Diga 36
Tarde de um domingo ensolarado de Primavera em Lisboa. Realmente a convidar ao ar livre, mas ainda não à praia, a não ser para passeio. Ponho pés a caminho e vou à Comuna ver O Tartufo, uma encenação de João Mota da celebrada peça de Molière. À chegada, vejo com alguma surpresa que a peça iria decorrer na chamada sala nova de A Comuna, um anexo, uma salinha pequena e intimista, daquelas onde se pode ouvir os actores a pisar o palco. Até me agradou, mas logo antevi que a peça não iria ter muitos espectadores. Porém, o que não antevia era que tivesse apenas 36 almas, três dúzias certas, que as contei. Atravessando a praça, dita de Espanha, temos a Gulbenkian, onde, ainda não há muito tempo, verdadeiras hordas pela noite fora esperaram para ver a exposição de Amadeo de Souza-Cardozo… Ademais, se pusermos lado a lado uma peça teatro e uma exposição de pintura, a primeira parece ter condições para ser mais popular… E se pusermos lado a lado Molière e Amadeo, temos de convir que o primeiro tem bastante mais condições para chamar o que se convencionou chamar de grande público… Uma espreitadela ao site de A Comuna dá-me talvez um princípio de explicação para este acentuado contraste: está desactualizado e a peça O Tartufo nem sequer lá consta. Ainda lá a está a peça anterior: O Misantropo?! Ora sem investir ou encontrar patrocínios para a promoção dos espectáculos não é possível chamar públicos… E esse é um vital imperativo de sobrevivência daquelas que, como o teatro, não são hoje as artes da moda neste tempo de variada oferta cultural…
Etiquetas: Artes, Publicidade, Teatro
9 Comments:
Caro Politikos,
concordo inteiramente consigo (quem diria?!... bem, hoje estou bem disposta! ;-)).
E a peça, gostou?
Ora, ADEMAIS (gostei dessa, parece saída directamente do último "Cuidado com a língua..." :-) ), a cidade tem tantas e tão variadas solicitações que é preciso ter mesmo vontade para meter pés a caminho da Praça de Espanha em dia de canícula e de Estoril Open...
bem a propósito, a peça. candidatos ao papel principal há muitos mas para esta apresentação já está ocupado
Gostei, pois, cara Atenas. O Carlos Paulo, que faz de Tartufo, é um excelente actor. E a criada da casa - não sei quem é a actriz - também vai muito bem. A encenação está bem conseguida. Vale a pena!
Ainda bem que concorda comigo. Valerá a pena deitar um foguete ou será sol de pouca dura?!
;-)
Ainda bem que gostámos do ADEMAIS. Dia de canícula convida à «sombra»! E não apreciamos ténis por aí além para ir até ao Estoril! E menos ainda hordas: fazem-se umas excepções ao estádio José Alvalade e pouco mais...
Ademais ;-), a cidade é boa nestes dias, de pouca gente...
Caro Meteco, não sei bem a que «peça» se refere, mas para certas «peças», há sempre muitos candidatos, eu é que sou um bocado esquisito com certos «actores»...
;-)
Há, no mundo do espectáculo, uma modalidade promocional bastante eficaz que é o «passa-palavra». Mas para que ela funcione, caro Politikos, é necessário que o produto tenha muita qualidade.
É curto, cara Luar, muito curto! Bem sabe que não chega ser bom ou muito bom e que há coisas medíocres que têm grande sucesso graças a sofisticadas máquinas promocionais... É uma inevitabilidade...
Quem gosta de teatro, sabe que a Comuna é das melhores companhias de teatro que temos. Claro que a informação da net é importante,mas o público de teatro, não deixa de ir ver boas peças mesmo que elas não estejam na net.
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