15 de fevereiro de 2008

Cafés & Justiça, Ld.ª

Hoje ouvi umas declarações balofas do PGR sobre a Justiça. Pura conversa da treta. Uma conversa redonda para despachar jornalistas, os quais, aliás, ele trata com alguma sobranceria. O que é característico dos agentes da Justiça sempre que falam com profanos. Usam de uma condescendência paternalista, do tipo: «olha o pateta que não percebe nada disto». Eu acho que os profanos têm de os dessacralizar e adoptar uma atitude de exigência, que claramente lhes diga: «o sistema só existe porque nós existimos; vocês estão aí para nos servirem; nós somos os clientes; vocês servem-nos mal». Além de nos servirem mal, custam-nos caríssimo, já que juízes e procuradores, já para não falar nos advogados, ganham todos muitíssimo bem. E atento o rácio custo/benefício, ganham obscenamente bem.
O PGR disse apenas isto: «o estado da Justiça em Portugal está bem melhor». É insensato, quase indecoroso, que ele diga isto sem apresentar factos e provas. O homem deve estar a ver outro filme qualquer! E ele, que não tenho por mal intencionado, diz isto porquê? Porque é um agente da Justiça e tal como a maioria deles já há muito que se enredou naquele mundo, já há muito que perdeu a capacidade crítica em relação àquele mundo. Mundo esse que perdeu completamente a capacidade de se regenerar, de se auto-reformar. Qualquer acção nessa área terá de ser feita de fora para dentro. Pelo Parlamento, pelo PR, pelo Governo, por um pacto entre todos, por quem quer que seja. Não chega, reorganizar o mapa judicial.
Há um ou dois postes, de forma um pouco provocatória, reagi a um comentário dizendo que era mais importante para mim a qualidade do atendimento nos cafés da Pólis do que a qualidade do sistema judicial. E na verdade, é-o. Não porque o sistema judicial não seja mais importante do que os cafés, mas porque funciona mal, mas tão mal... É tão lento, tão formalista, tão «by the book», tão caro, que procuro organizar-me sem recorrer a ele. Consegui já passar mais de quatro décadas sem entrar num tribunal e espero conseguir somar outras tantas sem lá pôr os pés. Não porque não me faça falta recorrer à Justiça. Recordo, aliás, dois casos, na minha vida, em que senti essa falta. Mas como sei o que a casa gasta e os gastos da casa, não o fiz. Conformei-me com as situações ou resolvia-as de outro modo. E assim pretendo continuar a fazer. Ao passo que aos cafés, uso-os todos os dias…

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17 Comments:

Blogger T said...

Não estamos habituados a exigir qualidade, mas sim a pedir favores.
Devagarinho penso que a situação está a mudar, ou pelo menos tenho essa esperança.
Concordo em absoluto com o que diz sobre alguns ou a maioria destes "altos" servidores públicos: são caros,servem-nos mal, são feios e há que proceder a mudanças.
Nem hospitais nem tribunais até agora (bati na madeira por prevenção). Ah, uma vez torci um pé e fui ao S. José.
Bom fim de semana, senhor amigo dos Sikhs:)

sábado, fevereiro 16, 2008 12:30:00 da manhã  
Blogger Luísa A. said...

Caro Politikos, bem o compreendo. O meu Pai, que por acaso era advogado, criou-me uma verdadeira fobia à Justiça - no sentido de meandros, não de valores - e nem para testemunha sirvo. Só fui chamada a prestar esse serviço uma vez e foi tal o tremor nas pernas, que julguei que me ia abaixo. A Justiça (meandros, não valores) apavora-me.
P.S.: Permito-me fazer aqui uma discreta correcção à nossa T: nem todos os "altos" servidores públicos são feios. ;-D

sábado, fevereiro 16, 2008 12:52:00 da manhã  
Blogger T said...

Eu disse alguns ou a maioria, querida Luísa:) Nunca se sabe, risos.

sábado, fevereiro 16, 2008 1:06:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara T
Àquela gente nem favores se pedem. Aquilo é a autocracia completa. São eles e a lei. E pelo meio há pessoas. É um sector impermeável.
E não acho que os hospitais sirvam de comparação. A saúde alterou-se e mudou muito. Felizmente para muito melhor. E quando não estamos bem, sempre podemos reclamar. Dos tribunais, não há para onde reclamar a não ser para eles próprios. E é sempre mais do mesmo. É marmelada atrás de marmelada...
P.S. – O curioso, cara T, é que pensava que Vexa era médica ou enfermeira?!?!?

sábado, fevereiro 16, 2008 7:14:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Cara Luísa
O tremor é das «capas pretas». Até nisso, aquilo não muda. Faz algum sentido, haver gente de «sotaina preta» no séc. XXI?!?! Ponham um estrado mais elevado, um crachá ou até uma «fardeta» qualquer?! Agora, «sotainas pretas»?!?! Até no ritual se percebe a desadequação. E eles gostam daquilo! Uma vez até vi a juíza do caso Casa Pia «fardada» a fazer uma diligência qualquer no meio de uma charneca alentejana?! Vá lá que não foi na praia do Meco... ;-)
Quanto aos valores, há muito se perderam. A Justiça não defende valores, apenas aplica a lei.

sábado, fevereiro 16, 2008 7:17:00 da tarde  
Blogger T said...

Caro P:)
Não sou nem uma coisa nem outra. Mas também não é fácil de adivinhar.

sábado, fevereiro 16, 2008 9:11:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Pois, minha cara T, também me parece que não chegarei lá facilmente.
Já agora esclareça-me lá um pormenor! Vexa usou, creio que no Nocturno, a palavra «afongada», que não conhecia e de que não percebi o sentido. Ainda a fui procurar em diversos sítios onde a podia encontrar. E nada. Faça-me lá o obséquio de esclarecer esta minha curiosidade.
Bom resto de fds

domingo, fevereiro 17, 2008 9:53:00 da manhã  
Blogger T said...

Ui...conhece a palavra fonga? O afongada inventei eu, quase de certeza. Mas fonga equivale a mulher muito masculinizada e etc.
Quanto ao meu trabalho: os sismos dão-me que fazer, mesmo antes de ocorrerem:)

domingo, fevereiro 17, 2008 2:46:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Cara T
Não conheço mas fiquei a conhecer. E embora continue a não constar nas minhas fontes cá de casa, presumo que tenha uma origem africana ou asiática?! Onde é que a ouviu?!
Quanto ao seu trabalho :-) Estou esclarecido. E se ocorrerem, espero que a sua «sacada» aguente...
:-)

domingo, fevereiro 17, 2008 4:00:00 da tarde  
Blogger T said...

Bem. Eu não gosto da f word para lésbicas, então uso essa. Eu e uma data de gente amiga. Vou tentar identificar a fonte.
O meu prédio tem tremido pouco nos últimos sismos . A ver vamos.
Mas esta zona é complicada.
:)

domingo, fevereiro 17, 2008 6:32:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Ó caríssima T, acredite que não tinha percebido todo o alcance da palavra. Ou não lhe teria feito a maldade de voltar à carga. Ainda vou ver nos dicionários de calão.
Boa semana

segunda-feira, fevereiro 18, 2008 6:34:00 da tarde  
Blogger T said...

Eu é que a usei,ora essa.
E até acho um termo carinhoso.
Boa semana também para si caro P:)

segunda-feira, fevereiro 18, 2008 7:05:00 da tarde  
Blogger T said...

E outra ponte, aliás outro post?

quarta-feira, fevereiro 20, 2008 11:57:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Falta de tema e falta de tempo, cara T. Ainda assim, ainda consegui ver a fotografia da sua mãe nos «Dias que voam» :-) É v. em ponto pequeno, nem duvide.
:-) E, além do mais, está muito bem apanhada. Não pude deixar de me lembrar disso quando vi esta sua última foto aqui nas caixinhas de comentários.
Abraço

quinta-feira, fevereiro 21, 2008 2:43:00 da manhã  
Blogger T said...

Caro P:)
Temas não faltam. Esforce-se.
Confesso que sorri ao ler a sua referência ao direito de pernada feudal. É que estava a pensar mesmo nisso, quando li o comentário que exaltava o feudalismo.
Sabe que não sabia que era parecida com ela? Geralmente acham-me igual à família do meu pai. Por isso fico toda satisfeita com essa comparação.
Abraço:)

quinta-feira, fevereiro 21, 2008 9:52:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara T
Veremos o que o fim-de-semana nos reserva em matéria de postes. Certamenta que não desenvolverei o «direito de pernada»... ;-)
Quanto à foto da sua mãe, achei-a deliciosa: o ar, a «fatiota» com uma espécie de «ligas»... e foram para mim mais do que óbvias as semelhanças consigo. Creio que aliás coincidiu com uma mudança na sua fotografia no perfil que tornou a coisa por demais evidente.
Abraço

quinta-feira, fevereiro 21, 2008 11:19:00 da tarde  
Blogger T said...

Eu também acho a fatiota uma delícia, desde a pantufa às ligas.
O meu avô fotografava-a com muito afecto.
Vou aguardar o seu post, um abraço:)

sexta-feira, fevereiro 22, 2008 12:08:00 da manhã  

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