2 de janeiro de 2010

Os «mentideros» da Pólis… onde se fala também de dermatologia…

Um problema dermatológico simples mas antigo e nunca debelado levou-me a decidir a marcar uma consulta de dermatologia. Dá-se o caso de beneficiar da ADSE, um dos tais privilégios de que os trabalhadores em funções públicas, antigos funcionários públicos, beneficiam. Para quem conhece, sabe que é um privilégio de excelência, em tudo! Procuro, então, na lista de médicos convencionados e descubro que em todo o concelho de Lisboa só existe um dermatologista convencionado?! Corre nos mentideros que a ADSE paga tarde e mal, pelo que os melhores profissionais nunca aderem. Ligo para lá e só tinha consultas para daí a vários meses. Alguém me alerta que a Clínica CUF Belém, com acordo com a ADSE, também tem a especialidade de dermatologia. Ligo. Assim é, de facto, tem 3 médicos, com consultas quase todos os dias, mas marcações, nem vê-las. Só para daí a vários meses... Deve, com toda a certeza, haver por aí uma pandemia de problemas de pele... Corre nos mentideros, que o truque é marcar como particular e depois, no acto do pagamento, dizer que se é beneficiário da ADSE... Confesso que ainda estive para testar a artimanha, mas isso, em caso de confirmação, obrigar-me-ia a denunciar o caso à Inspecção-Geral da Saúde... Seria realmente um acto cívico, pois só assim as coisas podem mudar, mas burguesmente já há algum tempo entrei em fase de me defender desses arroubos de civismo... Ou, então, ando todos os dia a indignar-me civicamente, o que é cansativo e não carece… Resta dizer que a Clínica CUF Belém, como todas as instituições modernaças, tem no seu site uma missão, valores e até um código ético com bonitas e melífluas palavras...
Acontece, porém, que a consorte trabalha numa chafarica, uma organização de nível médio, com algumas dezenas de trabalhadores, e claro, sem os privilégios da Administração Pública, mas que, contudo, disponibiliza aos seus colaboradores – lá chamam-se assim, pois trabalhadores é coisa do passado obreirista, expressão curiosamente recuperada para o léxico pelo executivo Sócrates – um seguro de saúde básico extensivo – pasme-se – ao cônjuge! E, ainda por cima, costuma consultar-se com uma dermatologista de que gostou e recomenda. Acresce ainda que volta e meia a dita dermatologista aparece a comentar problemas de pele numa das televisões da Pólis. Não quer dizer que isso a recomende particularmente, mas, enfim, parte-se do princípio, se calhar mau, que isso também a recomenda... Caramba, sabe-se que só aparece na televisão quem é importante e quem tem alguma coisa para dizer... Mercê desse seguro pude, assim, beneficiar de uma consulta, pela qual paguei €40, ou seja, metade do preço de tabela. Pude marcar para daí a dias e não passei pelo opróbrio de ser um dos privilegiados por uma consulta daí a meses...
A dita dermatologista tem um consultório numa das mais conhecidas artérias de Lisboa. O espaço é num andar de habitação adaptado, como muitos, aliás. Os espaços comuns são acanhados. O balcão de atendimento é no hall de entrada, a sala de espera é num dos quartos, o gabinete médico é, presumo, numa divisão que inclui a sala de jantar e a de estar, tomando ainda, creio, o espaço de uma antiga varanda. É por isso uma divisão espaçosa, com uma generosa vidraça que abre para uma vista rasgada sobre o bulício daquela via.
A médica é uma mulher de mais de cinquenta anos, cabelos bem tratados em tons aloirados, corpo e peso cuidados para a idade. É alta, tem alguma presença e uma personalidade assertiva, o que também é apanágio da classe. É curioso que estando no atendimento duas jovens muito jovens, de aspecto esquálido, das quais já não recordo nenhum traço físico particular, ser a médica que eu recordo melhor... Ora aí está como nem só a idade faz uma mulher. Lá terei de invocar aqui um chiste marialva de um amigo que costuma dizer que as mulheres mais novas são boas para olhar e as mais velhas... Não vou tão longe! Pois aquilo é bem capaz de ser coisa dele, para se compensar de já não poder ter mulheres mais novas... Esta do ter também tem que se lhe diga, mas apetece-me que fique assim... Adiante, porém, que esta boca já me irá causar, nalgumas sedes, alguns amargos de boca… É o que dá em tempos ter sido incauto, e vaidoso, ao ponto de ter dado o endereço do blogue a umas quantas almas amigas, felizmente muito poucas...
Após umas frases de circunstâncias, entramos na consulta que se desenrola rapidamente. Aliás, eu já levava o diagnóstico feito. Ela apenas confirmou e prescreveu o tratamento adequado. O guião pareceu-me estudado: um tempo para as frases de circunstâncias e um tempo para o diagnóstico óbvio... E ainda bem, porque eu também não retiraria nenhum prazer da conversa com a senhora que me pareceu, por umas considerações que teceu sobre a orgânica da Administração Pública, ser detentora de uma atroz ignorância em tudo o que não dissesse respeito a problemas de pele...
Vou no dia seguinte à farmácia aviar as receitas – coisa em desuso hoje em dia mas que ainda se diz e recupero aqui. E saio de lá sem cerca de €100. Já se sabe que os medicamentos dermatológicos são caros, mas ainda dei por mim a indagar sobre quais tinham maior peso na conta. Ao que a farmacêutica me disse que era um anti-fúngico, de que já havia um genérico, pelo qual poderia ter pago metade do preço, mas que a médica, sem me perguntar nada, nem me dar nenhuma explicação, havia colocado uma cruz na receita, impedindo, assim, o farmacêutico de colocar em equação o genérico e a mim a possibilidade de optar. Corre nos mentideros que os médicos beneficiam de umas viagens e de uns presentes dos laboratórios por prescreverem determinados medicamentos e não outros...
Claro que de tudo o que aqui se disse correr nos mentideros são coisas que não são verdadeiras, seguramente produto de almas mal intencionadas, pois:

  1. A ADSE paga atempadamente e o preço justo, assegurando aos trabalhadores públicos os melhores clínicos;
  2. A Clínica CUF Belém marca sem discriminação doentes da ADSE e doentes particulares e de outras convenções;
  3. A dermatologista cinquentona acha que aqueles medicamentos é que são eficazes e não recebe nenhuma prebenda do laboratório por os receitar.

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3 Comments:

Blogger Luísa A. said...

Meu caro Politikos, interessante primeiro parágrafo, muito interessante segundo parágrafo, interessantíssimo quarto parágrafo, arrepiante quinto parágrafo, brilhantes conclusões.
P.S.1: Sobre o terceiro parágrafo, pronunciar-me-ei logo que consiga superar o estado de intensa perplexidade em que me encontro. :-S
P.S.2: Mas, apesar do terceiro parágrafo, aqui renovo veementemente os meus votos de um excelente 2010. ;-D

segunda-feira, janeiro 04, 2010 5:10:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Minha cara Luísa. Se não a conhecesse, punha-me a contar os parágrafos, como a conheço, fui logo ao sítio... Apesar da perplexidade - que presumo seja apenas em relação a parte do parágrafo, ou se calhar apenas a uma frase... - verá que, à segunda leitura, terá sobre ele uma maior benignidade... E à terceira, então, achá-lo-á até galante... Naturalmente que para tal terá de dar os necessários descontos - e eu sei que os dará - a certas expressões «men's talking», pois já se sabe que a esse espécimen da pedra lascada lhe falta de todo a delicadeza da forma da pedra polida...
:-)
UM EXTRAORDINÁRIO 2010 tb para si

segunda-feira, janeiro 04, 2010 7:09:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu sempre confio na lista de dermatologia em curitiba porque sei que são todos profissionais confiáveis, senão o plano não os contrataria.

terça-feira, outubro 23, 2012 12:58:00 da manhã  

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