O patriotismo, hoje – parte II
Num dos últimos programas Quadratura do Círculo, ouvi Pacheco Pereira tecer uma série de considerandos sobre o patriotismo, a propósito do Mundial de Futebol e da ostentação dos símbolos nacionais que se vê por toda a parte. Criticou a bandeira portuguesa, com o logótipo do BES e do Expresso num dos cantos, que foi distribuída com aquele jornal há umas duas semanas, e rematou dizendo que este era um «patriotismo de pacotilha». Embora não contrapusesse o que achava que ser o verdadeiro patriotismo, o autêntico, o genuíno, por contraponto ao «patriotismo tipo-Serra», Pacheco Pereira «desfraldou» ali mesmo, para mostrar o nefando crime, a tal bandeira do Expresso, após o que teve necessidade de a dobrar. E aí disse qualquer coisa como (cito de memória): «bom, não estou a dobrar a bandeira de acordo com o que é adequado, mas também não interessa porque isto não é a bandeira portuguesa». É notável esta perspectiva ritualista que alguma da nossa inteligência tem dos símbolos nacionais. Não sei – e até duvido que Pacheco Pereira saiba – os «preceitos canónicos» utilizados para dobrar a bandeira nacional. E julgo que apenas uma vez – na cerimónia de passagem de soberania de Macau para a China – os terei visto, pela mão do governador Rocha Vieira. Agora o que acho é que este é mais um tipo de elitismo e de snobismo da nossa inteligência. Diria mesmo um «elitismo de pacotilha»...
Etiquetas: Futebol, Sociedade, Sociologia
8 Comments:
Pois, desta vez, pelo menos por aqui, a metade verde é maior do que a metade vermelha :-)
O JPP, homem inteligente e culto, tem uma grave falha. Falta-lhe inteligência emocional.
Cara Luar, afinal sempre concordamos em algumas coisas?!?! ;-)
Inteiramente de acordo, Maloud. O homem é, de facto, inteligente, culto, informado e com grande capacidade de trabalho, mas falta-lhe a dimensão humana das «coisas», aquilo é tudo muito intelectualizado, além de um certo desprezo pelo povoléu, que me irrita um bocado... É «nós aqui» e «vós aí»... E como deve ser um bocado assim na vida, isso condiciona-lhe uma compreensão mais completa dos fenómenos...
Embora concorde com o comentário de que JPP tem um bocado a mania de se armar em sabedor para quem essa coisa horrível do "povão" é para desprezar, principalmente se gostar de futebol, concordo inteiramente com ele no que se refere à aposição de símbolos à bandeira. Assim como não é para espezinhar, a bandeira também não é para ter publicidade ao BES e o Expresso. De facto, isso não é a bandeira. Que diabo, quando eu estava na tropa tinha que me pôr em sentido e fazer continência no hasterar e no arrear da bandeira! E quando estava de serviço era obrigatório estar presente nesses actos solenes!
Pode não se gostar das bandeiras no carros ou nas janelas, mas no mínimo respeite-se o símbolo. Mesmo que a metade verde seja ARTIFICIALMENTE tornada maior que a vermelha...
Sim, é verdade, tb eu não concordo com a utilização de publicidade comercial ou institucional num dos cantos da bandeira, mas daí a, por esse facto, não se considerar essa bandeira como sendo a bandeira nacional vai uma grande distância... O que eu eu critico no JPP é a snobeira do «patriotismo elitista» e estritamente ritualista da bandeira dobrada segundo os preceitos do protocolo, por oposição ao «patriotismo de pacotilha» das bandeiras à janela... Eu por mim gosto de ver a bandeira à janela, nos lenços nas malas das senhoras, nas t-shirts, e até (ou sobretudo) pintada sobre um corpo nu ;-) etc., etc.
Como eu disso, caro Kroniketas, a metade verde só é maior aqui. E não foi artificial. Calhou, assim...
Tb li essa notícia na Sabádo, cara Luar, e se reparar vem ilustrada com a bandeira nacional pintada numa das vacas da cow parade, que se encontra na Praça do Município... Não será isto tb um desrespeito? Eu respondo já. Acho que não.
O Pacheco Pereira já deve estar mais uma vez passado. Eu estou a recompôr-me do surrealismo russo. Muito, mas muito colorido.
:-D Pois, pois. O homem quer voltar à Politicolândia e este momento a Futebolândia não lho permite. O surrealismo russo existiu, de facto. Mas há-de convir que foi para os dois lados e até houve da parte portuguesa algum trompe d'oeil ;-) Coisas de artistas, num festival de cor amarela e vermelha...
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