São baixos, são sim senhor
O, agora já ex, Director-Geral dos Impostos, deu uma entrevista ao Expresso. (n.º 1814, de 4 de Agosto). Considero-a uma boa entrevista. Respostas substantivas e curtas. Ali não há retórica. Não há ponta de criatividade no que disse, nem uma única metáfora. Nada. É coisa despojada. O homem não inventa. A parte mais polémica, e que fez as parangonas do Expresso, diz respeito ao facto de Paulo Macedo considerar que o vencimento do Presidente da República (PR) e do Primeiro-Ministro (PM) são baixos. E são-no, de facto. Para a responsabilidade e para os deveres dos respectivos cargos são efectivamente baixos. Paulo Macedo refere mesmo que qualquer director de sucursal bancária e que qualquer director de marketing ganha mais do que o PR. O que é verdade e todos o sabemos. E não só ao nível de PR e de PM. Isso é válido também para deputados, directores-gerais, autarcas, etc. Mas ninguém – nenhum político – se atreve a tocar nisto. E assim surgem esquemas, de toda a sorte: acumulações de cargos mais ou menos fantasmas, acumulações de reformas, pagamentos com senhas de presença, etc., etc. E assim os titulares de cargos políticos apoucam-se. Acham que contornam e resolvem as coisas, mas não resolvem nada. É gato escondido com rabo de fora. E os jornais vão caçando rabos de fora e mais rabos de fora. E os políticos saem mal disto tudo. Percebem, mas assobiam para o lado. Pelo contrário, o poder económico faz seguramente muito pior, mas com muito mais classe. Veja-se a subtileza com que é gerida a fratricida guerra no BCP. Aquilo é uma guerra de senhores. E, assim, para a maioria, os políticos continuam a ser uns mentirosos e uns aldrabões, os banqueiros e outros empresários, uns senhores, quando muito apelidam-nos de exploradores. Sinceramente, acho que o vencimento dos diversos titulares de cargos políticos deveria ter um tecto mínimo, que até podia ser o actual, mas com a particularidade de se poder optar pelo vencimento do lugar de origem. E assim, talvez pudessemos ter os melhores na política. Pelo menos não teríamos, já não digo os piores, mas pelo menos gente vulgar. Pelo menos assegurávamos que não era por causa do dinheiro que alguém não serviria o país em funções públicas.
Foto - Pólis&etc.
Etiquetas: Políticos
6 Comments:
Caro Politikos,
tenho hesitado em comentar este seu post. Mas como já referi infra que padeço de um certo mal de loucura, ganho coragem para lhe dizer que sempre que "abro" o seu blog e vejo o título e a foto deste post me vêm ao espírito ideias que nada têm a ver com o conteúdo do mesmo.
Elenco assim as ideias que me ocorrem:
1.º"São baixos, são sim senhor" - penso logo em homens(zinhos), pequenos, de estatura, minúsculos...
2.º olho a foto e o homem que lá vem também me parece demasiado baixo, tal qual um reflexo naqueles espelhos que alteram a nossa imagem...
Fico com uma sensação desconfortável de tudo ser pequeno demais, e eu, que logo havia de ser alta, sinto-me a encolher também um pouco, o que me tem dado cabo das costas...
;-P
Caro Politikos, continuo a acreditar que a política devia ser exercida gratuitamente, por amor à causa, e que é a sua «profissionalização» que, pelo menos em parte, gera a ambição «carreirista» e o oportunismo que vemos. Mas concedo que, sendo, como é, remunerado, o desempenho de certos cargos merecia uma reavaliação.
Cara Atenas
Se, como diz, leu este blogue todo, inclusive os comentários, já deve ter percebido - e já foi explicado - que os títulos não reflectem ou resumem necessariamente o conteúdo, apenas estabelecem uma qualquer ligação com ele. É uma opção.
Mas, com essa sua imaginação, imagine que o título era «São pequenos, são sim senhor...» Sabe-se lá o que Vexa poderia pensar?!
;-)
E o teor do poste, minha cara?! Esqueceu-se?! Não tem nada a dizer?! Ainda está sob o efeito das «drogas» do poste abaixo?! Ou «flipou» de vez numa «trip» qualquer?!
:-)
Cara Luar
Essa visão é romântica. Passava-se na Antiguidade, mas já não é compatível com o mundo de hoje.
O que proponho não alimenta o «carreirismo», apenas propicia que todos os que queiram servir o País em funções públicas não deixem de o fazer por causa do dinheiro.
Meu caríssimo Politikos,
se o título fosse "são pequenos, são sim senhor" nem calcula qual seria o calibre do meu comentário...; é que com o título que consta eu já andei a divagar (dentro dos limites da minha loucura sã, bem entendido), imagine com o "pequenos"... ;-)
No que respeita ao teor do post, e só para provocar :-P, tenho uma dúvida que aumentou com o seu comentário à Luar: mas grande parte dos "politicos" que temos não exerce essas funções por causa do dinheiro, ainda que "pouco"?, e não fazem da política carreira?
Acha mesmo que se os "ordenados" fossem superiores os "politicos de carreira" desapareciam e só exerciam funções públicas os mais capazes?
Talvez se, além do aumento dos ordenados, houvesse uma diminuição substancial do n.º de deputados, ministros e companhia nos governos, e outros servidores públicos noutras instituições, talvez, repito, se conseguisse aumentar o nível de qualidade.
Mas o cerne da questão não estará na necessidade de pensar a médio/longo prazo em termos da Educação (designadamente cívica, para além da escolar)?
Já não me recordo em que país (norte da Europa, claro, tipo Suécia, Noruega) os ministros do governo se deslocam de transportes públicos ou de bicicleta para os respectivos locais de trabalho.
E parece que isso não incomoda ninguém, soretudo os próprios.
Concordo, contudo, que tudo fica "estranho" quando qualquer director de sucursal bancária ganha mais do que o vencimento base do PR e chega ao seu local de trabalho num automóvel topo de gama...
Cara Atenas
Apenas acho que se pudessem optar por um rendimento equivalente ao do último ano ou à média salarial dos últimos 5, por exemplo, poderíamos ter melhores políticos.
Concordo com a diminuição do n.º de deputados e quiçá do dos ministros e secretários de estado, embora não seja esse o principal problema do sistema. Não é por serem menos que aumenta a qualidade.
A educação cívica é muito «bonita» mas todos temos de «comer» e todos temos as nossas ambições. O que acontece é que assim corremos o risco de termos «políticos carreiristas sem carreira atrás de si» ou «políticos não carreiristas com carreira mas passados na idade», sem chama, nem fulgor, pois no período mais enérgico e criativo não estão disponíveis para lugares políticos. E só na idade em que já têm uma vida confortável, sem preocupações materiais, é que condescendem em servir a República .
A questão da deslocação em transportes públicos é irrelevante. Creio que um dos secretários de estado da área do Ambiente faz o mesmo: mora em Sintra e vem de comboio e não é por isso que é melhor governante.
Dou-lhe um exemplo: temos Sócrates mas podíamos ter Vitorino, não fosse o vil metal... Quem o critica?! Eu não?! Mas com qual acha que estaríamos melhor servidos?!
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