16 de março de 2007

Trilogia da PSP: o desfecho

Manhã do dia do julgamento arbitral, marcado para a tarde: telefonema de um advogado da Sony. Pela voz, seria rapaz para ter entre 28 e 35 anos. Imagino, pela voz e pelo estilo, um yuppie de crescimento rápido. Muitas hormonas em pouco tempo e ei-lo chegado a um peso que se percebe depois que é só água. Falta-lhe músculo. Faltava-lhe, aliás, quase tudo: savoir faire e saber estar socialmente, pelo menos ao telefone. Mentalmente imaginei uma figura com um fato Armani ou similar e botões de punho com design de criador. Porém, quando abria a boca, ficava só mesmo o fato Armani ou similar e os botões de punho e percebia-se que ficava ali melhor um pronto-a-vestir da rua dos Fanqueiros e uns botões de punho de prata dourada, daqueles que se colocam por cima dos botões. Diria que se tratava de alguém com uma educação social básica mas sem qualquer polimento pessoal. Alternava os «por favor» e os «obrigado» com os «eh pá» e o «eh pá, vamos lá ver». Esclareça-se que os «eh pá» e os «eh pá, vamos lá ver» eram usados quando ele começava a perder o pé à conversa. Além disso, e pior que isso, era pouco profissional. Não havia lido a minha carta mas apenas o documento do Centro de Arbitragem. E só trazia uma proposta. Não estava sequer preparado para contrapropostas ou cenários B. Não o queria para trabalhar comigo. Após alguma conversa, diria da treta, a proposta era, eu pagava 30 euros e a Sony dava-me uma consola nova. Expliquei-lhe que sendo essa uma solução razoável há dois meses, agora já não era e que esperaria pela decisão do juiz. Porque estava farto da Sony e não queria ter mais nada a ver com a Sony. E nada me garantia que, acontecendo o problema novamente, eu não tivesse os mesmos aborrecimentos, já que a regra absurda e abusiva permanecia e que este era para mim um problema de cidadania e de correcção de uma prática comercial abusiva que eu gostaria até que fosse extrapolado do meu caso para o geral, de onde esperaria a decisão do juiz. Embrulhou-se numa resposta sobre os altos custos da reparação. Ao que eu lhe perguntei se pelo menos existia um centro de assistência técnica da Sony em Portugal? Não soube responder. Pareceu-me que ele só conhecia aquele caso e não conhecia mais da Sony do que os televisores, o AXN, et pour cause as consolas. Apesar de apenas contratado pela Sony e de não pertencer à empresa, devia-se ter informado minimamente. Há que fazer o TPC! Já não digo fazer como os jogadores de xadrez: antecipar várias jogadas, suas e do adversário. Depois de alguma conversa, de parte a parte, para encher pneus, avanço uma contraproposta: eu entregava o equipamento e recebia o dinheiro do mesmo, deduzidos os 30 euros do custo da reparação, ou seja, do dano que causei, de acordo com a avaliação da Sony. O pobre não tinha sequer pensado nesta proposta. Pediu-me, então, 20 minutos e que já me ligava. Foi falar com o patrão. Se mais não houvesse, via-se, por aqui, o modo amador como preparou a negociação e o elevado grau de autonomia negocial de que dispunha. Ligou-me com nova proposta: substituição da consola por uma consola nova, sem quaisquer custos. Porém, com um tom e uma outra expressão velada de quem diz: «estragaste e não vais pagar mas nós assumimos tudo». Do lado de cá, disse-lhe: «ó doutor» – alterei o tratamento de sôtor, que tenho por mais respeitoso, para o de «ó doutor», que é uma fórmula mais polida de me colocar ao nível do «eh pá» - «quero que saiba que a Sony não me está a fazer nenhum favor e que eu aceito a proposta, por ser um mal menor, mas que o meu desejo era mesmo pagar o dano que causei e entregar a consola, porque a Sony enquanto empresa deixou de me merecer qualquer confiança e que neste momento compro mais facilmente um equipamento num comerciante de feira do que na Sony». Não houve resposta ou houve uma não-resposta: «posso, então, fazer um fax para o Centro de Arbitragem a dizer que chegámos a acordo». Era só o que pobre queria saber. Resposta: «Pode»
P.S. – Bem, titulei este poste como o desfecho mas espero não ter sido cedo demais: o pobre pediu-me para lhe ligar para acertarmos os detalhes práticos da troca. Liguei e disse-me que ainda não tinha falado com a Sony… E que me ligava, mas não ligou… Além de a empresa ser má, os advogados que arranja também não são melhores… Estão, aliás, muito bem uns para os outros…

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5 Comments:

Blogger maloud said...

Tem de me explicar o que são os botões de punho de prata que se põem em cima dos botões. Estou curiosíssima.

sábado, março 17, 2007 12:10:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara Maloud
Ressalvando o facto de poder estar a dizer uma enorme asneira, refiro-me a uns «artefactos» a que - creio - se dá o nome de «capas» e que se colocam a revestir os botões plásticos de uma vulgar camisa com punhos, dando-lhe a aparência de uns bons botões de punho... Há para cá umas coisas dessas em casa, mas que não têm qualquer uso ou serventia...

sábado, março 17, 2007 12:45:00 da manhã  
Blogger maloud said...

Desconhecia, mas francamente não percebo a utilidade. As camisas dos botões de punho não têm botões nas mangas e têm o punho duplo. Dão é uma trabalheira a passar. Em Junho, mês das férias da minha "santa", escondo-as. O que me atura só lhes torna a pôr a vista em cima em Julho, senão deixava de me aturar.

sábado, março 17, 2007 1:00:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Caríssima Maloud. Bem sei tudo o que me refere. A utilidade é mesmo essa. É fazer parecer o que não é. Sobre o que a atura, acho bem que o discipline, mas sorte tem Vexa e a sua «santa» de já não se usarem os célebres colarinhos gomados... :-)
P.S. - Amanhã à noite estaremos em campos opostos, como se sabe, mas que ganhe o melhor... ;-)

sábado, março 17, 2007 1:15:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos,
soubera eu que Vexa oferecia de graça, e sem interrupções, os três episódios da "telenovela", não teria ido "à minha vida" quando julguei que ía haver "intervalo"!
:-)

Quanto ao relato pormenorizado do "fato" e do seu... "aguado" conteúdo, devo confessar quue me ri bastante, pois visualisei de imediato a figura. Acho até que o conseguirei identificar se por ele passar na rua!
:-D

Finalmente acrescento que, apesar dos "pesares", fez um bom acordo...
se o mesmo se concretizar, claro!
lol, lol, lol

sábado, março 17, 2007 11:13:00 da manhã  

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