24 de junho de 2006

O patriotismo, hoje – parte II

Num dos últimos programas Quadratura do Círculo, ouvi Pacheco Pereira tecer uma série de considerandos sobre o patriotismo, a propósito do Mundial de Futebol e da ostentação dos símbolos nacionais que se vê por toda a parte. Criticou a bandeira portuguesa, com o logótipo do BES e do Expresso num dos cantos, que foi distribuída com aquele jornal há umas duas semanas, e rematou dizendo que este era um «patriotismo de pacotilha». Embora não contrapusesse o que achava que ser o verdadeiro patriotismo, o autêntico, o genuíno, por contraponto ao «patriotismo tipo-Serra», Pacheco Pereira «desfraldou» ali mesmo, para mostrar o nefando crime, a tal bandeira do Expresso, após o que teve necessidade de a dobrar. E aí disse qualquer coisa como (cito de memória): «bom, não estou a dobrar a bandeira de acordo com o que é adequado, mas também não interessa porque isto não é a bandeira portuguesa». É notável esta perspectiva ritualista que alguma da nossa inteligência tem dos símbolos nacionais. Não sei – e até duvido que Pacheco Pereira saiba – os «preceitos canónicos» utilizados para dobrar a bandeira nacional. E julgo que apenas uma vez – na cerimónia de passagem de soberania de Macau para a China – os terei visto, pela mão do governador Rocha Vieira. Agora o que acho é que este é mais um tipo de elitismo e de snobismo da nossa inteligência. Diria mesmo um «elitismo de pacotilha»...

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8 Comments:

Blogger Politikos said...

Pois, desta vez, pelo menos por aqui, a metade verde é maior do que a metade vermelha :-)

sábado, junho 24, 2006 12:02:00 da tarde  
Blogger maloud said...

O JPP, homem inteligente e culto, tem uma grave falha. Falta-lhe inteligência emocional.

sábado, junho 24, 2006 1:00:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Cara Luar, afinal sempre concordamos em algumas coisas?!?! ;-)

sábado, junho 24, 2006 1:30:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Inteiramente de acordo, Maloud. O homem é, de facto, inteligente, culto, informado e com grande capacidade de trabalho, mas falta-lhe a dimensão humana das «coisas», aquilo é tudo muito intelectualizado, além de um certo desprezo pelo povoléu, que me irrita um bocado... É «nós aqui» e «vós aí»... E como deve ser um bocado assim na vida, isso condiciona-lhe uma compreensão mais completa dos fenómenos...

sábado, junho 24, 2006 1:32:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Embora concorde com o comentário de que JPP tem um bocado a mania de se armar em sabedor para quem essa coisa horrível do "povão" é para desprezar, principalmente se gostar de futebol, concordo inteiramente com ele no que se refere à aposição de símbolos à bandeira. Assim como não é para espezinhar, a bandeira também não é para ter publicidade ao BES e o Expresso. De facto, isso não é a bandeira. Que diabo, quando eu estava na tropa tinha que me pôr em sentido e fazer continência no hasterar e no arrear da bandeira! E quando estava de serviço era obrigatório estar presente nesses actos solenes!
Pode não se gostar das bandeiras no carros ou nas janelas, mas no mínimo respeite-se o símbolo. Mesmo que a metade verde seja ARTIFICIALMENTE tornada maior que a vermelha...

domingo, junho 25, 2006 12:53:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Sim, é verdade, tb eu não concordo com a utilização de publicidade comercial ou institucional num dos cantos da bandeira, mas daí a, por esse facto, não se considerar essa bandeira como sendo a bandeira nacional vai uma grande distância... O que eu eu critico no JPP é a snobeira do «patriotismo elitista» e estritamente ritualista da bandeira dobrada segundo os preceitos do protocolo, por oposição ao «patriotismo de pacotilha» das bandeiras à janela... Eu por mim gosto de ver a bandeira à janela, nos lenços nas malas das senhoras, nas t-shirts, e até (ou sobretudo) pintada sobre um corpo nu ;-) etc., etc.
Como eu disso, caro Kroniketas, a metade verde só é maior aqui. E não foi artificial. Calhou, assim...
Tb li essa notícia na Sabádo, cara Luar, e se reparar vem ilustrada com a bandeira nacional pintada numa das vacas da cow parade, que se encontra na Praça do Município... Não será isto tb um desrespeito? Eu respondo já. Acho que não.

domingo, junho 25, 2006 7:49:00 da tarde  
Blogger maloud said...

O Pacheco Pereira já deve estar mais uma vez passado. Eu estou a recompôr-me do surrealismo russo. Muito, mas muito colorido.

segunda-feira, junho 26, 2006 12:13:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

:-D Pois, pois. O homem quer voltar à Politicolândia e este momento a Futebolândia não lho permite. O surrealismo russo existiu, de facto. Mas há-de convir que foi para os dois lados e até houve da parte portuguesa algum trompe d'oeil ;-) Coisas de artistas, num festival de cor amarela e vermelha...

segunda-feira, junho 26, 2006 7:15:00 da tarde  

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