6 de dezembro de 2009

A Trick of the Tail - Porque no te callas?

Quinta-feira à noite fui à Aula Magna da Universidade de Lisboa assistir à recriação do mítico concerto de 1976 dos Genesis, A Trick of the Tail, pela banda canadiana The Musical Box, inserido na tournée que estão a fazer pela Europa. Trata-se da única banda autorizada pelos Genesis e a qualidade da performance, quer musical, quer coreográfica, tem-na levado a encher salas um pouco por todo o mundo. Lisboa não foi diferente.
O ambiente estava giro. Cotas e filhos de cotas em aprendizagem das músicas que os pais gostavam. Havia gente com ar casual, outros com roupas onde se percebia ainda algum do espírito dos anos 70 e 80 em versão remasterizada século XXI, gente de fato e gravata acabadinha de sair do emprego para ali. As cadeiras da Aula Magna continuam com aqueles estofos pindéricos dos anos 70 - se calhar foi por isso que a escolheram -, mas pior ainda esfarrapados, com um ar abarracado, uma indignidade para uma sala daquelas. Não sei se não há dinheiro para mandar estofar as cadeiras, mas deveria pelo menos haver para assegurar a sua manutenção. Nada, porém, esmorecia o entusiasmo e a expectativa daquele momento de regresso ao passado.
A coisa começou bem. As primeiras músicas deram o mote. O público vibrou com o The Lamb Lies Down on Brodway. Mas de repente, a meio do espectáculo, e ainda por cima do mítico Firth of Fifth, com o público rendido, puff. Foi-se o som! A luz manteve-se, mas nem mais um acorde. Sai a banda, uns 10 minutos de espera e eis quem vem um tipo da produção do espectáculo, bem-educado e civilizado, dizer que tinha havido uma avaria eléctrica, que não era da responsabilidade da Aula Magna mas sim da EDP e que o piquete já havia sido chamado.
15 ou 20 minutos mais tarde, mais um elemento da produção, desta feita uma menina, repetir o que já sabíamos, que o piquete já tinha sido chamado, que estava a chegar, para esperarmos mais uns 10 minutos. 20 minutos depois, vem um boçal da produção dizer que havia vários problemas daqueles por toda a cidade e que o(s) piquete(s) da EDP não davam para as encomendas, pedindo-nos para esperar. No final, atirou com ar cretino que «aqueles que tivessem os papás e as mamãs à espera em casa poderiam ir embora que a produção devolveria o dinheiro». Os cotas, que no viço dos anos 70 ou 80 teriam se calhar partido aquilo tudo – por bastante menos, já vi partirem um pavilhão todo, num concerto dos Tubes, no defunto Pavilhão de Alvalade -, resignaram-se. Nem um assobio, uma pateada, nada. O pessoal queria era recordar os temas de A Trick of the Tail e que se lixasse o resto. Mais 20 minutos e vem o tipo bem-educado e civilizado da produção que apareceu em primeiro lugar dizer que:

1.º Não havia hipótese de resolver o problema e que lamentavam;
2.º Que a produção, tentaria reagendar o concerto para o dia seguinte na Aula Magna – que, aliás, já tinha outro espectáculo mas que tentariam negociar e que depois entrariam em contacto com todos nós?!?!?;
3.º Que, obviamente, devolveriam integralmente o dinheiro, nos pontos de compra, para quem quisesse.
Tenho assistido a um cada vez maior profissionalismo na produção de espectáculos. Longe já vai o tempo dos amadorismos. Quinta, porém, foi a excepção. Talvez a produção tenha sido completamente apanhada de surpresa por aquilo que aconteceu, e não tenha nenhum protocolo previsto para o plano B, mas o facto é que lidou com aquilo tudo da pior forma.
Já nem falo do cretino que mandou a boca dos papás e das mamãs, que devia fazer tudo na produção menos falar em nome dela. Como disse o rei: Porque no te callas? Mas é irrealista e disparatado, tentar reagendar o concerto para o dia seguinte numa sala que já tem um espectáculo marcado para esse dia, negociando com os produtores desse outro espectáculo?! E o contacto com cada um de nós, como o fariam…
Uma palavra para o grande profissionalismo da banda que mesmo assim veio à boca de cena agradecer com sorrisos, paciência e fair play. Eles e o público estavam dispostos a quase tudo.

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4 Comments:

Blogger fugidia said...

E porque razão o caro Politikos não o disse?
(já não digo partir tudo que, se calhar não ficava muito bem a um cavalheiro de cãs e ainda por cima conhecedor de vinhos fazê-lo)
:-D

domingo, dezembro 06, 2009 10:34:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara fugidia.
Sobre a pergunta: como disse o Manuel Machado: «um vintém é um vintém e um cretino é um cretino»...
Sobre o «partir tudo»: ora, ora fugidia, não sabe o que um cavalheiro de cãs e conhecedor de vinhos pode fazer... ;-)

domingo, dezembro 06, 2009 12:12:00 da tarde  
Blogger Luísa A. said...

Caro Politikos, cheguei tão nervosa ao final do seu relato que estou sem palavras. Julgava que essas coisas já não aconteciam por cá. :-S

segunda-feira, dezembro 07, 2009 6:03:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Não se enerve, minha cara, há que levar as coisas com fair play... Mau grado esses epifenómenos, o bocado que vi do concerto valeu a pena...

segunda-feira, dezembro 07, 2009 11:30:00 da tarde  

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