21 de maio de 2007

O general no seu labirinto…

A propósito do caso de Madeleine McCann, assisti na semana passada, nas televisões da Pólis, a uma conferência de imprensa dada por um inspector-chefe da PJ, de nome Olegário Sousa. Creio que é o responsável pela investigação! A conferência de imprensa foi dada numa sala acanhada onde havia um palanque e uma mesa. Nela, apenas vi, da parte portuguesa, o inspector, o palanque e a mesa. E, da parte inglesa, a parafrenália tecnológica que sempre acompanha as televisões e umas dezenas de jornalistas! Como não parecia haver qualquer staff de apoio, a dada altura, os jornalistas atiraram-se aos papéis - presumo que comunicados de imprensa - que eram também distribuídos pelo tal inspector-chefe. Gerou-se aí uma enorme confusão e o tal inspector já só pedia «ordem e disciplina». Ora, o pobre homem já tinha a espinhosa tarefa de explicar o inexplicável para os ingleses, ou seja, o cretinismo da lei portuguesa em matéria de segredo de justiça. Ainda por cima teve de fazê-lo sozinho, sem retaguarda, sem apoio, sem organização: um pouco como uma operação policial no terreno feita por um só agente... Como conheço bem Portimão, sei onde são as instalações da PJ: um prédio apequenado e pindérico junto ao rio. Como conheço bem Portimão, sei que há outros equipamentos na cidade onde se podia organizar, com uma outra dignidade, uma conferência de imprensa para um caso como este. Nem sequer vi, mas admito que existisse, por detrás do homem, o logótipo da PJ, o escudo nacional, a bandeira da PJ, a bandeira nacional, a bandeira da UE… Escudos refulgentes, prateados e dourados, areados para a ocasião! Enfim, a habitual mise-en-scène institucional, alguma solenidade… Como não há tradição na PJ de organização de conferências de imprensa, aquilo foi o que foi. Assim, os ingleses, independentemente de tudo, só podem – e bem – achar que Portugal é um país de sol e mar, situado nas bordas do Mediterrâneo e mais próximo de África do que da Europa, com leis incompreensíveis, instalações policiais paupérrimas, conferências de imprensa amadoras… Creio que por estes dias, o bom efeito Expo 1998 e Euro 2004 se perdeu bastante, para além do Canal da Mancha… Valha-nos, pois, Mourinho, Cristiano Ronaldo e C.ª… Entretanto, por cá, também não seria mau ver alguém preocupado com isso...
Nota - E a imagem, fomos buscá-la aqui.

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10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não será "mise-en-scène"?

terça-feira, maio 22, 2007 1:25:00 da tarde  
Blogger Luísa A. said...

Este comentário foi removido pelo autor.

terça-feira, maio 22, 2007 8:14:00 da tarde  
Blogger Luísa A. said...

Caro Politikos, ainda que pouco me interesse a opinião que os ingleses fazem de nós – até porque a opinião que faço deles em matérias como organização e planeamento não é particularmente lisonjeira (e trabalhei com eles alguns anos) – confrange-me que «demos o flanco» em aspectos tão secundários e, pelos vistos, tão facilmente resolúveis. Ainda na semana passada pude testemunhar uns quantos exemplos de como os portugueses perdem por nem sempre sobrevalorizar o supérfluo – ressalvado, naturalmente, o António Costa. :-D

terça-feira, maio 22, 2007 8:17:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Meu caro Politikos sobre este caso, lamento muito o que se está a passar (ou passou) com a criança!
Só isso.
Não critico a nossa Polícia. Ela nem devia sequer pronunciar-se. Seria por certo a atitude dos ingleses se uns pais portugueses tivessem deixado três crianças sózinhas num seu aldeamento, tendo hipóteses de acompanhamento. Acho que a nossa Polícia deve fazer todos os esforços, mas não faz milagres. Por que motivo os ingleses ainda não deram uma resposta concreta à morte de Diana? Pelo mesmo motivo que muitas crianças desaparecidas em Inglaterra não mais aparecem.

Portanto a maneira que a conferência foi dada é para mim tão secundário....

Além disso ouvi hoje mesmo que os pais com os fundos adquiridos vão passear pela Europa`para não fazer esquecer o facto!!! Espero que parem em todas as capelinhas para rezar e levem as fitinhas amarelas.

Resumindo este caso "cheira-me muito mal"

terça-feira, maio 22, 2007 8:27:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

É certo, Kroniketas, trata-se de um substantivo feminino: foi lapso, mas mesmo assim imperdoável. Agradecemos, claro.

quarta-feira, maio 23, 2007 12:07:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Pois é, Luar, tem razão. Infelizmente, as coisas são o que são. Lamentavelmente não atingi completamente aquele seu «ferrete» final no António Costa. Se, porém, quiser ter a «bondade» de me esclarecer, a «gerência» agradece :-)

quarta-feira, maio 23, 2007 12:09:00 da manhã  
Blogger Politikos said...

Pois, caro Anónimo. Como é óbvio, também eu lamento muitíssimo a situação que me parece uma das piores – senão mesmo a pior – coisa que pode acontecer a uns pais! O poste, porém, é apenas sobre a conferência de imprensa. A minha crítica não é à actuação da PJ no que diz respeito à sua «área de negócio», como agora se diz, nem ao esforçado e profissional inspector que apareceu, mas sim às «relações públicas» e à forma de organização da conferência de imprensa num caso que deveria merecer mais atenção e cuidado. E sabe-se que à mulher de César não basta sê-lo, é preciso parecê-lo, ademais num tempo de grande mediatização. Não concordo nada consigo sobre a PJ não se pronunciar. É óbvio que num estado democrático e moderno, a polícia – qualquer polícia – tem e deve falar. E a lei sobre o segredo de justiça tem e deve ser mudada. Tudo está sob segredo de justiça e não deve. É caricato e ninguém entende! Aliás, o problema daquela conferência de imprensa resulta exactamente dessa falta de tradição de as polícias – designadamente a que lida mais de perto com a investigação criminal – terem de falar. Aí, a PJ já tem de aprender com a PSP que já interiorizou isso e tem «relações públicas»: comissários e afins de nova geração e já formados nas «escolas de polícia»…

quarta-feira, maio 23, 2007 12:18:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Meu estimado Politikos, sem dúvida que toda a minha prelecção não se enquadra na critica pretendida (conferência de imprensa) ao seu "Post".
Apanhou-me numa altura de revolta sobre o tremendo mediatismo dado ao assunto, sobre a atitude dos pais que sendo tão católicos, logo com certos valores a defender, não se mostram nada coerentes.
De qualquer modo continuo a não vêr (na dita) a importância que V.Sa. lhe atribui. Somos o que somos e fazemos o que podemos. Umas vezes bem, outras nem por isso. Quem não falha? Nem sequer reconheço ao povo inglês, pelo que sei deles, competencia para nosdapontarem esse tipo de falhas.
Só a atitude selvagem com que tentaram apoderar-se de documentos da n/Polícia!!!

quarta-feira, maio 23, 2007 8:36:00 da tarde  
Blogger Politikos said...

Caro Anónimo
Sobre os pais: confesso-lhe que tenho muita dificuldade em criticar o comportamento deles antes e ainda mais o comportamento deles depois. Acho, aliás, que na situação que eles estão a viver «vale tudo», passe o exagero...
Ainda sobre a conferência de imprensa, eu não lhe dou uma importância de maior, apenas me custou ver aquilo; não havia necessidade, porque a PJ até é uma boa polícia... e «chateia-me» ver sondagens de 90% de ingleses a achar que o comportamento da nossa polícia não foi o melhor...

quarta-feira, maio 23, 2007 10:51:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Senhor Politikos,
no que respeita aos pais, parece-me despropositado falar-se do comportamento deles no "antes": não tenho dúvidas de que, a acrescer ao desespero de perder uma filha, estejam destroçados com um terrível sentimento de culpa.
No que respeita à PJ, concordo que é uma boa polícia e que a conferência poderia (deveria) ter tido maior dignidade.
Como vê, concordância, de novo, a 100% (e nem foi a primeira nem a segunda vez).
Cumprimentos respeitosos.
;-)

quarta-feira, maio 23, 2007 11:34:00 da tarde  

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