9 de fevereiro de 2007

NÃO antes, SIM, agora

No último referendo à questão do aborto, votei NÃO, essencialmente porque entendia a vida humana – ainda que num estádio embrionário inicial – como um valor absoluto e intocável. Entretanto, fui revendo a minha posição, sobretudo à luz do que eu próprio faria em determinadas circunstâncias de vida (é sempre um exercício que aconselho a todos...). E fui gradualmente evoluindo para o SIM. E votarei sim porque também a vida humana, como aliás todos os grandes valores – basta debruçarmo-nos um pouco sobre a axiologia para o constatarmos – não pode ser um valor absoluto. E há, sobretudo nos seus estádios iniciais e terminais, muitas e muitas circunstâncias a ponderar. E, no caso do aborto, porque um filho tem de ser algo de muito desejado por duas pessoas. Devo dizer, ainda, que acho que esta é uma decisão tão íntima e tão pessoal que manterei, como habitualmente, a caixa de comentários deste poste aberta, mas não me verão a esgrimir encarniçadamente quaisquer argumentos em defesa da minha posição… Há milhares para um lado e milhares para o outro, todos eles bons… Assim sendo, optemos seguidos apenas pela nossa consciência…

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10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Depois de um longo e doloroso "processo" interior, sinto-me serena com a opção que tomei no que respeita ao meu voto no Referendo de Domingo.
A propósito, li hoje um artigo no Expresso, do Miguel Sousa Tavares, que, confessso, apreciei do princípio ao fim (não costuma suceder muito....). Acho que está bem escrito e, sobretudo, apresenta uma boa argumentação.
É que me custa sempre muito ser confrontada com argumentos demagógicos, arrogantes e até idiotas, que tanto têm sido utilizados por alguns defensores do "Sim" como do "Não".

sábado, fevereiro 10, 2007 4:11:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Pois, não li, que ando um pouco divorciado do Expresso. Também concordo consigo em relação aos argumentos utilizados por ambos os «campos». Pela minha parte, o «valor da vida» era o único e decisivo que me levava a votar NÃO. Afastado esse, votarei SIM. Claro que nem falei na quantidade de outros argumentos favoráveis ao SIM, tendo à cabeça a «despenalização»...
E qual é o seu sentido de voto e as razões, se se pode saber, cara Atenas?

sábado, fevereiro 10, 2007 5:35:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Politikos,
o meu sentido de voto não tem nada a ver com o que eu penso sobre o aborto.
Dada a natureza do assunto, prefiro não expor aqui as razões que me levam a votar "Sim" no Domingo.
Contudo, e uma vez que tem sido um argumento ultimamente utilizado por alguns defensores do "Não", não consigo deixar de dizer que, na minha opinião, o "sim" significa descriminalizar, legalizando (e não liberalizando), o aborto, na medida em que este tem que ser efectuado num estabelecimento de saúde legalmente reconhecido para efeito.
Quem defende que o aborto deveria continuar a ser crime, mas SEM (!) aplicação de pena, está, na verdade, a propor a liberalização do aborto (clandestino, bem entendido), pois sendo crime, não poderia ser legalizado/regulado, mas a sua prática não seria punível! Está, sobretudo, a desacreditar o direito penal.
E o direito penal tem que ser "levado a sério"...

sábado, fevereiro 10, 2007 11:11:00 da tarde  
Blogger maloud said...

Amanhã votarei Sim, como há cerca de oito anos. Confesso que não evoluí. Os pressupostos do meu sentido de voto são exactamente os mesmos.
Quanto à campanha que segui com alguma atenção, lamentei a epístola do embrião para a mãe usando criancinhas como carteiros, o telemóvel do João César das Neves {eu sei que ele não regula bem, mas mesmo assim foi demais}, o negócio com as matérias fetais tirado da cartola pelo ex-ministro Júlio Castro Caldas e o malabarismo do Nim. O melhor momento foi, e o Miguel Sousa Tavares no artigo do Expresso citava-o, do Gato Fedorento. Já o vi dúzias de vezes e continuo a rir perdidamente.
Gostava de dizer que conheço algumas septuagenárias que tendo lido a entrevista dada pelo Prof Mário de Sousa ao JN {à minha moda também vou fazendo campanha} alteraram o seu sentido de voto.

domingo, fevereiro 11, 2007 12:36:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara Atenas
Retirando os «sofismas» à questão, é evidente que o que está no boletim é a «despenalização», mas tb lá está, a «opção da mulher», pelo que isso vai trazer necessariamente alguma «liberalização» - embora eu não goste da palavra -, ainda que na fase da regulamentação se possa colocar algumas medidas de regulação...
Não acho de todo, que quem defende que o aborto deveria continuar a ser crime, sem pena, esteja a propor a liberalização do aborto clandestino: está apenas a ignorar a questão ou a menorizá-la em face do valor da vida humana...
Quanto ao direito penal: ó minha, cara, mas quem é que o leva a sério, não me diz?!?!? Ninguém! É uma «fantochada» que só prende deliquentes menores...

domingo, fevereiro 11, 2007 1:02:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Muito bem, Maloud, e quais são esses pressupostos?! Acho demagógicos os episódios que refere: há-os tb do lado do SIM, como sabe... O sketch do Gato sobre o Marcelo é notável... Não duvido da sua capacidade de persuasão e do seu charme, junto de septuagenárias, e não só... :-) Vi no outro dia um debate na RTP-N com o Prof. Mário de Sousa sobre esta questão que, como sempre, foi serenamente brilhante...

domingo, fevereiro 11, 2007 1:09:00 da tarde  
Blogger maloud said...

Ora bem, vamos lá às razões que me levam a votar Sim.
Julgo eu que ninguém defende o aborto como método anti-conceptivo. Só que ele existe, pelas razões que também todos conhecemos, e não me parece que a actual lei seja dissuasora. A única coisa que consegue é que quem tem possibilidades vá lá fora tratar "decentemente" do assunto, enquanto quem não tem recorre a umas curiosas, umas mais sofisticadas outras menos, com consequências por vezes trágicas. Por outro lado, feito o servicinho, as "pacientes" não são de forma alguma encaminhadas para um aconselhamento sobre contracepção, que evite males futuros.
Do meu ponto de vista acabando-se com esta clandestinidade que todos sabemos que existe, num primeiro momento teremos o número de abortos a disparar, e depois diminuirão. É evidente que, se começarmos como a Espanha a receber as mulheres da América Latina {e se nada mudar as portuguesas} ou angolanas {esse farol da humanidade tem uma pena de 8 anos de prisão} que são obrigadas a fazer turismo abortivo, os números absolutos não diminuirão, mas há a possibilidade de fazer o seu tratamento e perceber o porquê.
Tanto a actual lei, como a surreal lei do NIM tirada da cartola pelo Não, incomodado com os processos penais, nunca permitiriam que um profissional de saúde aconselhasse uma mulher decidida a abortar. Pelo que percebi para os defensores do NIM {e confesso que queimei o neurónio a descodificar aquela bizarria} a "assassina" lá abortava clandestinamente e depois era instaurado um processo que para uns ficava suspenso ad aeternum, e para outros mais assanhados tinha como moldura penal o trabalho comunitário. Como sabe eu não percebo nada de Direito, embora a pátria se tenha esforçado por me dar o curso no início do processo da Casa Pia, mas faz-me muita confusão que estando tipicado na lei um crime não esteja prevista uma pena.
Só para terminar o testamento, nunca recorri ao aborto. Numa dada altura, nos anos setenta em que todo e qualquer aborto ainda era crime, foi-me aconselhado pelo médico por razões de saúde. Seria feito numa Ordem e camuflado em raspagem. Escolhi não o fazer, mas tive escolha. Ora é essa escolha que reivindico para todas as mulheres. Quer possam pagar a Ordem, quer não possam.

domingo, fevereiro 11, 2007 2:39:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu mantive a mesma posição de 1998. Obviamente, sim.

domingo, fevereiro 11, 2007 9:57:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Claro, claro, obviamente, obviamente, Kroniketas, nem nós nunca duvidámos que as sua posição não evoluiu desde 1998...

domingo, fevereiro 11, 2007 11:16:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não evoluiu? Não tinha por onde evoluir, só poderia involuir. Mas ainda bem que a do Politikos evoluiu.

sábado, fevereiro 17, 2007 1:22:00 da manhã  

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