20 de outubro de 2006

«Descrição» na acção...

Não há, em matéria de Língua Portuguesa, jornais ou revistas de referência e é pena. Se existirem contas mal feitas, aqui d’El-Rei, mas se existirem erros crassos e grosseiros de ortografia ou de sintaxe, who cares. É este o espírito geral. Tolerância 0 - ou 8 - nos números, tolerância 80, nas letras. Há menos de um mês, Fernando Venâncio (FV), escrevia no Aspirina B o poste A senha anti-portista. A um comentário meu que, em matéria de Língua Portuguesa, nivelava todos os periódicos pela mesma bitola e não conseguindo encontrar um único que pudesse dizer de referência, FV, que nunca foge a respostas directas, retorquiu :

«[...] a “Visão” permite poucas observações desse tipo a um linguista, já que os textos acabam varados pelo olhar exigentíssimo do director executivo (a designação lê-se no cólofon) Daniel Ricardo. Aí tem um periódico ”e referência”. Parece óbvio: para o linguista não tem piada nenhuma.»

Não concordando com FV mas, prezando a sua opinião, como linguista e sobretudo como alguém que escreve muitíssimo bem, redobrei a atenção. Não tardou, pois, menos de um mês, que não visse surgir um bom exemplo que deita por terra a tese de FV. Nesta semana, num artigo de Tiago Fernandes, acerca do novo Procurador-Geral da República, pode ler-se:
«Terça-feira, porém, disponibiliza-se apenas para uma curta sessão de fotografias e, quiçá já embuído do repto "descrição na acção" que o Presidente da República lhe pediu, recusa-se a prestar qualquer declaração.»

Não será difícil nesta matéria- parece-me - coligir, nos próximos números, outros exemplos semelhantes. Apetecia-me dizer que «a procissão ainda vai no adro», ou na curiosa recreação do editorial da Visão, ainda desta semana, «a festa ainda está no adro»...

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5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos, está seguro de que o repto do nosso PR foi no sentido de maior «reserva» na atitude e não no sentido de maior «transparência» na acção? Uma e outra hipóteses são possíveis, creio, no que diz respeito à conduta geral da Procuradoria Geral da República.
P.S.: Claro que é um erro grave. Concordo em absoluto consigo: não há periódico, nos dias de hoje, como quase não há noticiário em que não se dêem umas machadadas, mais ou menos «discretas», na língua. Já não há instruções primárias como no «nosso» tempo!...

sexta-feira, outubro 20, 2006 11:30:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Bem, cara Luar, se fosse «Descrição na acção» ainda era mais grave, porque o erro passava a ser do nosso PR e do seu staff. Está lá um pronomezinho, caríssima, e não uma preposição... Porém, este é um erro de simpatia, nem sequer particularmente grave, a meu ver. O que se quis mostrar é que não há efectivamente publicações de referência nesta matéria, simplesmente porque não têm ou não investem devidamente nos copidesques. Quanto às instruções primárias, apreciei que se tenha chegado ao «meu», perdão ao «nosso» tempo... Não há crise, cara Luar, eu deixo-a lá ficar... ;-)

sábado, outubro 21, 2006 3:58:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Agradecida!

domingo, outubro 22, 2006 10:37:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos,

Bem visto. Mas nesse caso - e se você copiou bem - há mais um erro: «embuído» por «imbuído». Isso torna as coisas ainda mais graves.

Percorri a Visão de 19.10, mas você poderá referir-se à anterior.

Pode confirmar o segundo erro e a data?

Obrigado e abraço.

segunda-feira, outubro 30, 2006 5:48:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Caro FV
Clique na imagem e verá. Estão lá ambos. Quanto ao segundo erro que aponta, só não fiz referência a ele, porque o objectivo do poste era apenas chamar a atenção para um erro semântico, do tipo «sanha» e «senha», e não para um vulgar erro ortográfico. Erros do tipo do «embuído», que eu valorizo bem menos, mas que são igualmente inadmissíveis numa época em que até o Word possui um bom corrector ortográfico, ainda lhe arranjaria uns quantos mais e nem teria precisado de esperar um mês…
A revista é a n.º 710, de 12 a 18 de Out., p. 58. Se quiser escreva-me para o mail do Pólis&etc. que lhe mando a página inteira digitalizada.
Por sua vez, o poste, A cereja no cimo do bolo aborda um erro que nem sei como o qualificar e apenas o apontei por ocorrer na semana seguinte e ser realmente uma enormidade… Será difícil – penso - chamar-lhe gralha… É que para tudo há um limite e o «dêm», meu caro, brada realmente aos céus…
Fica a dever-me, já sabe, a tal cerveja! ;-) Nunca se sabe se não nos cruzaremos por aí numa qualquer esquina da Pólis… É que a Pólis é efectivamente muito pequena…
Um abraço
P.S. – E tendo, o meu caro, esgotado os superlativos com o «exigentíssimo Daniel Ricardo», que qualificativo me estará, então, reservado, não me diz… :-) :-) :-) :-)

quarta-feira, novembro 01, 2006 12:18:00 da manhã  

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