O gesto não é tudo
Na quinta-feira, ao chegar a casa, a con(sem)sorte informou-me: «o Pinho demitiu-se, porque fez umas orelhas de burro ou não sei quê no Parlamento»?! Ao ver as imagens, vi que aquilo eram cornos e não orelhas de burro. Mas não lhes percebi gravidade de maior. Achei que ele estivesse a chamar teimoso/casmurro a quem quer que se estivesse a dirigir. Algo do género: «está(s) a marrar para aí». Seria pouco delicado, mas nada de inusitado num Parlamento ainda com uma truculência argumentativa e tiques de linguagem de século XIX.
Nessa noite, com o ministro a ser entrevistado em directo por Ana Lourenço, na SIC Notícias, pensei que iria ficar esclarecido sobre a coreografia do gesto. Mas nem um sussurro sobre isso. Diz-se que terá chamado cornudo ao deputado visado, a suprema ofensa ao macho luso. E se assim foi subiu pelo menos um tom na escala já que o costume é usar o tradicional cabrão. E também subiu pelo menos um tom na escala com a coreografia do gesto, porque o normal é simular os cornos com uma mão, usando polegar e o mindinho, o que esteticamente é mais feio, porque os cornos ficam desiguais em grossura e comprimento... O gesto de Pinho é, por isso, esteticamente bastante mais feliz e de mais difícil execução: primeiro porque usa as duas mãos, o que faz com que os cornos fiquem iguais, simétricos e no sítio onde é suposto estarem – ao lado da testa – e depois porque ainda deixa perceber as orelhinhas do boi, simuladas pelos polegares... Um must...
Talvez ainda veja isto bem explicado num programa de várias horas juntando intérpretes de linguagem gestual, psicólogos, especialistas em comunicação...
Talvez ainda veja isto bem explicado num programa de várias horas juntando intérpretes de linguagem gestual, psicólogos, especialistas em comunicação...
P.S. - Esclareço que usei os termos cabrão, cornudo e cornos, apenas colocando itálico em cabrão por ser um palavrão; as restantes duas são boas palavras portuguesas usadas em diferentes contextos... É que estou um bocado cansado de ouvir toda a gente, mas é mesmo toda a gente que comenta o caso - inclusive os spin doctors mais ilustres da nossa praça - ou não nomear o gesto ou nunca falar em cornos, falando, porém, em corninhos, que por serem pequeninos certamente parecem melhores... Ao menos digam chifres, que era o que me diziam quando eu era pequeno, ou desenterrem o bom vernáculo e chamem-lhes chavelhos...
Etiquetas: Jornalismo, Parlamento, Políticos
1 Comments:
O gesto não é tudo mas significa muita coisa. Vejam o artigo relacionado com a promiscuidade entre Dinheiros público e Interesses privados no blogue O Flamingo.
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