Politiqueira e reles...
Os nossos banqueiros quase não aparecem nos media, e quando o fazem é sobretudo nos media económicos. Cultivam um low profile quase absoluto. Não aparecem. Não têm o desejo de aparecer, nem de se fazer notar. Querem apenas comprar e vender dinheiro. E conseguir sempre maiores lucros. A discrição é a regra do negócio. Criam com isso a confiança dos clientes. Cito de memória apenas alguns dos, apesar de tudo, mais mediáticos: Ricardo Salgado, Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto, Filipe Pinhal, Fernando Ulrich. Alguns deles, uns mais outros menos, aparecem mesmo como uma espécie de príncipes de Renascença, de pose exemplar, declarações estudadas, medidas, totalmente substantivas. Mesmo sob pressão, nunca perdem o polimento a toda a prova e deixam a chicana para os outros protagonistas da arena social, como por exemplo os políticos. Que aliás lhes fazem a vontade, com declarações que só os descredibilizam. Criam com isso desconfiança junto dos cidadãos. Por isso descremos dos políticos e acabamos por crer nos banqueiros. Mesmo que mais enlameados com toda a sorte de salários e de privilégios decididos em causa própria, com negócios com contornos fiscais pouco claros, quase nunca aparecem com mais do que salpicos. Há semanas, ouvi e estranhei um deles sair do tom. Foi Fernando Ulrich, que qualificou uma putativa iniciativa do Governo para controlar os salários dos gestores de topo como politiqueira e reles. Nunca tinha ouvido um banqueiro usar este tipo de linguagem, estes adjectivos. É claro que a putativa medida mexe com aquilo que é mais sagrado para ele, o vil metal. Daí a reacção! Mas não deixou de ser sintomático!
Isto veio-me à memória, depois de ouvir hoje, numa das televisões da Pólis, que o Real Madrid terá oferecido 82 000 euros por dia a Cristiano Ronaldo.
Não me incomodo com os salários alheios. E sou inteiramente favorável ao prémio do mérito. Os melhores têm e devem ganhar mais. Já por aqui me manifestei inclusive favorável ao pagamento do polémico vencimento do antigo director-geral das contribuições e impostos, Paulo Macedo. Mas os valores que têm vindo a lume sobre os salários de alguns gestores de topo e de alguns futebolistas de topo são tão obscenos que nos devem obrigar, sobretudo na actual conjuntura económica-financeira, a pelo menos equacionar algum tipo de regulação.
2 Comments:
Esse senhor Fernando Ulrich, quando foi decretada a "tanga", disse em entrevista televisiva, julgo que na SICN, que o salário mínimo deveria descer.
Pois, não conhecia essas declarações. Mas não me admiro muito! A responsabilidade social do nosso empresariado é quase nula! E então dos bancos! Isso então, nem falar! Querem sempre mais e mais, e mais... E nunca pensam em devolver o que quer que seja à comunidade. O que nunca pode diminuir são os seus lucros! É triste, mas é o que temos!
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