Gente fora de prazo
Ontem acordei com uma notícia na TSF sobre um personagem da Pólis, de seu nome Correia de Campos. Governa a Saúde. Já se conheciam vários episódios da sua autoria. Num dos quais, bastante glosado pela imprensa da Pólis, o personagem chegou mesmo a partir uma cadeira num hospital, com o fito de mostrar que o material estava velho, ou coisa que o valha. Há outros! O personagem é truculento e presta-se por isso a estes episódios. Escudado pelo cargo e por um governo de maioria absoluta, ei-lo impante e em roda livre. Porém, nenhum desses episódios mais ou menos burlescos foi, aos meus olhos, tão chocante como o de ontem. Numa conferência na Ordem dos Economistas, e confrontado com um farmacêutico que lhe terá apresentado um saco de medicamentos fora de prazo, o personagem terá dito. Cito de memória: «esses medicamentos devia era dá-los aos pobres». O personagem depois desmentiu. Que não sabia que os medicamentos estavam fora de prazo. Blá, blá, blá, blá. E julgo que sim, que realmente o personagem não saberia que os medicamentos estariam fora de prazo, ou não teria proferido semelhante dislate. Só mesmo um demente o faria. O que a mim me choca aqui é a forma. É a frase, é a palavra «pobres», referida assim. É a expressão «devia dá-los aos pobres», é a atitude e o universo mental que está por detrás dela. É chocante e revoltante. E não pude deixar de pensar que ela teve origem num governante do Partido Socialista, num governante que governa alegadamente em nome da chamada esquerda. Não quer dizer que fosse mais aceitável num de outro partido da chamada direita! Mas aqui, apesar de tudo – e admito o preconceito -, chocou-me mais! E dei comigo a pensar que esta frase poderia perfeitamente ter sido dita por outro governante, sem escândalo, há 40 anos. E se calhar, mesmo nessa altura, não seria dita assim...
Etiquetas: Comportamentos, Personagens, Políticos
8 Comments:
...Como vergonhosas são estas palavras, ainda mais ditas por quem as disse.
Como vê, caro Politikos, em sintomia absoluta com Vexa.
Cumprimentos respeitosos.
Caro Politikos, na minha naturalmente muito discutível opinião, vivemos um momento político de estrondosa falta de humanismo. Mas é verdade que não é o respeito pelos outros nem a delicadeza de sentimentos e de expressão que reduzem o défice.
Caro Politikos,
:-D
:-D
:-D
(sorry, foi mais forte do que eu...)
Cara Atenas
Estou atónito e cada vez mais preocupado com esta nossa sintonia tão absoluta e que já vem do poste anterior...
:-)
Cara Luar
Fiquei sem perceber! Vexa acha que o personagem foi pouco humano mas que enfim isso é desculpável em nome do défice, é isso?!
Caro Politikos,
aproveite a sintonia, aproveite...
enquanto dura!
:-)
Caro Politikos, eu não acho. O Governo é que acha que a sua acção «salvadora da pátria», que parece resumir-se na redução do défice, justifica todos os atropelos e todos os dislates. (Estou preocupada, Politikos. Não consigo fazer passar os meus sarcasmos… :-D)
Estou esclarecido, cara Luar. Não esteja preocupada com os seus sarcasmos. Este não passou à primeira, é certo. Culpa do emissor mas também do receptor...
:-)
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