A boa imprensa
Não me restam grandes dúvidas de que o actual Primeiro-Ministro (PM), José Sócrates, tem – e sempre teve - uma boa imprensa. A excepção foi o caso Freeport que não beliscou em nada a sua credibilidade, muito pelo contrário. A investigação não só produziu apenas irrelevâncias, como ainda descobriu alguns indícios de maquinação. O PM saiu – e bem – por cima de tudo aquilo. Desconto ainda a boataria que, a dado momento, se levantou sobre a orientação sexual do PM, que me pareceu atoarda e que, mesmo que o não fosse, seria matéria de irrelevante interesse público. De onde, também aí, Sócrates saiu – e bem – daquilo tudo. E talvez tenha até capitalizado. É que só pela boa imprensa, se compreende o tom de quase desculpa com que O Público publicou uma investigação sobre a licenciatura do PM e, bem assim, o facto de as televisões e os semanários não terem pegado no caso. Andou bem O Público em fazê-lo. Pelo que li, o caso permite-nos, pelo menos, a dúvida razoável, que merece investigação e estampa. Andou bem também o PM quando mandou retirar do Portal do Governo o título de Engenheiro para lá colocar a designação licenciado em Engenharia Civil. Apesar disto, e se calhar até só por isto, qualquer outro político que não ele estaria a esta hora em estado pré-comatoso… Se já me começava a intrigar uma certa unanimidade em torno do PM, agora inquieta-me que um jornal, dos ditos de referência, quase peça desculpa por investigar um caso de interesse público óbvio e de os outros não o fazerem…
Etiquetas: Jornais, Personagens, Sociedade
10 Comments:
Caro Politikos, o «licenciado» (?!)José Sócrates tem tido uma excelente imprensa! O que é, de facto, inquietante, se atendermos a que não são completamente claros os critérios por que os «media» perdoam a uns o que não perdoam a outros. Estava capaz de referir a pertença partidária, mas não quero tirar conclusões simplistas…
Minha cara, há jornais de todas as tendências e há gente de todos os partidos e de todas tendências em todos os jornais... Não penso que seja por aí...
Este é um caso a acompanhar, com atenção, mas para mim já constitui uma espécie de «case study»...
Estou em absoluto de acordo consigo, caro Politikos. O Sócrates é um case study e não só por ter boa imprensa.
Quanto aos títulos tudo isto é ridículo e de opereta. Fiquei a saber que sou casada e irmã não de engenheiros, mas de licenciados em engenharia. Um na UP, o outro na Suíça. Nenhum deles precisa da Ordem para nada. Entretanto qualquer badameco {conhece este vocábulo fino?} que se licencie em Letras, Ciências, Farmácia, and so on passa a doutor. Nem imagina a quantidade de doutores{as} que me rodeiam. Desde o{a} professor{a} que fez o bacharelato e se enfiou nos liceus da época, até às balconistas das farmácias. Para que não me confundam com esta gente proíbo terminantemente os bancos de me porem o drª. antes do nome, apesar da licenciaturazinha que consta das habilitações que eles pedem. Já nem o meu arrumador de serviço se atreve a chamar-me drª. Já sabe que não leva a moeda.
Caros,
Pois eu estou muito triste!
Pensava eu que tinha gerado um engenheiro! afinal o meu flho só tem o mestrado em Engenharia Informática do Instituto Superior Técnico. Não passa de um mestre!! ... Mas o que é isso: um mestre? Não tem o mesmo estatuto de engenheiro...desci uns quantos degraus na escala social... Que desassossego!
Pois caras Maloud e Nanda
Parece-me que se pega no acessório, deixando de lado o essencial. O retirar o título de «Engenheiro», por parte do nosso PM, só foi por mim apontado como adequado, por ser um sinal de conformidade absoluta para com a lei – boa ou má – como convém a qualquer pessoa e sobretudo a um titular de cargo político. Sobre a acreditação dos cursos, nem sequer me vou pronunciar sobre isso, porque conheço mal a questão. Mas, se querem que vos diga, e à primeira vista, até nem acho mal que a Ordem dos Engenheiros faça a gestão dos títulos, não pelo título em si mas pelo que isso representa na respectiva acreditação dos cursos, pelo menos faz mais do que a maioria das demais ordens e associações profissionais que deixam criar, sem se pronunciar, cursos a esmo… Não será certamente alheio a isso o facto de muitos dos seus membros darem aulas, em regime «turbo», em não sei quantos desses cursos… Aliás, e como tb sabem, têm aparecido nas últimas duas décadas uma verdadeira verborreia de «engenharias», que põe em causa o conceito e os ramos tradicionais da «engenharia»… Aliás o próprio Sócrates tem uma pós-graduação em «Engenharia Sanitária», tirada na Escola de Saúde Publica de Lisboa…
Vale ainda a pena dizer que, mesmo com Ordem, os licenciados em Direito não são de imediato advogados ou, sem Ordem, os licenciados em História não são de imediato historiadores, os de Filosofia filósofos, os de Jornalismo jornalistas, etc., etc., é preciso ganhar «estatuto» formal ou informal, sendo apenas licenciados nas respectivas áreas, de onde…
Quanto ao badameco, então não conheço, caríssima Maloud, só que não utilizo… Prefiro o borra-botas… Acho a palavra mais... expressiva… Manias! :-)
Ainda sobre os títulos, em tempos idos pedi para me retirarem o «Dr.» nos cheques da CGD porque achava que aquilo era um bocado ostensivo (não o havia mandado pôr, sequer) e tive (pasme-se) de fazer um requerimento para tal… E agora numa das contas conjuntas aqui com a consorte (ou sem sorte, é melhor perguntar-lhe…!) ela aparece «Dr.ª» e eu só com o nome, ainda por cima como os nomes estão alinhados um com o outro, o título existente nota-se mais… Porém, eu capitalizei logo isto a meu favor... É que quando chega a altura de pagar, eu digo-lhe logo: «passa tu o cheque que tu é que és «Dr.ª» :-) :-) :-) :-)
Por último, «last but not the least», o menos preocupante de tudo é exactamente a questão do título… Grave é tudo o resto de que fala a reportagem de «O Público» e que me eximo de aqui repetir… E o que me intriga acima de tudo, e é esse o objectivo do poste, é a boa imprensa que o PM tem…
Cara Nanda
Antes de mais, bem-vinda ao Pólis. Pois, sossegue, minha cara, é que se não gerou um «engenheiro», gerou pelo menos um «dr.», deixe lá… De onde, vai tudo dar ao mesmo… Sossegue que a sua posição na escala social se mantém «firme e hirta» com o velho e honorável «dr.»… A menos que faça muita questão no «engenhocas»... ;-). Volte sempre.
Pois não, meu caro. Nem eu sou filóloga, nem as minhas filhas historiadoras, mas se não nos pomos a pau do doutora ninguém nos livra.
E quanto às Ordens tem muito que se lhe diga. Aquilo é corporativo aré dizer chega. Espero que nunca tenha de fazer uma queixa por negligência grosseira ou mais prosaicamente incompetência à Ordem dos Médicos. Em tempos um que presidia ao conselho ou colégio da especialidade explicou-me tim tim por tim tim como dava a volta. E deu. No meio deste cozinhado alguém ficou cego.
E ainda quanto ao Público, não se esqueça que dois dias antes o Eng.{espero que esteja na Ordem} Belmiro tinha batido forte e feio no Sócrates por causa da OPA. O JMF, ao qual, segundo o boatério, novo cluster nacional, também faltam umas cadeiras, teve receio de parecer a voz do dono. Daí aquelas explicações atabalhoadas.
Caríssima Maloud. Não estou aqui a fazer a defesa das Ordens, «tout court», apenas no particular da acreditação já que o Estado quase se demitiu de avaliar os cursos que por aí andam - de públicas e de privadas... É evidente que é mais fácil fiscalizar restaurantes, padarias e apreender contrafacção nas feiras... - e bem - mas não chega e há muito sector que precisava de ser - e bem - fiscalizado...
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Quanto ao «Dr.» - essa instituição -, o que se há-de fazer neste país de «salamaleques» sociais... Pela minha parte, por vezes, quase que dou graças a Deus de haver os «drs»... Despacho tudo assim... É que me aborrece tratar a minha gestora do banco, uma «catraia» de 20 e tal anos por «Sr.ª D.ª» ou por «D.ª» e já receei arriscar só o «Cristina», mas lá teve de ser... Já viu, pois, a imensa falta que o «Dr.» faz?!?! :-)))))))))
Quanto a «O Público», talvez não seja inocente a ocasião, mas isso pouco importa, já que havia matéria para análise e até achei a peça bem feita e tratada com cuidado e com rigor... Como reconhecerá, apontam-se facilmente vários factos que não estão (mesmo) nada bem...
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