A «fast food» da matéria…
Já aqui abordámos, a propósito do ensino, o chamado «sistema da matéria»… Ora dentro do «sistema da matéria», ainda há uns sub-sistemas, um deles é o «sub-sistema dos resumos da matéria»…
Anteontem, realizou-se o exame final de Português do 12.º ano, efectuado por estudantes que estão concluir o Secundário e se preparam para entrar numa universidade… Ao que parece, «saiu Saramago», o mesmo é dizer a obra literária em análise no dito exame era o Memorial do Convento. Já de si uma péssima escolha para quem se queira iniciar em Saramago, mas isso são contas de um rosário que não vamos aqui desfiar... Numa reportagem num dos canais de televisão da Pólis, de um grupo de pelo menos cinco jovens entrevistados, nenhum – digo, nenhum – havia lido integralmente a obra… Todos haviam lido apenas excertos, súmulas, sumários, resumos ou seus sucedâneos, o mesmo é dizer uma espécie de «fast-food» literária unânime, fácil de ler e de compreender e já mastigada… Onde fica aqui o prazer de ler, o esforço que a leitura também comporta, a tentativa pessoal de sistematização e de interpretação…
4 Comments:
Tal como sugere, caro Politikos, deixemos de lado a escolha do Memorial do Convento, embora não seja dispicienda, e vamos ao sumo do seu post.
Por interpostas pessoas, sei que Os Apontamentos Europa-América {é assim que são conhecidos} batem as Margaridas nos records de vendas, principalmente nesta época do ano. Há mesmo estudantes que correm a comprá-los na véspera do exame de Português.
Agora eu fiz Literatura Portuguesa no antigo 3º ciclo, há quase 40 anos, num dos liceus à época mais exigentes do país, o Carolina Michaëlis. Tínhamos, como facilmente se calcula, várias obras de leitura obrigatória. A grande maioria das minhas colegas nunca leu nada. Sete de nós fomos para Românicas, vinte e seis para História ou Filosofia e três para Direito. A maioria tinha biblioteca em casa, e pais com bastante mais que a 4ªclasse. Portanto, este nosso grande gosto pela leitura vem de longe.
Só que ali, cara Luar, só três foram para Direito, e uma delas lia.
Agora não admira. Por questões de horários e de distribuição da massa imensa de alunos, a minha filha mais velha de Hist.de Arte fez uma cadeira pedagógica integrada numa turma de Estudos Portugueses. Não sei a que propósito, um dia, o prof falou de Lobo Antunes. Só ela tinha lido. Mais ninguém.
Bom. Longe de mim dar aqui uma de: «no meu tempo...». Mas confesso-lhe, cara Maloud, que no «meu tempo», tive de ler integralmente as obras de leitura obrigatória, quer gostasse, quer não gostasse. Até porque não havia alternativa, já que não existiam digestos. E comigo todos os outros, uns melhor, outros pior...
Creio que conheço os tais livros da Europa-América (capa amarela e preta).
Agora o que é impressionante, é o seu último exemplo: de uma turma de Estudos Portugueses, só uma «alma» tenha lido Lobo Antunes... É caso para perguntar, mas leu o quê? Ter-se-ão enganado no curso? Parabéns à sua filha :-)
Tb concordo que o verbo «dever» é mal conjugado entre os mais novos, mas o esforço que o «dever» exige é uma componente essencial do estudo, cara Luar... Como diz o outro: «habituem-se»...
Aqui estou com o Nuno Crato.
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