27 de julho de 2009

Crónica hospitalar e de costumes II

Mais um episódio do estúpido acidente doméstico no qual parti um braço. Como já se disse fui engessado: uma tala em meia-cana coberta por uma ligadura e assim andei 21 – para mim – longos dias. Como tenho os pulsos finos e um bocado ossudos, a tala ficou a magoar-me, o que só dei conta algumas horas depois. Em conversa com familiares, amigos e conhecidos, cada um me foi alertando para um ou outro aspecto da coisa. Já se sabe que de médico e de louco todos temos um pouco... E ainda bem, pelo menos em relação à primeira parte da premissa. Em concreto, a minha santa mãe alertou-me para o facto de eu não ter feito uma radiografia após a colocação do gesso, asseverando-me que o devia ter feito para ver se o braço tinha ficado na posição certa. Dado que se consolidasse mal, o caso seria depois muito mais complicado. Andei na net, à esquerda, a averiguar se aquele era um procedimento médico obrigatório mas os resultados não foram conclusivos. Assim sendo, com o incómodo no pulso e com a história do raio X pós-gesso a bailar-me no espírito, no dia seguinte voltei à urgência.
Mesmos passos e eis-me de novo na ortopedia. Desta vez, porém, tive azar. Não dei nem com o esquálido, nem com o pesadão de bigode. E fui atendido por um outro tipo. Este, porém, não era médico. Seria seguramente licenciado em Medicina. Médico não era! Já que para isso é necessária a vertente humana, coisa que de todo lhe escapava. Chamemos-lhe, pois, Técnico de Medicina, que é o que lhe assenta melhor. Tenho a ideia de ser um tipo de meia-idade, cabelo curto já grisalho, rosto redondo, olhos pequenos, de gestos despachados e voz igualmente despachada. Creio que nem sequer me fitou nos olhos e mal ouviu o que lhe disse. Uma máquina afinada de passar receitas. Após me ter queixado de dores no braço e no pulso e de ter aventado timidamente a hipótese de um segundo raio X, o Técnico prescreveu-me dois medicamentos, não me explicando sequer o que eram e rejeitou liminarmente e com algum desdém o segundo raio X. Sobre a dor no pulso, nada disse. Tive mesmo de o alertar novamente para isso, tendo ele então escrito a despachar numa letra cursiva e encadeada: «aliviar tala gessada». Lá fui para o corredor, aguardando ser atendido pela enfermeira. Como a sala era em frente e eu estive à espera bem perto de meia hora, pude ver que o Técnico – seguramente uma referência para os gestores do Hospital de S. José mas só para esses – aviou ao mesmo ritmo mais uns quantos doentes. Velhos e novos, em ambulatório ou internados, pelo seu próprio pé, em cadeiras de rodas ou em maca.

O homem é mesmo uma máquina.
To be continued

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4 Comments:

Blogger T said...

E ir ver isso num médico a sério, caro vizinho?
Melhoras e trate-se bem!

segunda-feira, julho 27, 2009 2:48:00 da tarde  
Blogger Luísa A. said...

Meu caro Polis, ser paciente e incutir ânimo e confiança quase me parecem, por estes dias, os grandes «deveres» do médico, mais do que curar. Porque a cura de um mal não impede, infelizmente, que no dia seguinte surja outro. Quanto ao seu braço, qual é o ponto da situação? Tinha presumido que já estava recuperado, mas a T lança a dúvida… :-)

segunda-feira, julho 27, 2009 11:12:00 da tarde  
Blogger T said...

Eu só presumo da leitura do post. Acho-o dolorido.

segunda-feira, julho 27, 2009 11:20:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Caras comentadoras
Como disse no primeiro «post» da série, o caso já tem uns meses. Não estarei, neste momento, 100% recuperado, mas quase. Penso eu, já que ainda tenho para aqui uns conflitos entre massa óssea e tendões/nervos que se manifestam em certos movimentos...
E concordo com o que diz a Luísa sobre os deveres dos médicos: os que o são, claro!
Grato a ambas pela preocupação.

terça-feira, julho 28, 2009 9:49:00 da manhã  

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