27 de setembro de 2009

O «sistema da cruz» e a margarina...

Só eu sei porque fico em casa…
O Expresso - doravante Espesso - encabeça o editorial desta semana com a tronitruante frase:
«Votar é o maior dever de um cidadão em relação ao seu país. Não o cumprir, embora seja legítimo, é desprezar o nosso futuro e a nossa coesão enquanto povo.»
É o tipo de frase que me irrita. Por ser grosseiramente simplista.
Primeiro, porque acha que o não votar é uma demissão, quando pode ser uma tomada de posição. Talvez se o Espesso fizesse o trabalho de casa e procurasse saber porque não vota quem se abstém não fosse um mau começo.
E em segundo porque a frase é hiperbólica. Podia encontrar um bom punhado de coisas mais importantes e que fazem um bom cidadão do que pôr uma cruz num papel de 4 em 4 anos. O maior dever de um cidadão pode muito bem ser não infringir as leis, pagar impostos, apoiar e ajudar os seus concidadãos, empenhar-se em causas ou associações cívicas… São coisas dessas, mais do que votar, que asseguram o nosso futuro e asseguram a nossa coesão como povo, para usar o paleio do Espesso.
Sobre as razões porque não voto – em legislativas e autárquicas, já agora diga-se; convém não pôr tudo no mesmo saco: isso do votar em abstracto é mais outra ideia simplória que a frase do Espesso contém – já aqui as escrevi.
E se quem não vota se abstém de frases grandiloquentes sobre a importância do não voto, é suposto que quem vota meta a viola no saco. Aliás, quem vota apenas critica quem não vota nos dias que antecedem o voto. Depois disso e até novo voto, manifesta um olímpico desprezo por quem não vota, não procurando sequer saber porque é que isso acontece.
Os que estão satisfeitos com o sistema da cruz, que vão lá e votem. Os que se sentem representados pelos seus representantes - isto se souberem quem eles são, para além do primeiro e do segundo da lista – que vão lá e votem. Os que acham que é civicamente relevante pôr uma cruz à frente de uma sigla e de um nome de um partido – muitas vezes sem conhecer o programa e quase sempre sem conhecer as medidas concretas que irão ser tomadas nas diversas áreas da governação – que vão lá e votem. Os que acham que é civicamente relevante pôr a cruz numa sigla e num nome – sem conhecer os ministros que irão interpretar as políticas e executar as medidas – que vão lá e votem. Os que acham que é civicamente relevante pôr a tal cruz sem ter nenhuma hipótese de monitorizar e de se pronunciar sobre a execução dos programas e das medidas, que vão lá e votem. Eu não vou. Porque sou mais exigente do que isso com o sistema… É que até quando compro um pacote de uma nova margarina, muitas vezes me perguntam, semanas depois, se estou contente com o produto, com o sabor, com o aroma, com a consistência, com a embalagem, com o preço, com a qualidade do atendimento de quem ma vendeu e o que for… E o meu voto vale mais do que um pacote de margarina e não estou disposto a entregá-lo por menos?!

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19 de setembro de 2009

Imposto de Saúde

Só muito rara e pontualmente - para não dizer mesmo nunca - me queixo de que pago muitos impostos. E pago directamente, só através do IRS, 36,5% do que ganho. Não me queixo porque globalmente não sei dizer se pago muito ou pouco, atento o que recebo. Já aqui o escrevi.
Um dos bens que recebo, e inestimável, é a saúde. Felizmente vivo num país em que se um sem-abrigo e um empresário de sucesso – deixemos de lado os termos pobre e rico que ultimamente perderam verosimilhança: este último, até, democratizou-se a níveis impensáveis por obra e graça de um Governo PS!... – tiverem um acidente de viação são levados para o mesmo hospital, na mesma ambulância, são atendidos pelo mesmo médico e tratados de igual forma... E isto é um bem sem(com) preço que deve exigir de nós os maiores cuidados…
Todos sabemos também que os custos com a saúde aumentaram enormemente. Ainda me lembro do tempo em que os exames complementares de diagnóstico eram pouco mais que análises ao sangue e radiografias… Hoje, há ecografias, TAC, tomografias de positrões e o que for…
Para combater o aumento das despesas, os Governos introduziram umas taxas moderadoras ridículas, sob o pretexto moderar o acesso às urgências. É uma desculpa tosca: se existissem serviços médicos de atendimento permanentes e eficazes, e médicos de família com horários compatíveis com as vidas profissionais, ninguém recorria às urgências dos hospitais. Este último Governo fez mais. Estendeu-as aos internamentos e às cirurgias, fazendo de nós tolos: moderar internamentos e operações?!?!?
Seria melhor encarar o problema de frente, falar verdade e dizer ao cidadão que se quer o sistema tal como está, e desejavelmente melhor, tem de pagar mais. Simplesmente isso. Através de um imposto de saúde, pago com base nos rendimentos - todos (de capitais, também) e não só do trabalho…
Esta necessidade de pagarmos mais pela saúde explica-se mais facilmente através de exemplos reais. Uma colega e amiga, cujo marido irá nos próximos meses sofrer um transplante hepático, em conversa com um dos médicos, questionou-o sobre os custos de um transplante, ao que este lhe disse que cada transplante de fígado, com todo o processo a montante e a jusante, custa, dependendo das complicações, entre 300 e 500 mil euros…
É também para termos a garantia de poder continuar a beneficiar disto que digo o que digo…

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2 de setembro de 2009

Uma questão de afectos

O voto em política passa – em meu entender – muito pelo afecto e pelas afinidades profundas. Duvido que muitos leiam os programas dos partidos ou que conheçam os deputados pelo seu círculo. Muitos – excluo naturalmente os oportunistas – acabam por votar por mero clubismo – alguns são de um partido como são de um clube de futebol e alardeiam mesmo essa fidelidade como um sinal distintivo de que se orgulham; muitos votam nos líderes – que podem ser mais ou menos inspiradores e assim permitirem uma maior identificação com eles; muitos ainda votam numa ideia mítica que têm dos partidos e dos seus posicionamentos político-ideológicos. São meras ressonâncias subjectivas. Uma análise objectiva não lhe resiste. Porém, é quase sempre odioso mostrar a alguém aquilo que verdadeiramente é. É o que acontece com os votantes do PS.
O PS foi um partido de esquerda. Hoje, não é um partido de esquerda. Qualquer análise que ponha de lado o afecto e as afinidades profundas e analise esta governação à luz da razão o demonstra.
Creio ser pacífico assentar em três pontos:
  1. Nenhum Governo depois do 25 de Abril governou mais à direita em matéria económica e social;
  2. O que distingue o PS do PSD, em matéria de posicionamento esquerda/direita, são meras questões de costumes, designadamente, no que respeita à família;
  3. Nem na atitude pessoal dos membros do Governo, e genericamente do PS, é sequer possível observar hoje a distinção esquerda/direita.
O PS é hoje um partido de direita, quer se queira, quer não, por muito que isso custe a quem vote no PS.

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