16 de novembro de 2009

Passar das marcas…

Primeiro foi o Ministro Vieira da Silva a dizer que o que se passava com as escutas do Face Oculta era «espionagem política». Depois veio o PM dizer que isto já «passa das marcas». Por último, vem Mário Soares questionar se não será a justiça também uma «face oculta». Não liguei muito à conversa do batedor. Aquilo da «espionagem» é um exagero, um espasmo. Depois, vem o visado pelas escutas, com uma frasezinha de mestre-escola irado, mal disfarçando a irritação. E por último vem o senador Mário Soares, num trocadilho críptico, com aquela frase, e aí já comecei a ligar mais à coisa. Porque Soares não é um personagem qualquer e não se devia meter, como se mete, em toda esta tragicomédia. Devia ter alguma reserva já que ele faz parte de uma certa reserva da Nação.
Dando de barato as fundamentalistas interpretações jurídicas das diversas leis aplicáveis ao caso, os prazos e os timings do envio das escutas, a habitual violação do segredo de justiça, que, aliás, em si mesmo, e salvo raras e pontuais excepções não deveria existir, as «bochechas» do presidente do Supremo Tribunal de Justiça – será Noronha do Nascimento o melhor que existe de entre os juízes?! – os desabafos cansados de fim de ciclo do PGR, ao afirmar que quer divulgar as escutas, a frase críptica de Soares, o espasmo delirante de Vieira da Silva, a reprimenda e as nuances auto-justificativas de Sócrates, que afinal até soube do negócio da TVI mas foi pela comunicação social e por conversas informais e não como PM – o outro também nunca fizera sexo com a estagiária porque na lei americana o sexo oral não está tipificado como sexo – o que nesta história verdadeiramente passa das marcas é que nós, os cidadãos da Pólis, nunca iremos conhecer oficialmente, nem agora nem nunca, porque não ficarão sequer para arquivo, o teor destas escutas que não são conversas sobre a vida privada dos intervenientes, nem matéria de segurança de Estado. Além de já ter passado das marcas que a trilogia do costume: PR, PM e presidente da AR só possam ser escutados, ainda por cima quando não sejam sequer os alvos da escuta, por autorização do presidente do STJ. Isso é que ultrapassa todas as marcas da higiene cívica… Isso, a juntar às vacinas para a H1N1 com prioridade sobre os restantes, é que me desgostam profundamente enquanto cidadão da Pólis… Na verdade, o que ainda vai assemelhando esta espécie de oligarquia em que vivemos a uma democracia é que a comunicação social ainda investiga e ainda noticia…
P.S. - Já agora e ainda a propósito da vacina contra a gripe A, segundo o Expresso desta semana, «o comandante-geral da GNR e o director nacional da PSP ainda não foram vacinados porque deram prioridade aos elementos operacionais, em contacto directo com a população.» Felizmente, também temos destes exemplos na Pólis...

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2 Comments:

Blogger Luísa A. said...

Também estou muito cansada com tudo isto, Politikos. Embora ainda com forças para, se as circunstâncias o exigirem, sair à rua, ou ajudar a entupir, com o carro, a ponte sobre o Tejo, ou até a aderir, como alguém sugeria há dias, a uma confraria de combate, uma «Vidraria» de «vidraceiros», assim designada em nome da transparência. ;-D

terça-feira, novembro 17, 2009 4:11:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Luísa, essa sua costela iconoclasta! Ainda a hei-de ver de «armas» na mão! ;-) Mas, não consegue solução mais imaginativa do que manifestações ou entupir a ponte sobre o Tejo... :-)

*

Acabei de ver o Soares JR na SIC Notícias a comparar as escutas à tortura?!??! Será que o homem, como em tempos disse o seu correligionário Almeida Santos, «ensandeceu»?! Será que ele percebe a barbaridade, a enormidade do que disse?!
E aquele unanimismo, nestas matérias, com o Telmo Correia! Fico espantado! Infelizmente, há gente que acha que pertence a uma espécie de casta superior, acima da justiça, acima da lei?! É a versão moderna da «piolheira» do D. Carlos! Salvaguardando as devidas distâncias, alguma desta gente acha-se muito superior ao povo que governa! A nobreza de sangue parece ter sido substituída por esta espécie de nobreza de classe (política)!
Mas indo à substância, temos 3 personagens (PR, Presidente da AR e PM) que só podem ser alvo de escutas se autorizadas por UMA SÓ pessoa: o presidente do STJ?! Isso é que eu acho absolutamente espantoso. E chamam a isto «Estado de Direito»?!

terça-feira, novembro 17, 2009 11:29:00 da tarde  

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