O «sistema da cruz» e a margarina...
Só eu sei porque fico em casa…
O Expresso - doravante Espesso - encabeça o editorial desta semana com a tronitruante frase:
«Votar é o maior dever de um cidadão em relação ao seu país. Não o cumprir, embora seja legítimo, é desprezar o nosso futuro e a nossa coesão enquanto povo.»
É o tipo de frase que me irrita. Por ser grosseiramente simplista.
Primeiro, porque acha que o não votar é uma demissão, quando pode ser uma tomada de posição. Talvez se o Espesso fizesse o trabalho de casa e procurasse saber porque não vota quem se abstém não fosse um mau começo.
E em segundo porque a frase é hiperbólica. Podia encontrar um bom punhado de coisas mais importantes e que fazem um bom cidadão do que pôr uma cruz num papel de 4 em 4 anos. O maior dever de um cidadão pode muito bem ser não infringir as leis, pagar impostos, apoiar e ajudar os seus concidadãos, empenhar-se em causas ou associações cívicas… São coisas dessas, mais do que votar, que asseguram o nosso futuro e asseguram a nossa coesão como povo, para usar o paleio do Espesso.
Sobre as razões porque não voto – em legislativas e autárquicas, já agora diga-se; convém não pôr tudo no mesmo saco: isso do votar em abstracto é mais outra ideia simplória que a frase do Espesso contém – já aqui as escrevi.
E se quem não vota se abstém de frases grandiloquentes sobre a importância do não voto, é suposto que quem vota meta a viola no saco. Aliás, quem vota apenas critica quem não vota nos dias que antecedem o voto. Depois disso e até novo voto, manifesta um olímpico desprezo por quem não vota, não procurando sequer saber porque é que isso acontece.
E se quem não vota se abstém de frases grandiloquentes sobre a importância do não voto, é suposto que quem vota meta a viola no saco. Aliás, quem vota apenas critica quem não vota nos dias que antecedem o voto. Depois disso e até novo voto, manifesta um olímpico desprezo por quem não vota, não procurando sequer saber porque é que isso acontece.
Os que estão satisfeitos com o sistema da cruz, que vão lá e votem. Os que se sentem representados pelos seus representantes - isto se souberem quem eles são, para além do primeiro e do segundo da lista – que vão lá e votem. Os que acham que é civicamente relevante pôr uma cruz à frente de uma sigla e de um nome de um partido – muitas vezes sem conhecer o programa e quase sempre sem conhecer as medidas concretas que irão ser tomadas nas diversas áreas da governação – que vão lá e votem. Os que acham que é civicamente relevante pôr a cruz numa sigla e num nome – sem conhecer os ministros que irão interpretar as políticas e executar as medidas – que vão lá e votem. Os que acham que é civicamente relevante pôr a tal cruz sem ter nenhuma hipótese de monitorizar e de se pronunciar sobre a execução dos programas e das medidas, que vão lá e votem. Eu não vou. Porque sou mais exigente do que isso com o sistema… É que até quando compro um pacote de uma nova margarina, muitas vezes me perguntam, semanas depois, se estou contente com o produto, com o sabor, com o aroma, com a consistência, com a embalagem, com o preço, com a qualidade do atendimento de quem ma vendeu e o que for… E o meu voto vale mais do que um pacote de margarina e não estou disposto a entregá-lo por menos?!
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