9 de janeiro de 2010

Chapelada de aba larga

O acordo conseguido pelos professores é um acordo absolutamente extraordinário em relação ao ponto de partida negocial. O Governo cedeu e cedeu em toda a linha. Dificilmente seria pior! E então, quando se compara a carreira docente com a carreira técnica superior (ts) – já a ponho em minúsculas e bem baixinhas – da Administração Pública (AP), o acordo é ainda mais extraordinário. É que a diferença é abissal... Na ts, só no máximo 5% vão atingir o topo, 75% vão chegar a pouco mais de meio e até podem, na pior das hipóteses, não chegar sequer ao primeiro terço da carreira... Ainda na pior das hipóteses, um ts pode passar 40 anos a trabalhar e reformar-se, a valores de 2009, com 1600€ brutos... em compensação todos os professores irão chegar - parece-me da leitura do acordo - ao topo da carreira ao fim de 38 anos os melhores e de 34 os restantes e todos se aposentam com 3000€ brutos... É só quase praticamente o dobro... E quando falo na pior das hipóteses para os ts não falo em abstracto... É que isso não só é possível como já está a acontecer em algumas organizações... Eu conheço algumas...
Bato, pois, em relação ao acordo, uma chapelada de aba bem larga a Mário Nogueira e aos professores pela retumbante vitória conseguida. E, claro, tenho é pena que os dirigentes dos Sindicatos da AP e todos os trabalhadores em funções públicas – e portanto eu próprio – tenham amochado com tudo o que lhes tem sido feito e não tenham tido igual resiliência...

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2 Comments:

Blogger Luísa A. said...

Foi extraordinária a mobilização dos professores, Politikos. Coisa que, na circunstância em que ocorreu, me deu muito prazer ver. Cheguei a julgar que faria rolar cabeças, mas infelizmente não. Na AP, é praticamente impossível que aconteça o mesmo, porque há gente que se vende por pouco e a solidariedade não pega. Concordo inteiramente com a sua análise do processo. Houve, no fundo, um retorno ao que já era, com pequeníssimos retoques, que a classe docente se encarregará de neutralizar.

terça-feira, janeiro 12, 2010 3:01:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Vejo que a sua costela iconoclasta continua bem viva: quer sangue, quer cabeças... E na linguagem, a caríssima Luísa que é tão sensível à delicadeza da forma, não deixa aqui de escorregar do polimento para a lasca quando acusa «[...] a gente que se vende por pouco [...]». Mas gostava de perceber melhor o que é isso. Quem se vende afinal e por quanto? É que não consigo vislumbrar nem os que se vendem, nem o preço! Se puder/quiser aclarar a coisa com matéria concreta, agradeço.

Na substância, porém, concordo consigo:
1.º Na AP é dificilmente replicável um processo semelhante;
2.º E para os docentes, o que irá ficar não é muito diferente do que existia, quer ao nível das consequências, já que todos chegam ao topo, quer ao nível do próprio processo de avaliação: na prática será um «relatório de auto-avaliação apresentado pelo próprio docente, com regras de elaboração simplificadas e com padrões mínimos de uniformização»...
Acho que esta frase diz tudo...

terça-feira, janeiro 12, 2010 1:11:00 da tarde  

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