17 de janeiro de 2007

O segredo de justiça e o PGR

Hoje ouvi na TSF o PGR afirmar, com a sua própria voz, que não havia nada a fazer para erradicar a violação do segredo de Justiça e que este seria sempre violado. E que não tinha nenhuma solução miraculosa para o problema. No final, ainda se deu ao desfrute de se rir um pouco e - fundamental neste contexto - enroupar as declarações num afago suave aos jornalistas: «coitados são aqueles que são sempre apanhados», ou qualquer coisa assim… Fica bem e rende-lhe créditos públicos junto dos fazedores de opinião: o anterior PGR não teria certamente esta capacidade estratégica de sedução… Logo em seguida, veio pressuroso o bastonário da Ordem dos Advogados concordar, mas esse, apesar de tudo, avançou com qualquer coisa de concreto: disse que só uma pequena parte dos processos-crime precisava de ser abrangido pelo segredo de justiça e não todos, como actualmente acontece. Confesso que fico chocado com estas declarações por parte de gente com esta responsabilidade, sobretudo com as declarações do PGR, pela total capitulação que representam perante o actual estado de coisas nessa matéria. Imaginemos que os bancos faziam o mesmo e que as nossas contas andavam a ser devassadas na praça pública?! Imaginemos que os hospitais faziam o mesmo e que a nossa ficha clínica andava a ser revelada aos quatro ventos?! Era o caos: nenhum banco ou hospital sobreviveria a isso... E também lá trabalham centenas de pessoas com acesso a esses dados… A diferença, porém, é só uma: é que na banca e na saúde podemos escolher e passar ao lado mas na justiça, que goza da sua sacrossanta independência e não é controlada por ninguém a não ser por si própria, temos de gramar com o que temos?! O problema não é do nome e da figura do PGR, o problema é de mentalidade e essa é bem mais difícil de mudar… E é também de organização e controle do próprio sistema judicial e em última análise da tradicional estruturação tripartida de poderes…
Nota - E a imagem, fomos buscá-la
aqui.

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7 Comments:

Blogger q.b. said...

Não sei, meu caro Politikos, se nos hospitais também não há fugas de informação, quando o paciente é uma figura de interesse mediático. Fugas, só não as há nos bancos – digo eu – porque são entidades privadas e o mundo em que se movem altamente competitivo.

sábado, janeiro 20, 2007 3:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos, é sem dúvida revoltante essa atitude conformista perante os erros ou falhas do sistema. Sobretudo porque falamos em erros ou falhas humanas.

sábado, janeiro 20, 2007 3:37:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Acho que não, cara q.b., veja o caso do Fidel: o homem está no hospital há não sei quantos meses e nós ainda não sabemos bem o que o homem tem?! Talvez mandar os nossos agentes da Justiça fazer um estágio para Cuba não fosse mau?! Digo eu, claro...
Agora para uma boa «blindagem», eu aconselhava um estágio nos bancos suiços, por exemplo...

sábado, janeiro 20, 2007 11:46:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Ainda bem que concorda, cara Luar... O problema é mesmo de atitude... Creio bem que apesar da mudança de «artista» tudo irá continuar na mesma... Infelizmente...

sábado, janeiro 20, 2007 11:47:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

É claro que não é fácil, cara Graciete, mas para resolver as situações difíceis é que existem responsáveis. Além disso se se consegue sigilo em vários domínios, porque é que não se consegue tb neste?!

domingo, janeiro 21, 2007 7:33:00 da tarde  
Blogger maloud said...

Em Março de 2004, num evento social, ficámos numa mesa com um jovem senhor procurador do MP, cujo nome não recordo. Esse senhor, apesar de saber onde eu morava e em que círculos me movia. revelou que o major e o PC iam ser constituídos arguidos, visto já haver provas. Esclareceu ainda que o problema era o timing, uma vez que vinha aí o Euro. No comments.

quinta-feira, janeiro 25, 2007 5:17:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Na verdade, Maloud, «no comments»... Aliás coisa idêntica aconteceu - sei-o e não só pelos jornais - com a acusação ao Ferro Rodrigues... em que em certo restaurante muito «in» da capital o processo foi discutido em «alta voz»...

sexta-feira, janeiro 26, 2007 12:06:00 da manhã  

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