6 de dezembro de 2006

Vizela, Galba & as FA

Assisti ontem a grande parte do programa Prós e Contras sobre a situação actual das forças armadas. Infelizmente, o debate centrou-se em demasia sobre as reivindicações sindicais e a recente manifestação-passeio e menos sobre o paradigma das forças armadas. Presentes vários antigos chefes militares que, tirando uma bravata sem sentido do general Vizela Cardoso, que rematou uma declaração com uma frase de Tácito sobre o erro do imperador Galba em não ter pago o soldo aos militares – curiosamente a verdade histórica até acaba por contradizer o sentido que o general Vizela Cardoso lhe quis dar: é que Galba, ele mesmo general, se recusou a pagar a recompensa prometida à guarda pretoriana exactamente devido à crise das finanças públicas romanas - demonstraram genericamente, a meu ver, e lendo as declarações por debaixo das reivindicações corporativas, um apreciável sentido cívico. E não deixei de ligar isto ao doutoramento recente do general Ramalho Eanes que, num gesto de humildade cívica, se submeteu a provas públicas numa universidade. Não me parece haver grandes dúvidas de que, apesar de tudo, um e outro episódios, e descontando alguns epifenómenos, são sintomas de uma democracia adulta nesta nossa Pólis.

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos, para mim, o que há é uma tropa pouco amiga das armas e demasiado imbuída do espírito do funcionalismo público (no mau sentido desta última expressão). Não sei se essas são as características da tropa num regime democrático adulto.

sexta-feira, dezembro 08, 2006 2:20:00 da tarde  
Blogger q.b. said...

Creio, caro Politikos, que a Luar tem razão. Há um aparente relaxamento na nossa tropa, uma falta de brio e de espírito de missão, que não se verificam nas forças armadas de países com velhas tradições democráticas, como a Inglaterra, a França e os EUA. O Ramalho Eanes é um bom exemplo daquilo que não são, normalmente, os portugueses e, especialmente, a sua classe política. Ao rejeitar tratamentos de excepção, constitui o que julgo ser um caso raro, senão único, na nossa «madura» democracia.

sexta-feira, dezembro 08, 2006 2:24:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por acaso, cara q.b., há quem ache que o estado de desmotivação que reina nas nossas forças armadas se deve ao tratamento mesquinho que os Governos democráticos lhes têm dado, primando por orçamentos curtos que impedem a actualização mínima do seu «aparelho». E que tal facto não prestigia a nossa imagem internacional.

sexta-feira, dezembro 08, 2006 2:45:00 da tarde  
Blogger q.b. said...

Talvez sim, talvez não, Luar. A questão é que, na Europa das opções ultra-pacifistas, porventura um tanto cobardes, de que Portugal é membro de pleno direito, as forças armadas têm um papel menor – se é que têm algum – a desempenhar. O desprestígio é relativo.

sexta-feira, dezembro 08, 2006 2:47:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Vejo que as caríssimas Luar e q.b. têm andado muito entretidas na minha ausência, dialogando animadamente uma com a outra e ainda por cima encontrando plataformas de mútuo entendimento. Sim, senhor! Não pode, pois, um blogger ausentar-se que quando entra encontra animadas pelejas entre os poucos comentadores do Pólis&etc.
Porém, permito-me discordar do que foi dito:
1.º As nossas forças armadas têm cumprido com brio e profissionalismo as missões internacionais que, no âmbito da ONU e da NATO, têm desempenhado e com elogios de toda a parte;
2.º O Ramalho Eanes é, de facto, um bom exemplo, mas não é único; há gente muito responsável nas FA: vejam naquele debate as posições do Loureiro dos Santos ou do Vieira Mathias, por exemplo; claro que há sempre os outros, como o Vizela Cardoso, mas parecem-me ser uma minoria e ninguém os levar muito a sério, porventura nem eles próprios; além disso os exemplos que citei é de gente culturalmente preparada e não apenas de «pessoal de caserna»;
2.º As FA têm efectuado uma notável reestruturação a caminho da profissionalização e da existência de um corpo pequeno, mas bem preparado, e assim tem de continuar;
3.º Os governos não têm tratado assim tão mal as FA; ao nível do equipamento; as coisas estão mesmo - parece-me - melhores do que alguma vez estiveram: têm consciência do que era o equipamento bélico português no período da guerra colonial?

sexta-feira, dezembro 08, 2006 8:30:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A moeda de Galba, que foi morto pela sua guarda, está muito mal conservada.
Desde o início deste regime que as FA´s estão em reestruturação, vão ficando sempre mais pequenas , sem missões fora dos quarteis, onde todos os lugares foram papados pelos boys dos partidos , mesmo quando não têm preparação nenhuma para o seu desempenho.
O que é um facto é que a defesa do país está por fazer como se comprova várias vezes ao ano pelas cladestinas intrusões das fronteiras.Isso não preocupa os políticos que diga-se NADA PERCEBEM do assunto , nem querem perceber.Só querem que amalta fique o mais baroto possível e não dê nas vistas...
Estamos em fase acelerada de africanização!

domingo, dezembro 10, 2006 6:10:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Bem, caro anónimo:
1.º A «moeda» de Galba está de facto está muito mal conservada: mas só a que ilustra o poste;
2.º Não sei a que missões fora dos quartéis se refere, mas decerto que não são funções militares; note que com a mescla entre civis e militares só há ganhos: para uns e para outros; veja o que acontece com proveito mútuo - parece-me - no IDN;
3.º Quanto às intrusões clandestinas nas fronteiras tb não sei bem a que se refere neste nosso espaço aberto e essas funções são - ao que sei - da competência da GNR (que aborveu a Guarda Fiscal) e não das FA; retiro daqui as fronteiras marítimas, é claro;
4.º A questão do sair «barato» é - infelizmente - comum a vários ramos do Estado e mesmo dos políticos que estão - a meu ver - muito mal pagos;
5.º Com novas fragatas, novos submarinos, novos helicópteros, novo armamento, parece-me um bocado excessivo falar de «africanização».
Faço já aqui um «mea culpa» prévio por alguma asneira que eventualmente tenha dito; falo apenas como cidadão da Pólis, razoavelmente atento ao que se passa à sua volta. Volte sempre.

domingo, dezembro 10, 2006 11:16:00 da tarde  

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