Democracia ou ditadura da maioria
A humildade democrática e cívica não se decreta, tem-se e usa-se no exercício do poder. E o PS usou-a na conclusão do caso da nomeação do provedor de Justiça. Ontem, assistimos ao anúncio do acordo ser feito por Paulo Rangel ao lado de Alberto Martins, cabendo ao primeiro o elogio a Alfredo de Sousa. Esse pormenor, politicamente relevante, deve inclusive ter feito parte do acordo. O tom assertivo de Rangel e o ar contristado de Alberto Martins não deixaram grandes dúvidas de que o PS saiu politicamente derrotado desta peleja. No entanto, é uma derrota que o prestigia e não o diminui.Segundo consta, o PS na atitude do costume decidiu apresentar sem diálogo com o PSD o nome de Jorge Miranda. Não se articulou com o PSD e precisava do PSD para isso, já que a nomeação do provedor é feita por 2/3 dos votos. A maioria é absoluta mas há pormenores democráticos que felizmente precisam de mais do que 50%. Porventura deveriam existir mais…
O PSD cismou, fez finca-pé e não chegou a acordo. O PS persistiu no nome e sujeitou Jorge Miranda a apresentar no Parlamento uma candidatura ao cargo quando sabia que o problema não era tanto o nome de Jorge Miranda mas sim a sua própria atitude. Jorge Miranda não percebeu e sujeitou-se a isso, tendo depois de sair da liça pela esquerda baixa. Ou teve mais ambição pessoal do que leitura política. É possível!
Pelo meio tivemos o que se sabe, com o provedor cessante a bater com a porta e com candidatos de vários partidos a apresentarem as suas propostas para o lugar. Acabámos com a nomeação de Alfredo José de Sousa indicado para provedor ou mediador do crédito, como seria mais lógico atento o seu currículo, para provedor de Justiça.
Esteve bem o PSD ao persistir e obrigar o PS a ir ao tapete. Esteve bem o PS em deixar-se ir ao tapete, resolvendo um caso que ele próprio criara. Para o jogo democrático, é bom que o PSD saiba que este esticar da corda não é para usar sempre e que o PS aprenda a dialogar mais. É que o regime é uma democracia, não é uma ditadura da maioria.
Etiquetas: Democracia, Estado, Parlamento, Partidos, Políticos
6 Comments:
Não tire conclusões olhando e ouvindo o Paulo Rangel e o Alberto Martins. São personalidades totalmente diferentes.
Então e tiro conclusões analisando o quê? Se só tenho acesso à imagem e às declarações dos personagens, só posso avaliar com base nisso.
Parece-me relativamente claro que sendo o PS o partido maioritário, fosse o líder parlamentar do PS a apresentar e a fazer o elogio a Alfredo de Sousa. Não o tendo sido, só posso atribuir isso a uma exigência do PSD no âmbito de um acordo entre ambos os partidos.
E como já disse no «post», se assim foi, óptimo para a democracia. É bom que o PS se habitue a que vivemos em democracia e não numa ditadura da maioria, coisa que claramente esqueceu a partir do segundo ano da legislatura.
O Rangel é simpático e extrovertido. O Alberto é exctamente o contrário.
E a "verdadeira" democracia está aí a chegar na pessoa da MFL. Mal posso esperar:)
Cara Maloud. Sobre a dupla Rangel/Costa. Não acho que o segundo seja o contrário do primeiro. Ou o Costa – não lhe chamo Alberto porque não tenho nenhuma intimidade com o dito – teria, por oposição, de ser antipático e introvertido. E não acho que seja nem uma coisa, nem outra.
Sobre a «verdadeira» democracia que é afinal o que mais interessa. Vejo que já dá como adquirido que a MFL vai ganhar as legislativas! Que pouca fé no seu PS, minha cara! ;-)
Depois acha que se não temos Sócrates, temos MLF. E não é exactamente assim. Podemos ter outras geometrias. Uma peça com mais actores. Não convém é termos monólogos... seja lá de quem for...
Depois induz a ideia de que a MLF é pior do que Sócrates... E isso está absolutamente por provar...
Porque de Sócrates já conhecemos a prática como PM e de MLF não...
Apenas lá podemos ir por analogia e desse modo concluir que Sócrates é democraticamente pior do que MFL...
Podia falar-lhe de muitas áreas, mas falo-lhe, a título meramente exemplificativo, da Administração Pública (AP) que é a área que conheço melhor e é aquela em que a analogia pode ser mais próxima do real já que MFL foi Ministra das Finanças. E dentro da AP, em relação às pessoas, que é o que o que mais de perto me toca. Nunca ninguém, nem Cavaco, nem Durão/MLF fizeram o que Sócrates fez... Isto já para não recuar ao antigo regime...
1.º MLF como Ministra das Finanças congelou os vencimentos e congelou as carreiras – não podia fazer diferente, era necessário reduzir o défice para cumprir os critérios de convergência;
2.º Sócrates como PM congelou os vencimentos e as carreiras – não podia fazer diferente pelos mesmos motivos; mas fez outras coisas: mudou o regime de vínculos e de carreiras. Comigo, mudou-me o vínculo e extinguiu-me a carreira. No primeiro caso, é como se dissesse a um proprietário que tinha uma propriedade há 20 anos, que esse direito deixava de ser vitalício mas passava a ser a prazo. Ou seja, que de um momento para o outro, podia ficar sem a propriedade. Não foi em relação aos novos proprietários, foi em relação a proprietários há 10, 20, 30 e mais anos?!?!?! No segundo, é como se dissesse a um cardiologista: «agora passas a ser clínico geral». A isto chama-se alterar, sem razão ponderosa, as regras a meio do jogo, para usar termos politicamente correctos... mas há naturalmente quem lhe chame outras coisas...
Eu chamo Alberto ao Martins (não ao Costa), porque o conheci há muitos anos. Em 69.
Ok, Maloud, percebido. Costa e não Martins foi lapso meu que muitas vezes confundo ambos. Coisa de Albertos, já se vê... Ou talvez porque a gente do PS, nos últimos anos, me pareça toda igual... É um bocado como os Dupont e Dupond...
Quanto ao resto, que era aliás o fundamental, vejo que concorda. Óptimo! Bom fds
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