23 de julho de 2008

Bocas grandes

Na segunda-feira, o Procurador-Geral da República (PGR) comunicou o arquivamento do caso Maddie. À primeira vista, depois da entrega do relatório da Polícia Judiciária (PJ), uma semana deveria ter bastado para fazer aquele comunicado e proferido aquela decisão.
Parece-me claro que a PJ fez todos os esforços para deslindar o caso. Fico a pensar se até não terá feito demais... O profissionalismo da PJ não está, a meu ver, em causa. A polícia investigou, esforçou-se, empenhou-se. Isso parece-me óbvio. Pode-se discutir se foi bem ou mal, perante os dados que deverão vir a lume nos próximos tempos. Para já, porém, a esse nível, pouco há a dizer. Mesmo no início, quando agora se afirma que o cenário do crime deveria ter sido de imediato interditado a não profissionais para não o contaminar e permitir uma cabal recolha de provas, eu não consigo criticar com grande convicção nem sequer a GNR. Estava-se perante um desaparecimento de uma criança, não de um homicídio.
Infelizmente, se não parece haver muito a dizer relativamente ao comportamento da PJ no que respeita ao brio e ao empenhamento profissionais, há bastante a dizer em relação às declarações públicas. Que foram várias e de variadas pessoas. Desde os que deram a cara, - porta-vozes, director nacional, inspectores - às fontes que passaram informações para os meios de comunicação social, violando impunemente o segredo de justiça. Tudo correu, a este nível, muito mal. Ontem, as declarações do actual director nacional foram apenas a cereja em cima do bolo. Ele, que tem cultivado um certo low profile, perante uma opinião crítica do antigo director nacional, resolveu abrir a boca para dizer que o anterior director nacional nunca foi um grande investigador… Mesmo que isso seja verdade, o que não interessa nada para o caso, tal não significa que o dito não possa ter opinião e menos ainda que a possa expender. Aliás, as declarações do antigo director nacional falam por si. Ele acha que o processo não deveria ter sido arquivado, mas que apenas deveria ter sido retirado o estatuto de arguido aos três visados. É uma questão formal. Aliás, a esse respeito, ele, que em tempos afirmou que talvez tivesse sido precipitada a constituição dos McCann como arguidos, deveria talvez ter levantado, desde logo, igual questão acerca de Murat que até ontem arcou com tal labéu, quando há muito se havia percebido que ele nada tinha a ver com aquilo… Enquanto isso, a justiça inglesa já despachou vários processos, condenando alguns jornais a indemnizar Murat…
Mais valia, pois, estarem ambos calados, porque a PJ havia feito o seu trabalho. Não é o trabalho dos seus profissionais que descredibiliza a PJ, o que a descredibiliza são as declarações de responsáveis e ex-responsáveis… Parece, porém, que isto não vai ficar por aqui... E amanhã ainda vamos conhecer as do antigo responsável pela investigação…
É uma pena realmente que os polícias não façam aquilo que em princípio fazem bem, investigar, e abram a boca, o que fazem geralmente mal...

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