26 de fevereiro de 2010

Contra-Cultura...

tinha manifestado por diversas vezes no meu círculo de amigos a minha estupefacção pelo facto de ainda não ter aparecido, nos últimos anos, um candidato à Presidência da República forte e abrangente, oriundo da chamada sociedade civil. O que era ainda mais premente num tempo em que nos partidos, quais famílias reais medievais casando e descasando entre si, não se vislumbravam alternativas internas. E em que estes nunca equacionavam que elas poderiam existir no exterior de si mesmos. Depois da Primeira República, durante todo o Estado Novo e já mesmo depois do 25 de Abril, os militares dominaram o cargo, cedendo depois passo de forma natural, numa época de détente, ao pessoal político. Uso a expressão sem nada de pejorativo, mas apenas para acentuar que eram políticos puros, nados e criados nos partidos. E quando me pediam nomes capazes de o protagonizar, citava, à cabeça, o de Fernando Nob­re, mas também de Alexandre Quintanilha, João Lobo Antunes, António Câmara, gente brilhante nos respectivos campos e com mundividência. Vejo, pois, com muita simpatia esta candidatura. Sobretudo acho muitíssimo salutar para o regime que estas figuras apareçam. E embora os partidos não o sintam, estas candidaturas são também boas para eles já que assim se confrontam com pessoas com outras lógicas e oriundas do mundo exterior. Seria era realmente um passo à frente que eles saíssem do onanismo em que têm vivido e aparecessem a apoiá-las. Até porque no nosso regime a figura do Presidente da República está constitucionalmente desenhada para uma pessoa exterior ao sistema político. O que tem sido visceralmente contra-natura é ela ter sido desempenhada por pessoas de dentro do sistema.

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2 Comments:

Blogger Luísa A. said...

Concordo, Politikos, embora tenha algum receio do idealismo que possa mover essa gente. Mais receio do que teria de uma mera ambição. É suposto haver distanciamento partidário, e é nesse distanciamento que apoia a sua tese. Pois a mim parece-me mais difícil obter um tal distanciamento de pessoas politicamente inexperientes, e menos capazes, por isso, de superar, ou disfarçar, ou resistir às suas naturais simpatias políticas, do que de pessoas calejadas no jogo e até, se calhar, um pouco desgostadas dele. A ver vamos. Por alguma razão, o Fernando Nobre não me convence. Apesar de todo o mérito (generosidade, iniciativa, organização) que julgo que tem demonstrado com a sua acção, ainda não ganhou «estatura» aos meus olhos. :-)

sábado, fevereiro 27, 2010 1:38:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Luísa, parece impossível! A zurzir constantemente nos políticos e quando aparece um não político na política diz que não tem experiência e que não a convence! Sempre a zurzir nos cínicos da política e quando aparece um que tem menos ademanes, a Luísa diz que prefere os outros! É masoquismo!? Em que ficamos afinal!? Contentamo-nos com os habituais «players»?!
Deixe-me dizer-lhe, porém, que o distanciamento partidário não é um bem em si mesmo, é útil porque confronta a «sociedade fechada» e «iniciática» dos partidos com gente de fora deles. Não estou com isto a fazer a defesa dos «puros» de fora contra os «impuros» de dentro. Estou apenas a defender como útil a miscigenação. E a sublinhar que a figura do PR está constitucionalmente talhada, como árbitro que se eleva acima dos «players», para ser desempenhada por alguém de fora... O que tem sido estranho é ela ter vindo a ser desempenhada por gente de dentro...

domingo, fevereiro 28, 2010 11:40:00 da manhã  

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