28 de julho de 2009

Crónica hospitalar e de costumes III

O episódio das Crónicas Hospitalares e de Costumes relatado atrás não acabou ali. Aguardei no corredor, já com os doentes a amontoarem-se e a aparecerem as primeiras queixas pelo tempo de espera, quando chega a enfermeira. Uma mulher alta, de cabelos negros ou castanhos-escuros, com um rosto ainda bonito mas em que o corpo acusava já o passar dos anos. Foi próxima e simpática mas sem aquele paternalismo ou infantilização, muito característicos do pessoal hospitalar que não os médicos. Ao ler a receita do Técnico, constatei que ambos os fármacos eram injectáveis, acabando um deles em «an» ou «am», o que logo me soou a sedativo. Perguntei à enfermeira de rosto bonito, o que era aquilo, ao que ela me disse que um era um relaxante muscular e o outro era realmente um sedativo. Disse-lhe peremptoriamente e de modo a não permitir qualquer réplica: «levo o primeiro e não levo o segundo». Ela nem tugiu, nem mugiu. Ora, o Técnico deu-me o primeiro para as dores e o segundo deve ter sido por eu lhe ter dito que não tinha dormido nada na noite anterior, já que não estava particularmente nervoso ou ansioso. Enervado estava sim, no dia anterior, quando fiz a fractura. A facilidade com que os médicos prescrevem este tipo de medicamentos é coisa que mereceria reflexão...
Seguiu-se o aliviar da tala. Tive de ser eu a dar-lhe uma ajuda na decifração da letra encadeada do Técnico e, antevendo dificuldades, ela disse-me: «ai, ai, como é que eu lhe vou fazer isso?» Devo dizer que este episódio foi o mais doloroso de todo este processo, já que tiveram de me levantar o braço uns 10º ou 20º do ângulo recto em que estava. Já só me vi rodeado de três enfermeiros que me diziam que tinha os músculos completamente tensos e eu só dizia para deixarem aquilo tal como estava. Arrependi-me deveras de me ter queixado, mas lá me conseguiram colocar umas mechas suplementares de algodão que me aliviaram umas horas mas à noite estava quase na mesma. Lá pus eu, adicionalmente, com a ajuda de espátulas de madeira, colheres de pau e o que fosse desde algodão a rodelas de retirar maquilhagem. Valeu tudo. Mas o alívio foi curto. Em pouco tempo, aquilo ganhava cama e continuava a magoar-me de sobremaneira. Tive, então de agir por conta própria e fracturei deliberadamente o gesso naquela parte. E em boa hora o fiz, pois só assim consegui alívio daquele garrote. Quando, semanas após, no final do processo de consolidação, retirei o gesso, tinha uma enorme crosta de sangue e um valente hematoma. A enfermeira que o removeu disse-me mesmo: «Como o senhor tem isto! Não lhe doía?! E eu: «Claro que sim, daí ter fracturado o gesso nessa parte». E ela: «Foi o que lhe valeu, já que isso podia ter chegado ao osso». Pois!
É inaceitável que o Técnico de Medicina prescreva medicamentos sem explicar aos doentes o que são e para que servem. Já que o Técnico, embora pelos meus critérios não seja médico, também não é veterinário... Tal como é inaceitável que o Técnico tenha desvalorizado as queixas de dor no pulso, já que dali poderiam advir males maiores não fora aquele meu expediente...
To be continued

Etiquetas: , , ,

6 Comments:

Blogger Luísa A. said...

Uma aventura, Politikos! Tenho sérias suspeitas de que, em 80% dos casos, ou mais, que acorrem aos hospitais, o diagnóstico é feito e o tratamento prescrito com essa leviandade do seu técnico de medicina. O primeiro pensamento é sempre considerar que o paciente exagera os sintomas e que a questão é de nervos. E, se calhar, em 70% dos casos até é verdade. Mas nos 10% restantes, «paga o justo pelo pecador». Posso confirmar que os relaxantes musculares e os sedativos estão muito na ordem do dia. :-)

quarta-feira, julho 29, 2009 2:54:00 da tarde  
Blogger fugidia said...

E vai assim todo estropiado para férias, caríssimo Politikos?
(levíssimo sorriso)


Já tinha saudades destas crónicas; até que enfim!
(e sim, pare lá com essa cara de quem pensa com os seus botões que está a reconhecer esta cidadã da Pólis que lhe dá cabo do juízo, só porque sim ;-) )

Boas férias :-)

sexta-feira, julho 31, 2009 12:55:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara Luísa. Os seus números parecem-me muito exagerados. Nem todos os médicos são este veterinário que me atendeu!
No caso vertente, segundo me foi explicado posteriormente pelo meu ortopedista, os anti-inflamatórios estão contra-indicados no caso de fracturas, pois retardam a consolidação óssea. De onde, sobram apenas os relaxantes musculares. O sedativo podia justificar-se se eu estivesse 3 noites sem dormir, como foi só uma, o que talvez fosse aconselhável era ele prescrever-me aquilo em comprimidos para tomar em SOS caso voltasse a não dormir. Digo eu! Mas o indivíduo nem sequer se dignou a explicar o que me ia dar?! Não sei se isto é ou não uma má prática médica, mas se não é deveria ser! Creio que até os veterinários explicam ao dono dos animais o que lhes vão dar, não?!

sexta-feira, julho 31, 2009 3:39:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Cara Fugidia. Estou, como já disse atrás, quase totalmente operacional. Além de que não disse nada sobre reconhecimentos de cidadãos da Pólis! Foi Vexa que, num estilo que não me é totalmente estranho, fez a festa, lançou os foguetes e apanhou as canas!
Boas férias tb
:-)

sexta-feira, julho 31, 2009 3:45:00 da manhã  
Blogger fugidia said...

Num estilo que não lhe é totalmente estranho?!
Hum... acho que perdi qualidades; falta de treino, que já há muito tempo que não trocava ideias consigo, meu caro e estimado Politikos!
(e o pedaço que não é estranho é maior ou menor do que o pedaço que é estranho?)
:-)))

Obrigada; começo hoje finalmente a gozar algumas férias :-)




P. S. Pode apagar, sff, o comentário anterior: pequeno lapso de escrita.
Gracias :-)

sexta-feira, julho 31, 2009 5:51:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Cara Fugidia. Não posso partir a coisa em nacos. É toda uma atitude, mas esclareço-lhe que os lapsos de escrita com comentários apagados tb fazem parte... ;-)
Boas férias, descanse e divirta-se

sexta-feira, julho 31, 2009 9:58:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home

Hits
cidadãos visitaram a Pólis desde 22 Set. 2005
cidadão(s) da Pólis online