O time-sharing dos bancos
Ouvindo e lendo as declarações do presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro, a culpa do endividamento dos portugueses é deles próprios, porque pediram o que não conseguiriam pagar. Bem como das agências de viagens, dos promotores imobiliários, das marcas de automóveis que promovem campanhas publicitárias que prometem facilidades. Nunca dos bancos. Ora, isto, sendo verdade, é só meia verdade. Primeiro, porque por detrás do crédito ao consumo de viagens, casas e carros, há bancos e sociedades financeiras. Segundo, porque os bancos fazem das campanhas publicitárias mais agressivas que existem no mercado.
Pessoalmente, já recebi chamadas telefónicas a oferecer-me crédito de todas as maneiras e feitios. Num caso, uma gravação pedia-me apenas para dizer sim; noutro, enviaram-me um cheque de milhares de euros em meu nome que para ser creditado na conta, bastava o seu envio num envelope RSF, etc., etc.
Sendo ainda mais concreto, dou o exemplo da compra da minha casa.
Há um par de anos comprei o apartamento onde vivo. Sem entrar em detalhes de valores. O apartamento custou 50. Eu tinha 15 e uma casa que valia 20. Como não tinha ainda vendido a casa, tive de pedir 35. Vendi a casa cerca de um ano depois e entreguei esse dinheiro ao banco para amortização do capital em dívida. Nessa altura, o banco tentou por variados expedientes dissuadir-me de entregar o dinheiro. Tive mesmo de ser algo assertivo para que a gestora de conta e um director comercial – que ela convocou expressamente para aquela reunião – aceitassem a decisão. Pelo meio, tentaram vender-me investimentos e aplicações sem que eu nunca os tivesse pedido. E nem sequer pude dar os 20 que recebi da venda da casa, apenas me permitiram entregar 17,5, já que o contrato só autorizava, sem juros, uma amortização anual inferior a 50% do capital. Ou pagaria uma taxa de juro obscena. E mesmo para entregar esse dinheiro ainda tive de pagar uma taxa administrativa de €125.
Continuei, nos anos seguintes, a fazer amortizações de capital de sensivelmente 50% do empréstimo, pagando, até há dois anos, em que o Banco de Portugal acabou com essa marmelada, uma taxa administrativa de €125. Só em taxas para entregar o dinheiro paguei, ao longo de alguns anos, umas centenas de euros. Ora, como se vê por estes exemplos, os bancos também promovem o endividamento. Aliás, esse mesmo banco enviou-me em tempos – sem que eu lhe pedisse – um cartão de crédito que nunca usei, obrigando-me, para desistir dele, a um pedido por escrito e cobrando-me uma taxa obscena por ter tido um cartão que nunca pedi e que nunca usei. Isto com base apenas no «quem cala, consente»!
Sinceramente, hoje já pouco distingue os bancos – que há 20 atrás eram instituições idóneas e com alguma ética de comportamento – dos vendedores de time-sharing que nos abordavam na Rua Augusta vendendo férias...
Pessoalmente, já recebi chamadas telefónicas a oferecer-me crédito de todas as maneiras e feitios. Num caso, uma gravação pedia-me apenas para dizer sim; noutro, enviaram-me um cheque de milhares de euros em meu nome que para ser creditado na conta, bastava o seu envio num envelope RSF, etc., etc.
Sendo ainda mais concreto, dou o exemplo da compra da minha casa.
Há um par de anos comprei o apartamento onde vivo. Sem entrar em detalhes de valores. O apartamento custou 50. Eu tinha 15 e uma casa que valia 20. Como não tinha ainda vendido a casa, tive de pedir 35. Vendi a casa cerca de um ano depois e entreguei esse dinheiro ao banco para amortização do capital em dívida. Nessa altura, o banco tentou por variados expedientes dissuadir-me de entregar o dinheiro. Tive mesmo de ser algo assertivo para que a gestora de conta e um director comercial – que ela convocou expressamente para aquela reunião – aceitassem a decisão. Pelo meio, tentaram vender-me investimentos e aplicações sem que eu nunca os tivesse pedido. E nem sequer pude dar os 20 que recebi da venda da casa, apenas me permitiram entregar 17,5, já que o contrato só autorizava, sem juros, uma amortização anual inferior a 50% do capital. Ou pagaria uma taxa de juro obscena. E mesmo para entregar esse dinheiro ainda tive de pagar uma taxa administrativa de €125.
Continuei, nos anos seguintes, a fazer amortizações de capital de sensivelmente 50% do empréstimo, pagando, até há dois anos, em que o Banco de Portugal acabou com essa marmelada, uma taxa administrativa de €125. Só em taxas para entregar o dinheiro paguei, ao longo de alguns anos, umas centenas de euros. Ora, como se vê por estes exemplos, os bancos também promovem o endividamento. Aliás, esse mesmo banco enviou-me em tempos – sem que eu lhe pedisse – um cartão de crédito que nunca usei, obrigando-me, para desistir dele, a um pedido por escrito e cobrando-me uma taxa obscena por ter tido um cartão que nunca pedi e que nunca usei. Isto com base apenas no «quem cala, consente»!
Sinceramente, hoje já pouco distingue os bancos – que há 20 atrás eram instituições idóneas e com alguma ética de comportamento – dos vendedores de time-sharing que nos abordavam na Rua Augusta vendendo férias...
Foto - TSF
Etiquetas: Bancos