27 de março de 2008

Do ridículo à vergonha

Volto ao vídeo captado numa aula da Escola Secundária Carolina Michaëlis. A comunicação social cavalgou o assunto. E cavalgou-o de forma inaceitável. Porque é inaceitável que se diga «o caso da aluna que agrediu a professora», por exemplo. Quando não se vê nenhuma agressão. O que há ali indisciplina e desrespeito. Ou que se diga «o caso de violência de uma aluna sobre uma professora no Porto». Porque não se vê ali nenhuma violência. Nem física, nem verbal. O que se vê ali - sublinho - é indisciplina e desrespeito. Sobre este cavalgar dos media, vem a Justiça e cavalga uma onda transformando-a num tsunami. E quando a Justiça se mete no meio de bagatelas perde-se logo a verosimilhança. E mete-se, não por terem recorrido a ela, por ter havido uma queixa. Mete-se, pedindo que recorram a ela, pedindo que se queixem. E isto ao mais alto nível. Foi o próprio Procurador-Geral da República, ele mesmo, que deu gás a isto tudo. De forma inaceitável. A menos que procure criar aqui uma manobra de diversão para camuflar os verdadeiros problemas da Justiça que ele não consegue minimamente ajudar resolver. O que eu não acredito, não posso, nem quero acreditar! E claro, como a Justiça não está preparada - nem pode, nem deve - para lidar com casos como este, não há moldura adequada para enquadrar o que aconteceu. E surgem verdadeiros aleijões jurídicos sem nenhuma verosimilhança e que ofendem qualquer pessoa que pare um minuto para reflectir. Que a aluna vai ser acusada de difamação?!?!?!, de injúrias?!?!?!, de ofensas corporais?!?!?!?, de coacção, porque não terá deixado sair a professora da aula?!?!?!?, e os colegas de omissão de auxílio?!?!?!? É o ridículo mais absoluto! É pior do que o caso Esmeralda! E é pior porque há o risco de este caso e de esta aluna constituirem uma espécie de caso exemplar e de esta aluna e os colegas serem uma espécie de bodes expiatórios. E se assim for, passa-se do ridículo para a vergonha. Para uma hedionda vergonha que deverá cobrir a Justiça portuguesa...

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23 de março de 2008

A contraciclo

O vídeo captado numa aula da Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, em que uma professora e uma aluna lutam pela posse de um telemóvel, tem sido discutido até à exaustão nos media da Pólis. Ouvi, creio que na quinta-feira na SIC Notícias, declarações de compungida crítica aos jovens de hoje das bocas da antiga deputada comunista Odete Santos e do deputado social-democrata Miguel Relvas. Aqui e ali ouvi renascerem expressões de má memória como geração rasca. Ouvi e li ainda aqueles que procuram encontrar um bode expiatório mais ou menos remoto, sejam os pais, a ministra da Educação, o Primeiro-Ministro. Ao Papa ainda não ouvi ninguém culpar, mas apenas porque já não é de uso... A lógica é eminentemente tribal. Diabolizam-se os alunos e martirizam-se os professores. Não tenho – lamento dizê-lo – essa visão. E sobretudo não generalizo, a partir de um caso, a todos os casos, a todas as escolas, a todos os alunos. E mesmo neste caso, tenho sérias dúvidas relativamente à adequação do comportamento da professora.
Pelo que vi, li e ouvi, a aluna atendeu uma chamada ou estava a ouvir música no telemóvel e a professora tirou-lhe o telemóvel. Ora, farto-me de ver gente atender chamadas de telemóvel em tudo o que é sítio em que isso não é admitido ou admissível, sem que ninguém abusivamente lhe saque o telemóvel. Ainda há bem pouco tempo assisti a um espectáculo público em que, no silêncio da sala, um telemóvel toca e alguém na plateia atende com inegável desfaçatez a chamada. Não se deixando minimamente intimidar com os olhares reprovadores à sua volta. E não vi, nenhum dos seguranças ou empregados do dito sítio, com auriculares de tipo agentes da CIA cá do burgo, esboçar qualquer reacção. E ninguém sequer concebe que, a existir reacção, eles chegassem ao pé do prevaricador e lhe rapassem o telemóvel da mão. Porque isso é intrusivo da liberdade individual, da propriedade, etc., etc. Essa seria uma atitude desadequada ali e também o foi na aula. A professora agiu, a meu ver, de forma desastrada e desadequada para resolver aquela situação. O que só demonstra que alguns professores não têm formação ou preparação, e pelos vistos também o bom-senso, para lidar com casos como aquele. Isto, obviamente, não desculpa a atitude subsequente da aluna, o tratamento por tu, os gritos, o tirar desforço físico, e pior ainda, a atitude conivente dos colegas, sobretudo a do cineasta e divulgador do vídeo, que deviam ser naturalmente advertidos e punidos.

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21 de março de 2008

O nojo na política

O DN de quarta-feira noticiava o lançamento de Nambuangongo, Meu Amor, o último livro de Manuel Alegre. Lendo a notícia, vê-se que estiveram presentes «amigos, personalidades da política, do espectáculo e do mundo cultural português» e ainda «destacados militantes de vários partidos da oposição». Deputados do PS, apenas Alberto Martins, líder parlamentar, Maria de Belém Roseira, ambos apoiantes de Alegre, e ainda Celeste Correia...
O PS, caso não saibam, tem actualmente 121 deputados na Assembleia da República que todos os dias convivem com Alegre que não é - recorde-se - um deputado ignoto, mas sim um histórico do PS…
É também por isto que muitos olham com nojo para os políticos…
Nota - A imagem é também do DN.

13 de março de 2008

Quando o Português atrapalha...

Foto - Pólis&etc., com telemóvel e já ao lusco-fusco...

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8 de março de 2008

Salazar e «os democratas»

O Ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, referiu, ontem, quando confrontado com algumas afirmações proferidas numa manifestação de professores:
1.º E cito, «certas pessoas não sabem distinguir entre Salazar e os democratas»;
2.º Que aquelas pessoas não têm autoridade moral para proferir aquelas afirmações;
3.º Que autoridade moral para isso têm ou tinham Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre, Jorge Sampaio;
4.º Que autoridade moral não tinha ou não tem Cunhal e Mário Nogueira.
Ora, estas declarações são profundamente lamentáveis.
1.º E mais importante, porque o Ministro não reflecte sobre as razões que levam os manifestantes a comparar «os democratas» a Salazar e se calhar devia;
2.º Porque afirma ter mais autoridade moral do que os manifestantes, não se sabendo quem lha reconhece;
3.º Porque oblitera directamente a acção de Álvaro Cunhal e indirectamente dos comunistas na luta contra a ditadura;
4.º Porque coloca, completamente a destempo, Mário Nogueira nesta discussão;
5.º E último, porque ao invocar essa pretensa autoridade moral, ele não reconhece o direito de opinião aos manifestantes, acabando por lhes dar, de certo modo, razão para aquelas afirmações.
Ora, o que ele devia fazer mas não faz, porque está impante e verbalmente destemperado com a maioria absoluta que tem, era reflectir sobre as razões pelas quais surgem essas comparações... Não me vou pronunciar sobre as afirmações em concreto e sobre as razões objectivas dos manifestantes porque não as conheço...
Mas pessoalmente encontro um exemplo - aliás já por aqui referido - de um caso que considero poder suscitar uma comparação lícita entre a prática de Salazar e a prática dos «democratas»… É a lei n.º 12-A/2008, de 27 de Fevereiro, que «estabelece os regimes de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores que exercem funções públicas», através da qual o Estado, dito de Direito, altera retroactivamente milhões de despachos e os termos dos «contratos» celebrados com centenas de milhares de funcionários públicos...
Além disso, o Ministro tem de perceber que o que distingue a Democracia da ditadura é exactamente o direito de todos compararem tudo...

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