Vínculos&etc.
É praticamente definitivo. A lei conhecida por lei dos vínculos, carreiras e remunerações da Administração Pública irá ser aprovada, mais ou menos nos mesmos termos em que foi proposta pelo Governo e aprovada pela maioria que o sustenta na Assembleia da República (AR). O Presidente da República suscitou a análise da constitucionalidade de alguns artigos. Mas neles não estava incluída a questão da natureza do vínculo dos funcionários públicos. Basicamente, e no que me interessa focar, a lei transforma o regime jurídico de vinculação da maior parte dos trabalhadores da Administração Pública que passam de Nomeação Definitiva para Contrato por Prazo Indeterminado. O que pretendo aqui relevar - não sem algum espanto, diga-se - é a facilidade com que o Estado, e este Governo em particular, de uma penada e através de uma simples lei, se prepara para alterar unilateralmente a natureza da relação contratual e para revogar retroactivamente, no que respeita ao tipo de vínculo, os termos de milhões de despachos de nomeação de milhares de pessoas e de dezenas de governos que o antecederam. E isto passa-se num Estado que dizem ser de Direito. Não sei onde fica, confesso, o princípio da não retroactividade das leis?! Saliento, porém, que esta questão do vínculo é para mim, enquanto funcionário público e cidadão, meramente simbólica – creio mesmo que ela não me irá afectar, pelo menos no imediato - mas diz muito, em termos éticos, da prática política do actual Governo. Cabe, já agora, referir que, exceptuando duas ocasiões, e sempre que tenho votado em eleições legislativas (muitas vezes faço-o em branco), votei PS. Cabe, ainda e já agora, também referir que, depois da aprovação deste diploma, não equaciono voltar a votar PS. Por último, importa referir que, e apesar de tal me ter afectado directamente, nunca ninguém me ouviu dizer nada em relação ao congelamento das progressões das carreiras, aos congelamentos salariais, aos aumentos inferiores à inflação, à perca sistemática de poder de compra, ocorridos nos últimos anos. E nada diria, por exemplo, em relação a um aumento do nível dos descontos mensais para a ADSE e para a Caixa Geral de Aposentações. E até mesmo nada teria dito, em nome do equilíbrio das contas públicas, em relação a uma redução do vencimento em alguns pontos percentuais. Mas digo-o em relação à alteração da natureza do vínculo, por ser uma questão que - a meu ver - quebra os mais elementares princípios da ética política republicana que me habituei a considerar da tradição do PS.
Etiquetas: Administração Pública, Estado, Governo, Justiça, Leis
8 Comments:
Posição muito semelhante à desta praça.
Antigo coronel do exército, que já jovem tenente, se permitia comentar a um alferes miliciano: F..., não achas que nós até não estamos mal pagos?
E isto, enquanto se dava cabo do coiro, da saúde e por vezes da vida, em África.
Agora e no ponto a que isto chegou, e mesmo admitindo que havia que tomar muitas das medidas tomadas, ao nivel do governo, para concluirmos, dramáticamente:
É de mais, colaborarmos como temos feito, na farsa deste governo de banqueiros orientados por um socialista tipo Ali Babá, no BdP.
Meu caro Politikos, creio que compreenderá as razões por que me agradou tanto este seu «post» e me sinto tão incapaz de o comentar criticamente: é sempre bom acolher no bando dos politicamente cínicos uma «avezinha» que andava tresmalhada. :-D Aproveito para lhe confiar uma discreta perplexidade. Conheço mal o regime de vinculação dos trabalhadores da Administração Pública e é talvez por isso que não consigo aperceber-me das diferenças entre esse regime e o do contrato de trabalho por tempo indeterminado. O que é que a mudança implica na prática?
Desejo-lhe um excelente ano de 2008. Espero que a vida nos surpreenda com muitos momentos felizes.
Cara Luísa/Luar
Compreendo-a, perfeitamente. E já calculava o efeito que este poste iria causar em si. Lamento, porém, desiludi-la, mas os efeitos não vão além do que está dito no poste. Ou seja, não irei engrossar o contingente de votantes em qualquer outra formação partidária, nem o «bando dos politicamente cínicos» ou qualquer outro bando ou redil. Apenas não voltarei a votar no PS porque, para além dos que lá estão, no Governo e no partido, não ouço ninguém dizer o que quer que seja em relação a algumas coisas, como esta que aponto. E ainda que no futuro, dispam a pele de lobo, vestindo a de cordeiro, tal não será o suficiente para me convencer a voltar a votar nesse partido. Também não irei, doravante, alinhar no discurso «anti-político» que não faz parte da minha matriz, nem concordo com ele.
Sobre a lei e as suas diferenças, o link para a proposta de lei está lá, é só ler e do texto da mesma e dele retirar as devidas ilações. Nem precisa sequer de conhecer o anterior regime de vinculação – que eu sei que conhece – basta que leia este e analise as diferenças entre os vários regimes nele previstos e faça a ponte com a lei geral do trabalho. Veja que já lhe estou a dar umas dicas! E isto não sendo jurista! Imagine que o era! ;-)
Agradeço-lhe muito os seus bons votos e desejo-lhe também um óptimo 2008
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
E a procissão ainda vai no adro, meu caro.
Um doce 2008 seja qual for a vinculação, desde que a mantenha.
Imagino que v., com a segurança com que o afirma, também colabore na organização da «procissão», se calhar até segura mesmo no «andor»?! Ou prefere só ver da janela?! Acha, pois, que eu devo estar agradecido por manter o «vínculo», o que significa estar agradecido «por ter trabalho»?!?!
Sabe, Maloud, o seu comentário fez-me lembrar tempos antigos, muito antes mesmo de eu nascer, quando se convocavam manifestações para agradecer ao «Doutor Salazar» ter-nos «livrado da guerra»...
Pode, assim, em lugar da tal «procissão que vai no adro», que é coisa muito católica, organizar uma manifestação de funcionários públicos para agradecer a outro «senhor» - vamos deixar de lado os títulos, não é assim! - manterem o seu posto de trabalho...
Tenha também um «doce» 2008, seja lá o que isso for.
Lamento ter sido mal interpretada. Afinal dois anos não chegam para me conhecer minimamente.
Dois anos talvez também sejam suficientes para se ter percebido que – e a avaliação é minha e por isso contestável – podendo haver por aqui assertividade, não há arrogância. Nem acho que tenho sempre razão. Estou, por isso, sempre disponível para o diálogo e para rever a minha interpretação dos comentários expressos, mesmo daqueles que sendo tão curtos não se prestam a grandes exercícios de intertextualidade...
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