11 de abril de 2006

Ó EMEL, diz-me lá onde estão os acentos?

No sábado passado, após umas quantas braçadas matinais, estacionei o carro numa das artérias principais de Lisboa para ir tomar um café e ler o jornal. É um dos rituais de fim-de-semana. Passei talvez 1H30m, ou um pouco mais, num café com mesas, espécie cada vez mais rara. Para mim existem duas categorias de cafés: os cafés com mesa e os cafés com balcão. Naquele ainda há mesas e – pasme-se - cadeiras de madeira. O alumínio já entrou ali mas timidamente e apenas nos balcões. Além disso, a fauna local é escassa e civilizada, bem como os empregados, o que ajuda ao bem-estar e à tranquilidade que se pretende num sábado de manhã. À saída, porém, tinha este aviso no pára-brisas. Não vou discutir a regra cretina que obriga ao pagamento do estacionamento naquela zona ao sábado de manhã. Ali quase só há serviços, o comércio rareia e, ao sábado, o estacionamento abunda. Aliás deixo sempre o carro rigorosamente no mesmo sítio. É como se tivesse lugar marcado. De onde, não vislumbro qualquer boa razão para pagar o estacionamento. O estacionamento pago no interior da cidade fez-se para desincentivar a vinda de automóveis para Lisboa nos dias úteis e não para onerar os residentes na cidade ao sábado de manhã. Conviria até incentivar o povoamento daquela zonas, naqueles dias. Mas regra é regra, e regra universal é regra universal. Uma universalidade cretina, porém, há que disciplinar a coisa pública e, por isso, paga-se. Vantagem é já não ter de ir a nenhum guichet para pagar os €2,07, curiosa conta (gostava de saber a fórmula que está por detrás dela). Pode-se pagar por Multibanco. Simplex e higiénico. Até aqui, tudo bem, ainda que possa estar mal. O problema é o texto do talão/aviso. Não falamos da pontuação, com erros grosseiros, ou da sintaxe, aqui ou ali duvidosa. Ou sequer da clareza e do rigor da mensagem, de que é exemplo a ameaça final de bloqueamento/remoção da viatura?! Será que se não pagar me vão buscar a viatura à garagem? Ou será que, depois de findo o prazo, a rebocam onde quer que esteja, como se de um foragido com mandato de captura se tratasse? Adiante. Falamos sobretudo da quasi absoluta ausência de acentos nas palavras do texto do aviso. Curiosamente, estas excrescências da Língua aparecem nas maiúsculas, mas não nas minúsculas. Claro que, com boa vontade e sentido cívico, lá compreendi a mensagem da EMEL, presumo que seja a EMEL, pois no aviso aparece uma entidade chamada Spark, seguida da frase Ao serviço da EMEL. Certamente uma consequência do fenómeno de externalização - havia quem lhe chamasse outsourcing – mas agora esta é a palavra certa e da nova vaga… O meu criado, criados tem… Aliás, é curioso que quando se fala nas gorduras da máquina do Estado, nunca se fala nas gorduras das externalizações na máquina do Estado. É que afinal, eu não estou a pagar à CML, e, por consequência à cidade, eu estou a pagar à CML, à EMEL e à Spark, e sem acentos… Será que esta moda de suprimir os acentos já se integra no Simplex? É que, atendendo à profusão destes na Língua Portuguesa e ao afã da EMEL, Spark e afins em penalizar tudo o que se mova com quatro rodas, sempre são uns quantos tinteiros que se poupam…

8 Comments:

Blogger Politikos said...

Está-me a incentivar à desobediência civil, cara Luar? Incitamento à revolta? Isso é crime! Não lhe conhecia essa faceta de potencial revolucionária! Esteve no Maio de 68, foi?! Presumo que tb não pague as suas multas?

terça-feira, abril 11, 2006 11:27:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Realmente com essa assertividade toda é mais perigosa do que eu pensava? Um verdadeiro Inimigo Público. A acompanhar esta faceta de Joana d'Arc...

terça-feira, abril 11, 2006 11:35:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Ah, esclareço que houve uns problemas técnicos na visualização do talão/aviso da EMEL, S Park ou o que for, entretanto, e para gáudio geral, já resolvidos...
Além do mais era absolutamente necessário passar para segundo plano a imagem das «mamas» que tanta perturbação causaram nos espíritos puritanos da Pólis...

terça-feira, abril 11, 2006 11:38:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu mandava-os era meter a multa no cu!
Mas se fizer muita questão de pagá-la, desde já me ofereço para colaborar na colecta de moedas de um cêntimo para fazer o pagamento à EMEL em espécie!

quarta-feira, abril 12, 2006 1:03:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Já se percebeu que as KT andam particularmente sensíveis a questões de trânsito, de fardas e de multas...
A ideia do pagamento em moedas de cêntimo não é má, de facto... Mas já fiz um mail ao presidente da EMEL, alertando para a falta de rigor, as incongruências e os incumprimentos do «lado de lá»... Aguardemos, pois, pela resposta...

quinta-feira, abril 13, 2006 12:57:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sim, sim, mas é melhor aguardar sentado... :-)

sexta-feira, abril 14, 2006 1:22:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos,
Após ter lido o seu brilhante blog, não pude deixar de notar algumas coincidências no mínimo estranhas!!!
Estou neste momento a realizar um estágio perto da zona em que foi multado (no seu caso subzona 52, no meu subzona 62). Pelo facto de estar a trabalhar para essa instituição europeia, disponho de um distintivo que me permite estacionar o carro nos lugares que lhe estão reservados; lugares esses invariavelmente ocupados por "chico-espertos" que pretendem assim fugir ao pagamento do parquimetro, e obrigando-me assim a estacionar nos lugares pagos. Então não é que apesar dessa situação, da presença do distintivo no painel de bordo do carro, deparei-me com o execrável envelopezinho entalado no limpa-vidros!!! E qual não foi a minha surpresa ao verificar que o vigilante que nos autuou era o mesmo!!!???!!! Essa amostra de indivíduo não foi capaz de entrar no edifício e verificar a situação???
Deverei concluir que estamos perante um cruzado das multas absurdas, um frenético manipulador da maquineta impressora de talõezinhos???
Parabéns pela sua veia crítica e literária.
Melhores Cumprimentos.

quinta-feira, julho 27, 2006 9:59:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Caro anónimo (ou deverei dizer anónima: quase que o afirmaria, aliás, mas desculpar-me-á se o não for ;-), é claro.
Agradeço-lhe o elogio ao blogue mas «brilhante» peca, no mínimo, por muito exagerado :-)
Quanto à situação, escrevi uma «cartinha» à EMEL que me foi respondida - mas mal - por um douto jurista; já mandei a segunda - que sou persistente - e aguardo a resposta... Ainda perco tempo com estas bagatelas da «cidadania», veja só...
O que me parece é que a tal Spark ganha à comissão e quanto mais autuar mais ganha, de onde não lhe interessa averiguar nada: aquilo vai tudo a direito, a eito... A «rapaziada» assalariada, tal como o tal Santiago, idem: quanto mais autuar mais ganha...
Além de cobrarem E2,07 quando a taxa máxima legal por estacionamento indevido é de E2. Espertezas! E assim, uma taxa que devia ser cobrada pela CML, já mete a EMEL e agora a Spark... Claro que os privados agradecem este verdadeiro «bodo aos pobres» em que se tornaram estas «externalizações»...
Bom estágio, volte sempre e - se tiver paciência - moa o juízo EMEL (veia crítica e literária tb não lhe falta ;-)...

terça-feira, agosto 01, 2006 12:18:00 da manhã  

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