protesto terá sido espontâneo. No final da sessão, os actores desafiaram o público e umas dezenas de pessoas aceitaram barricar-se, fechando-se a cadeado e exigindo ser ouvidas pela autarquia. Confesso que acho que, pelo que está subjacente a este acto, que não é dinheiro, que não é um bem básico, que é um bem do espírito: cultura, ainda há algumas razões para acreditar na Pólis.
Etiquetas: Cultura, Sociologia
2 Comments:
Os protestantes, ao que parece, vivem dos subsídios públicos. O porta-voz pertence ao "Teatro Plástico", que, de acordo com o que fui lendo, tinha uma média baixíssima de espectadores. A introdução de alguns critérios de sucesso comercial faz-lhes temer o pior, como é óbvio. Dizer que, subjacente ao acto, não está o dinheiro no bolso de cada um é um pouco como acreditar no Pai Natal. Eu, por exemplo, estou sempre interessado em saber onde é que o dinheiro que pago em impostos está a ser usado e com que fins e resultados. O dever de prestar contas por partes de agentes culturais está ausente dos seus projectos. Querem autonomia, mas sem responsabilização para com o financiador. É essa atitude que urge mudar.
Bom, caro Pedro. Na verdade, já não acredito no Pai Natal, mas também não vejo só cifrões em tudo (a bem dizer já nem sei sequer se os cifrões ainda existem...). Penso que tb saberá quanto representa a cultura no conjunto OE! Talvez aí perceba que tem muitos outros sectores com que se preocupar com o que fazem do dinheiro dos seus impostos...
Se aplicar esses tais critérios comerciais de forma estrita a tudo, deixa de ter sector cultural (o mesmo para o sector social, p. ex.): é que tudo dá prejuízo, tirando os espectáculos do La Féria...
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