19 de novembro de 2005

O «bué» e outras considerações…

Ora bem, este «post» começou por ser uma resposta ao comentário das Krónikas Tugas no «post» anterior. Mas foi-se compondo e acabei por elevá-la à dignidade de «post», por ter – a meu ver - matéria que o justifica. Quanto ao «cavalheiro» e ao «bacalhau com batatas», presumo que a dúvida das Krónikas se prenda com a origem das palavras e não com a sua escolha, por mim. Ela foi aleatória e ao «correr» das lembranças. Podia ter pegado no «chocolate» e no «cacau», de que as Krónikas são apreciadoras, ou noutras quaisquer palavras. Saíram aquelas. Se assim for:

«Cavalheiro» vem do castelhano «caballero» (JPM-Etimol., II, 103);
«Bacalhau» é de origem obscura mas virá talvez (de acordo com Piel) do
neerlandês;
«Batata» vem do idioma taino, da ilha de S. Domingos (JPMachado-Etimol., I, 402).

Quanto ao «bué», e já agora ao seu superlativo «buereré», logo calculei que estas palavras fossem aberrações para as Krónicas Tugas. Apesar de tudo, aberrações consagradas pelos dicionaristas (v. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, vulgo da Academia, I, 592). O «bué» inclui-se num lote de palavras que resultam das influências dos diferentes dialectos «crioulos» em Portugal. E isso devido à forte presença entre nós de comunidades dos antigos países de expressão oficial portuguesa.
O que eu acho é que também na Língua deve imperar a tolerância. A «contaminação» linguística – aplico a palavra sem qualquer sentido pejorativo – é inevitável e até desejável. A integração de vocábulos só cria pontes entre as culturas. Não as afasta. Além disso há «registos» para tudo. Não me choca o «bué» num registo oral, informal, e mesmo em alguns contextos escritos.
A Língua é um importante factor de identidade e de aproximação dos povos. Atitudes intolerantes, também nesta matéria, só podem gerar situações como as que recentemente se viveram em França (talvez não seja por acaso que tal tenha ocorrido em França e não noutro país: lembremo-nos da proibição do «véu» por decreto). Dir-se-á que a questão do «bué» é uma situação pequena. Parece-me, porém, que se virmos para lá da «espuma das ondas», ela não é tão pequena como isso…

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Então e merda? E porra? E foda-se? Também constam do dicionário da língua contemporânea?
O que me parece é que se está a misturar o calão com a língua coloquial, se assim se pode chamar. Se se aceita o "bué", porque não o "ya"?

domingo, novembro 20, 2005 12:35:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Claro, meu caro. Todas essas palavras fazem parte da nossa Língua. Apenas difere o contexto no seu uso. São inclusive «boas», antigas e respeitáveis palavras. «Foda-se» provém do verbo «foder», que vem do latim «futuere» (Acad., I, 1778); «Merda» também vem do lat «merda» (II, 2442-2443) e por último «Porra» também lá consta (Acad., II, 2913). Não me diga que você nunca as usou?!

domingo, novembro 20, 2005 2:20:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Claro que sim. Mas enquadro-as no calão, e aí é que está a diferença.
Mas isto vai merecer um post a respeito de...

domingo, novembro 20, 2005 11:33:00 da tarde  

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