5 de abril de 2008

Janelas abertas

Os fins de tarde de sexta-feira são os meus preferidos. A semana já passou e o fim-de-semana ainda não chegou. E há a perspectiva de dois dias de ausência das rotinas habituais. Ademais, nos últimos tempos, do ponto de vista profissional, as minhas tardes de sexta-feira são geralmente mais calmas do que as outras. A tarde foi calma e o final dela ainda mais.
Ao princípio da noite, estava na zona das Avenidas Novas e decidi-me, apesar de carregar com a omnipresente pasta, a encetar a pé o caminho para casa. O trajecto ainda era longo, mas a noite estava cálida e agradável. E apeteceu-me fazê-lo. Além do mais, queria tricotar umas ideias e andar a pé ajuda-me a fazê-lo. O ideal é junto ao mar. Na falta dele, porém, a cidade tem de cumprir essa função. Não tão bem, porque, sobretudo na malha urbana consolidada, me solicita muito. Os apelos são variados e amiúde dispersam-me a atenção. Acabo não a escalpelizar um assunto mas a fazer pequenas análises de um amontoado de pequenos assuntos suscitados pelo que vou vendo. Do tricô a que me propus, resultou, pois, como sempre, uma espécie de manta multicolor. E um dos quadrados da manta é este.
A calidez da noite trouxe muita gente à rua. Fui-me cruzando com pequenos grupos que conversavam. Uma parte da cidade pedia rua e não queria voltar a casa. A dado passo, dou com o olhar num prédio do princípio do século passado em que um dos andares ostentava as suas várias janelas e portas de acesso a varandas abertas de par em par… Pude então ver a decoração interior. Era moderna, minimalista, mas com algum bom gosto. A frontaria era larga e fui vencendo os metros olhando o interior das várias divisões. Até que numa delas dou com uma tira verde e amarela disposta na parede com a palavra Brasil… Olho depois, à esquerda e à direita, para as outras janelas dos outros prédios daquela rua… E aquelas eram as únicas abertas…

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8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Meu querido Politikos,
sorrisos e reticências só no fim.

Sem ter estado lá, vi-me a caminhar lado a lado consigo, a tricotar ideias. E as mantas multicolor são muito mais bonitas, quando assim tricotadas.
Gostei desta janela aberta.

Um beijo...
:-)

sábado, abril 05, 2008 7:20:00 da tarde  
Blogger T said...

O caro vizinho faz como eu. Anda para pensar melhor. Nessa ordem de ideias, hoje articulei muita coisa desgarrada.
Ah e comprei alguns periódicos velhos. Teclo-lhe de nariz preto!
Bom resto de fim de semana.

sábado, abril 05, 2008 8:02:00 da tarde  
Blogger maloud said...

Pois é, meu caro. Nunca reparou na idiossincrasia nacional das mortais ou no mínimo pneumónicas correntes de ar? E o pavor do solzinho na cabeça?
Eu prefiro bordar. Tricotar remete-me imediatamente para as tricoteuses. Tudo isto em sentido figurado, é claro. Sou pouco prendada.

domingo, abril 06, 2008 1:00:00 da manhã  
Blogger Luísa A. said...

Moral da história, caro Politikos? Somos um povo fechado e ensimesmado, com tradições de arejamento de casas discreto. Mas é verdade! O clima, por aqui, é mais frio. E há um sentido forte de preservação da intimidade, que nos leva a fechar as janelas e a correr os estores assim que anoitece. Felizmente, ainda não chegámos ao ponto de um velho director meu, que fechava as janelas e corria os estores do seu gabinete por medo de que houvesse algum atirador no prédio em frente que o tivesse na mira. Não chegámos a esse ponto e espero que não cheguemos. Embora me lembre de que havia, na rua dos meus Pais, uma subespécie do género «atirador», ou «atiradiço», que mantinha a vizinhança feminina na mira… dos seus binóculos. Todo o cuidado com janelas e estores era então pouco. :-)

domingo, abril 06, 2008 4:10:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara Atenas
Ainda bem que gostou. Os pedidos dos meus leitores-comentadores são ordens! Se a T se queixa de falta de postes, faço postes; se Vexa se queixa da falta de postes pessoais, faço postes pessoais...
Um verdadeiro pau-mandado...
Bom fds

domingo, abril 06, 2008 8:39:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara vizinha
As suas compras desfiam recordações... Como alguém já disse, tem no Dias um belo repositório de imagens de pequenas coisas do nosso passado recente.
Bom fds

domingo, abril 06, 2008 8:42:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara Maloud
É como diz, de facto. Ainda na sexta-feira, uma pessoa que trabalha comigo me avisou, à hora de almoço: «saia do sol, que está muito quente!».
O bordar é menos expressivo. O tricotar tem mais força. Convoca melhor as circunvoluções do motor da mente...
Bom fds

domingo, abril 06, 2008 8:45:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara Luísa
Fechou com chave de ouro o poste, tirando as conclusões que deixei para o leitor...
E esse seu chefe não seria o PGR quando era mais novo?!
;-)
Bom fds

domingo, abril 06, 2008 8:50:00 da manhã  

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