15 de julho de 2007

Legitimidade moral ou jurídico-formal

As eleições intercalares autárquicas da capital da Pólis terminaram. A abstenção foi, à hora em que escrevo, de 60%, um pouco menos ou um pouco mais. Foram portanto a votos menos de metade dos eleitores inscritos. Pergunto-me qual a representatividade moral do próximo executivo camarário?! Não da representatividade jurídico-formal, essa tem-na toda. Mal vai a democracia quando caminha para quóruns de representatividade de colectividade de bairro. Já vi alguns justificar a abstenção pelo período de férias. Atente-se até que o tempo esteve péssimo e não deu para a praia. E pelas férias. São explicações fáceis, demasiado fáceis para justificar mais de 60% de ausências! E eu passei, no final da tarde, e pela primeira vez, conscientemente pela porta de uma assembleia de votos sem votar, não sem alguma tristeza, e segui em frente rumo ao café acompanhado por uns jornais e revistas com que me mantenho informado sobre a vida da Pólis, daquela Pólis em cujos representantes não fui votar…

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9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos,
Vexa entende que não há representatividade moral do próximo executivo camarário porque foram a votos menos de metade dos eleitores inscritos.
Mas, como bem sabe, apenas se podem fazer sondagens (que têm sempre uma margem de erro maior ou menor), ou eventualmente especular, sobre as razões que determinaram que mais de metade dos eleitores inscritos não tivessem ido votar.
Alguns terão querido, como Vexa, dizer que estão insatisfeitos. Mas quantos?
E quantos terão outras razões?
E que razões serão essas?
E que lições têm os nosso políticos retirado da elevada abstenção?

Quanto a esta última questão, julgo que quase nenhumas.
Já fiz parte de um conjunto de pessoas (a maior parte delas representantes dos partidos políticos) que procedeu à contagem dos votos de umas eleições autárquicas, há uns anos atrás. Infelizmente ninguém ligou ao n.º de votos nulos ou brancos nem ao elevado nível de abstenção.
A única preocupação era saber quantos votos tinham: mais ou menos como se passa no futebol - não interessa se se ganha por 1/0 ou por 5/0, o que importa é ganhar.

Compreendo as suas razões e concordo com a análise que fez desta campanha.
Mas receio que esse caminho não sirva para melhorar a nossa democracia.
Continuo a achar que é com o meu voto que eu explico, inequivocamente, o que quero e o que não qquero. E quem quero e quem não quero. E ao meu voto os políticos dão importância. Porque ele pode fazer a diferença.

Há ainda outra razão para eu votar (julgo, aliás, que por ela nunca conseguirei deixar de votar).
É que este direito/obrigação que tenho é o resultado de uma factura elevada, paga por muita gente.
Alguns deles familiares próximos.
Um deles o meu pai.

Respeitosos cumprimentos, e perdoe-me o desabafo.

domingo, julho 15, 2007 9:59:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Não, cara Atenas, com o seu voto Vexa não explica nada a ninguém, apenas vota, numa pessoa ou numa entidade. Deixe-me dizer-lhe que, apesar de termos, neste particular, opiniões distintas, eu próprio já tive, talvez não tão arreigada quanto Vexa, opinião similar, só que evoluí, dir-me-á que para pior mas evoluí. O caminho que Vexa propõe para melhorar a democracia é o voto no mal menor. Para mim, esse não é um caminho de melhoria. Para mim, esse é um caminho que acaba por auto-alimentar o sistema, perpetuando a mediocridade. Neste momento, acho que quanto maior for a abstenção, mais se enfraquece a posição dos que não tiram ilações. Chegará o momento em que esse número os obrigará necessariamente a tirar ilações. Se o sistema não se auto-regenera, se não tem capacidade de auto-avaliação e a nossa capacidade de intervenção é quase e só uma cruz de 4 em anos, eu posso protestar, sob a forma de abstenção, contra esta forma menor de democracia... É o que faço...
Coloca, no final, outra questão pertinente: a do custo desse direito/obrigação. Pois, é por aí também que o sistema se irá enfraquecer. É que no dia em que for morrendo a geração que pagou algum preço para ter esse direito/obrigação, a abstenção ainda irá crescer mais. Não se esqueça que para os jovens de hoje, isso foi uma «oferta», já nasceu com eles. É algo completamente adquirido.
As razões que alega já eu as sopesei e acabei onde estou. Aceitando naturalmente outras opiniões – e sabendo que não é esse o seu propósito – acho muito débeis os argumentos que apresenta e não susceptíveis de me fazerem mudar de opinião. Creio mesmo que a abstenção será cada vez mais o meu partido…
Vejo ainda que, apesar de «chavala», mantém valores muito tradicionais… ;-)

segunda-feira, julho 16, 2007 5:59:00 da tarde  
Blogger Luísa A. said...

Caro Politikos, quer se queira, quer não, só 10% dos lisboetas votaram no António Costa. E, pela primeira vez, os votos nulos e brancos tiveram expressão – salvo erro, de 6%. Por acaso, e excepcionalmente, discordo um tudo nada da nossa caríssima Atenas. Acho que a recusa de votar é uma interessante prerrogativa (que só a democracia verdadeiramente nos concede) e uma não menos interessante forma de protesto, a que entre nós recorrem, pontualmente, algumas vilórias que pretendem ascender a cidades ou manter abertos certos serviços hospitalares, etc., etc.

segunda-feira, julho 16, 2007 7:31:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos,
não pretendo fazê-lo mudar de opinião. Note que até concordei consigo em alguns pontos.
Limitei-me a opinar! (julgo que, para além da minha idade, esta era, há alguns posts atrás, uma das suas "queixas"...)
Acresce que, muitas vezes, o/a/s jovens (chavalo/a/s) até são bastante "tradicionais"...
:-)

segunda-feira, julho 16, 2007 8:47:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara Luar,
tem razão no que diz.
Não só na expressão dos votos nulos/brancos e abstenção mas
também na forma "de protesto" que é não votar.
Como já disse, tenho dúvidas sobre o efeito útil de tal protesto.
Veremos que ilações serão tiradas desta vez.
:-)

segunda-feira, julho 16, 2007 8:51:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Cara Luar
Tem toda a razão sobre os 10% de lisboetas. Aliás, penso que deve haver colectividades na cidade eleitas com mais de votos do que o presidente da CML.
Registo a sua discordância, apenas «um tudo nada», com a «nossa» Atenas... Afinal de contas, a discordância «um tudo nada» é apenas entre votar e não votar... Esperemos, pois, pelas grandes discordâncias...
Vejo ainda, não sem uma certa surpresa, que não se manifestou sobre o «Sr.ª D.ª» com que antes foi brindada pela suposta «proletária chavala» Atenas... Veja lá, se quiser, também posso começar a tratá-la assim...
:-)

segunda-feira, julho 16, 2007 10:30:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Cara Atenas
E qual é o efeito útil para o sistema democrático de votar no mal menor?!?!

segunda-feira, julho 16, 2007 10:33:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo totalmente com Atenas. O voto é tão somente uma das muitas maneiras de exercermos a democracia. Outra é esta que agora faço.
Quando voto (utilizando aquele papel da maneira que entender) estou a transmitir a minha vontade que vai obviamenter somar-se a outras iguais, com a ideia que alguma coisa pode ainda ser feito.

Acredito que algo vai ter de mudar e não só no nosso país. Estamos muito perto do abismo. Será uma nova QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO?

Não podemos apagar com uma borracha o nosso passado em que os mortos votavam e os vivos não viviam. Já chegam as manifestações de 3ª idade de "alguidares de baixo" para apoiar o semi-vencedor de "tachos de cima"!!!!

segunda-feira, julho 16, 2007 10:48:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Caro Anónimo
Quando vota, numa pessoa ou num partido, está a manifestar uma concordância com essa pessoa ou esse partido. E não tem forma de mostrar que a sua convicção/concordância é a 100%, a 80%, a 50% ou menos... Se eu não concordo com nenhuma pessoa ou partido, se não me sinto suficientemente representado por nenhuma daquelas pessoas ou partidos, nem sequer a 50%, e o voto branco ou nulo é ignorado e/ou não tem qualquer leitura, posso optar pela abstenção, que é um direito que me assiste. Não se trata de me rebelar contra o sistema em que acredito, mas de mostrar o meu descontentamento com um sistema democrático formalista que apenas me dá o direito de pôr uma cruz num papel de 4 em 4 anos. Eu acho que com isso, estou a obrigar a que se reflicta sobre o sistema político, as suas formas de representação, os seus agentes. Ao contrário, ao votar em quem não acredito ou no mal menor, que nestas eleições era o que acontecia, acho que contribuo para a auto-alimentação de um sistema doente e medíocre.

terça-feira, julho 17, 2007 7:35:00 da tarde  

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