Parabéns
Hoje ao final da tarde viajei de metropolitano. Um trajecto curto, mas com duas viagens. Numa delas, viajei sentado. À minha frente ia uma jovem. Não teria mais de 20 e poucos anos. Roupas de cores vivas mas combinadas com gosto. Algo próximo do estilo United Colors of Benneton, mas com um toque quase imperceptível de subúrbio. Viajava com dois sacos, cheios do que pareciam ser presentes. E entregava-se a um jogo difícil de acomodação dos presentes dos dois sacos num só. Entre transbordos da mercadoria, dá-me com um saco e pede-me de imediato delicadamente desculpa. Registo mentalmente a delicadeza das desculpas. Esboço um sorriso e digo-lhe que não tem importância. Ia a ler e assim continuei. Algum tempo volvido, mais um encontrão com o saco. Nem liguei. Mas pude perceber que ela se queria desculpar novamente. Olhei para ela e ela lá se desculpou, acompanhando as palavras com um sorriso franco. O sorriso queria dizer «desculpe lá, outra vez». É que isto há sorrisos que falam! E o sorriso ficava-lhe bem, dava-lhe cor e expressão a um rosto um pouco incaracterístico. Desculpei-a. E pensei de mim para mim que aquela dupla desculpa, dita com palavras e com sorrisos, merecia melhor recompensa do que um anódino «não tem importância», ainda que levando como contrapeso um sorriso. Por uma fracção de segundos, pensei se devia arriscar algo mais, isto para não ser tomado por cota presumido a querer meter conversa com uma chavalita ou so on, que desde que tenho cabelos brancos redobrei cuidados. E achei que ficava ali bem um Parabéns. Era óbvio que ela tinha feito anos e que regressava, porventura da escola ou do trabalho, com os presentes das colegas. E atirei-lhe com ele, testando-lhe também o sentido de humor. Ela correspondeu abertamente e assim fomos conversando. Que sim senhor, que tinha feito anos, que eram as prendas das colegas, etc. Achei piada à espontaneidade da reacção e da conversa e dei comigo a pensar quantas vezes retraímos a afabilidade e a amabilidade, em nome do socialmente correcto. É que por muito que queiramos, não nos é fácil atirar para trás das costas a velocidade do quotidiano urbano e a educação judaico-cristã em que fomos nados e criados…
10 Comments:
Como eu o percebo!
Caro "cota", perdão, caro Politikos...,
receba lá um sorriso, dos que falam, pelo post!
:-)
Obrigado, cara Atenas. Presumo, pois, que se exclua do ramo dos «cotas»?! ;-)
Claro, caro politikos...
Eu faço parte do grupo das "chavalitas"!
:-)
Caro Politikos, vejo-o muito seguro na interpretação de sorrisos! :-D
Infelizmente, «a velocidade do quotidiano urbano e a educação judaico-cristã em que fomos nados e criados» não são os factores que mais desmotivam a troca de amabilidades com co-utentes de espaços e transportes públicos. Eu consideraria determinante a «aparência», que é o que cria ou não empatias. Há certos tipos de frequentadores do Metro com os quais dificilmente estabeleceria qualquer contacto.
Essa da judaico-cristã ainda me há-de explicar melhor...
Mas para já, parabéns pelos parabéns. Foi uma atitude bonita e fica bem a qualquer um, mesmo um "cota" com alguns cabelos brancos...
Cara Atenas
Quer-me parecer que a sua noção de faixa etária é um pouco como o lema da revista Tintin, de saudosa memória… ou seja, dos 7 aos 77…
:-)
Cara Luar
Como vê não me engano na interpretação dos sorrisos… Claro que a «aparência», de que fala, é um critério básico, mas apenas na fase de «pré-selecção» mental… Depois desta passada, entra a «velocidade do quotidiano e a mentalidade judaico-cristã»… «penso eu de que»…
;-)
A «mentalidade judaico-cristã», com a sua moralidade que em tudo vê culpa e pecado, sobretudo quando os «agentes» são homem-mulher, e, agravado pela diferença de idades, indiciava que no caso eu não deveria passar da pura e simples aceitação das desculpas, sem mais. Foi só isso que se pretendeu dizer, caro Kroniketas. A atitude foi simpática de parte a parte. Muito agradeço o «alguns» cabelos brancos, mas infelizmente há que dizer «muitos», «demais», e cada vez mais…
:-(
Não é só a educação judaico-cristã que faz de nós eres ensimesmados e fechados ao próximo. A crescente criminalidade tornou-nos desconfiados até da pessoa mais bem-falante e com aspecto "clean". Efectivamente nunca sabemos com segurança quando é que um/a adolescente de aspecto anódino a seguir não nos mete a mão na carteira ou não nos conta um conto do vigário. Hélas!
Lélé Batita.
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