13 de março de 2007

Foco no cliente

Li esta semana na Visão uma entrevista com Henrique Granadeiro. E no meio dos vários chavões da arte de ser empresário na Pólis lá vem a abominável expressão: «colocar o foco no cliente». Estou cansado de ouvir passar estas frases feitas, para épater le bourgeois, mas com escassa ou nula correspondência com a realidade. O foco é no lucro e nos resultados, não é, nem nunca foi no cliente. Então nos operadores de telecomunicações nem se fala. Basta ligar para os famigerados call center para se perceber que nada é mais errado. Geralmente e após um périplo por vários menus sonoros, com o correspondente clicar de teclas, lá nos aparece um dos operadores, por norma jovens com lógicas binárias de raciocínio, formalmente bem educados, mas de atitude e postura lisas, apenas preparados para responder de forma estereotipada à meia dúzia de questões-tipo que estudaram e que foram pensadas por alguém na retaguarda. Nem o Orwell congeminaria isto tão bem! Não pensam, agem. Não se interrogam, executam. Abono o mais recente exemplo do tal foco no cliente sucedido comigo. Adquiri há dois anos um PC numa loja da cadeia BEEP. O PC tem três anos de garantia. Avariou o gravador de DVD/CD. Telefonei para a loja, sinal intermitente, indicação de número errado. Atiro-me à net: apenas uns esparsos rastos de lojas BEEP... Uma sobrevivente em Almada ainda ostenta aquele logótipo! Após um telefonema: pois, que não, já não é BEEP; que a BEEP já não existe, que foi comprada pela SOLBI... Ligo para a SOLBI, onde me dizem com a maior desfaçatez: «se o seu PC disser City Desk ou SOLBI nós assumimos a reparação, dentro do período de garantia, se disser DATALOGICA, terá de contactar Espanha»«Alô, Espanha!», penso eu, mas digo: «bem e se o PC disser DATALOGICA e eu chego a Espanha e me dizem para contactar Taiwan ou a China, onde provavelmente os PC são fabricados?!». Do outro lado leio um certo desconcerto, a pergunta é de tipo A e ela só está preparada para responder às de tipo B... uma voz lisa, que nem sequer percebe completamente a ironia e leva tudo ao pé da letra, diz-me que «são as ordens de Espanha»... «Alô, Espanha!», penso eu outra vez. E o problema maior é que isto é dito como se de algo perfeitamente óbvio e normal se tratasse… Claro que o PC dizia DATALOGICA… Vou mandá-lo reparar, para não me aborrecer mais e porque preciso da unidade de gravação de DVD/CD em funcionamento imediato, mas entretanto já enviei uma reclamação para o Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo… Que aliás já lá tem uma queixa minha, que irá a julgamento em breve, esta da Sony: outro empório que tem o cliente como foco… Estou farto de ser cidadão da Pólis… E custa-me mais – em tempo e descanso do espírito – estas pelejas do Alecrim e Manjerona com as empresas da Pólis, do que me custaria pagar o raio do PC e o raio da consola…

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5 Comments:

Blogger maloud said...

Sobre o Granadeiro e o cliente, uma vez que domina o francês {vai sendo raro}, leia isto http://anaikcuisine.canalblog.com/archives/2007/03/05/4021659.html A autora é tão surreal que já temos encontro marcado em Aix lá para Agosto.
Quanto ao resto, o que espera? Sabia que a assistência telefónica da HP para Portugal é em Amsterdam? Claro que pode fazer como a minha mâe. Massacra-os de manhã até à noite, todos os dias até obter resposta. Nos intervalos, massacra-me a mim.

quarta-feira, março 14, 2007 7:25:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Pois, caríssima Maloud, muito apreciei este poste que me recomendou, um verdadeiro poste «au centre du dispositif»!
Quanto ao resto, por favor, diga à sua mãe que me contacte. Terei todo o prazer em aliviá-la do «massacre da velha senhora». Ainda por cima eu sempre quis encontrar uma alma gémea em matéria de contestação às empresas da Pólis...
;-)

quinta-feira, março 15, 2007 12:48:00 da manhã  
Blogger Luísa A. said...

Caro Politikos, a ideia de «colocar o foco no cliente» está viciada, nas grandes empresas, com grandes mercados, pela exigência de automatização dos procedimentos, particularmente visível nas multinacionais. O atendimento personalizado é uma impossibilidade prática. Ora, sem ele, o «foco no cliente» pode, de facto, parecer pouco mais do que um chavão, como refere. No entanto – é a «moral da história» da sua extraordinária trilogia - se se sai, com frequência, insatisfatoriamente atendido, nem sempre se sai mal servido. :-D

domingo, março 18, 2007 11:39:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Curiosamente, há pouco mais de uma semana desloquei-me ao Julgado de Paz de Lisboa para testemunhar num processo que opõe um cliente da Singer a esta empresa... por causa de um portátil. Curiosamente, não fui ouvido (nem nenhuma das testemunhas) porque o advogado da Singer não tinha poderes para aceitar o acordo que a juíza queria estabelecer. Resultado? Vai para tribunal. Por causa de 1000 euros. Será o tal "foco no cliente"?

Já agora, acerca do Granadeiro e da sua execrável PT, ele terá dito mesmo isso? Não seria "foco no bolso do cliente"??? :-)

domingo, março 25, 2007 12:58:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Pois é, meu caro, tb os advogados estão a perder qualidades: o que é que esse lá estaria a fazer, pergunto eu?! Quanto à PT, lá teremos de «gramar» com a TV Cabo mais algum tempo, que eu da PT já me livrei, mas continuo «agarrado» à outra... Apesar de não morrer de amores pelo Belmiro, prefiro claramente as suas empresas...

segunda-feira, março 26, 2007 10:45:00 da tarde  

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