30 de janeiro de 2010

Exemplo & Equidade, S.A.

Não voto em eleições legislativas. Não votei PS, nem votei Sócrates. Não me revejo na pessoa, no percurso, na atitude. Não me revejo sequer neste PS. Mas durante os dois primeiros anos de governação não me atrevi, no meu círculo de amigos ou onde quer que fosse, a criticar globalmente o Governo. E dei comigo, muitas vezes, até a defendê-lo! Porquê? Porque gostando-se ou não, Sócrates procurava governar pelo exemplo. O primeiro deles foi retirar os benefícios das subvenções vitalícias aos titulares de cargos políticos e, portanto, a ele próprio. Foi possível, assim, pelo menos para mim, a alteração radical das regras das aposentações, em relação às quais não houve também publicamente oposição de maior. As palavras-chave eram exemplo e equidade. Os sacrifícios eram pedidos de forma transversal a todos ou pelo menos a muitos.
Hoje, não há nem exemplo, nem equidade. Que equidade haverá quando todos os professores vão atingir o topo da carreira aos 38 anos de serviço ao passo que só no máximo 5% dos técnicos superiores da Administração Pública vão atingir igual patamar no final de 40 anos de carreira? E que um professor mediano se vá reformar com 3000€ brutos enquanto um técnico superior mediano muito provavelmente só se poderá reformar com 1600€? Que equidade haverá quando numa semana se permite o crescimento exponencial da massa salarial dos professores e na outra se congelam os vencimentos de funcionários e demais trabalhadores públicos, inclusive os dos próprios professores?! Nenhuma!
Assim não é possível governar nem pedir sacrifícios!
Em Política o que parece nem sempre é! É por isso que pasmo que se continue a apontar o acordo com os professores como uma vitória da Ministra da Educação, actualmente incensada, e do Governo, quando foi uma mera capitulação. O que pergunto é se quem afirma isso leu o acordo? E já agora se os magos das contas contabilizaram o que ele irá custar?! E, já agora, se olharam para o lado e o leram à luz da equidade?! É que a Política não é apenas uma abstracção para discutir nos media, é algo que tem consequências na vida das pessoas...

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2 Comments:

Blogger Luísa A. said...

Concordo com a sua análise, Politikos. Não tendo a menor simpatia pela força política de que o PM provém, consigo distinguir na sua governação dois períodos: um primeiro, em que me pareceu imbuído de alguns ideais quase louváveis, e tão cheio de energia como de boa-vontade; e um segundo - que começa com a saída do seu Ministro das Finanças (Campos e Cunha) e se consolida com as acusações feitas e as suspeitas lançadas sobre a sua idoneidade académica e outras - em que o seu comportamento se torna o de um acossado, errático, auto-defensivo e tendencialmente tirânico. Por outro lado, julgo que a sua equipa – além do próprio, claro! – carece de reais competências, gente que perceba a fundo das coisas. Mas essa gente não quer, presentemente, ter nada a ver com o poder. E a acção governativa, nomeadamente legislativa, tem-se, por isso, desenvolvido na base dos palpites e das ideias superficiais, com grande leviandade e sem nenhuma visão de conjunto, retrospectiva ou prospectiva. Uma tristeza!

segunda-feira, fevereiro 01, 2010 4:29:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Les bons esprits se rencontrent... ;-)
Faço-lhe, porém, algumas ressalvas:
1.ª Aponto para um período bastante posterior à demissão de Campos e Cunha o descrédito do Governo a meus olhos; para mim começou na forma como justificaram as reformas: é que sou sempre partidário da verdade e não da mistificação; se é para poupar dinheiro deve-se dizer claramente isso e não que é para «moderar» o acesso a operações cirúrgicas, por exemplo; podia dar-lhe dúzias de exemplos parecidos, e acabou com a intervenção desastrada e pouco fundamentada na dupla BPN/BPP, cujos custos crescem dia a dia, sem que haja nenhuma justificação e com o Ministro Teixeira dos Santos a dizer que o Estado não meteu lá nem um cêntimo... Há que ter ao menos verosimilhança no que se afirma, esta declaração não tem sequer decência... E levou a pazada final com o recente acordo com os professores; neste momento para mim está morto e enterrado fundo;
2.ª Tem razão na escolha dos ministros: houve sempre a preocupação de escolher gente sem pensamento próprio, moldáveis e adaptáveis à vontade do chefe... Há casos quase lamentáveis, autênticos «erros de casting». O problema das escolhas passa tb, penso, pelo excessivo peso que nós pomos em cima deles e pela forma como os tratamos (apodando-os de tudo) e os remuneramos (mal)...
3.ª Discordo de si na questão da acção governativa se ter desenvolvido na base dos palpites e das ideias superficiais, mas concordo na qualidade da legislação que, do que conheço, é mal feita, pouco clara e remissiva.
Enfim!

quarta-feira, fevereiro 03, 2010 12:16:00 da manhã  

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