Fedorento, infelizmente não Gato...

Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) referiu-se, ontem, na sua habitual prédica de domingo à noite, ao ministro Jaime Silva (JS) dizendo que ele era «o mais incompetente do mundo» e «uma nulidade absoluta». As afirmações valem o que valem. Eu acho que aquelas não valem nada. MRS é um professor universitário e sabe que mesmo o que se diz como opinião, embora não careça de prova científica, tem pelo menos de ser verosímil. E no caso, o que ele disse não o é. Não se pode provar que JS seja uma nulidade absoluta e menos ainda que seja o ministro mais incompetente do mundo. Aquilo é uma tirada de café dita no calor de um raciocínio e amplificada por ter sido dita num programa de informação do horário nobre de uma televisão.
O ministro respondeu-lhe hoje. Tenho JS como um indivíduo um bocado histérico e até estranhei quando ele começou a articular uma resposta equilibrada e coerente, falando de princípios e de rigor. Mas empolgou-se e começou logo a tresler quando enfeitou a argumentação com umas expressões grandiloquentes, do tipo «falta-lhe a grandeza dos grandes políticos». E não satisfeito rematou dizendo que aquilo foram declarações feitas num «programa de entretenimento, tipo Gato Fedorento»…
É fantástica a capacidade desta gente em conseguir, numa situação que até lhe poderia granjear alguma simpatia popular, fazer reverter a situação, causando antipatia e até alguma repulsa a quem o ouve… Está tudo aqui...

O mundo é grande…

O Procurador-Geral da República (PGR) referiu hoje que já foi enviado para Inglaterra o mandado de detenção sobre Vale e Azevedo. Isto depois de uma notícia de há dias do Correio da Manhã.
Vale e Azevedo mostrou hoje na televisão documentos em que afirma que há mais de um mês havia enviado cartas ao Tribunal e à PGR onde até constava o seu endereço...
Enquanto isso, o PGR, com a sua habitual auto-satisfação e ostentando aquele ar de quem crê numa espécie de superioridade natural do Direito sobre todas as áreas da vida da Pólis, aliás comum a muitos agentes da Justiça, disse hoje que o mundo é tão grande, que as pessoas viajam, que se deslocam e que, por isso, não é fácil localizá-las... Veja as declarações do PGR aqui e as de Vale e Azevedo aqui…
A ser verdade que Vale e Azevedo enviou as cartas, e isto devia ser perguntado claramente à PGR, este é apenas outro caso da mais lamentável, da mais deplorável ineficiência e ineficácia desta máquina de administração da Lei a que teimamos em chamar Justiça...

Yes we can... Part Two

Pode até não ser desta! Mas estou com uma fezada para o jogo de daqui a pouco. Uma das últimas conferências de imprensa da selecção só veio reforçar essa minha fezada. Pelo espírito de grupo que ali se nota, pelo espírito ganhador, pela confiança que transparece da atitude dos jogadores, no caso Petit e Ronaldo. A qualidade técnica é já consabida.

A este nível, porém, o nível das oito equipas apuradas é já muito semelhante. E há muitos factores que podem decidir um jogo: um detalhe, até a sorte... E há ainda, é claro, os pontos fracos da equipa portuguesa: o jogo de cabeça na área, a falta de aproveitamento dos avançados...

Mas nunca me lembro, no tempo que já levo de vida, de ter tanta fezada numa selecção nacional como hoje...

Onde mais lhes dói…

Os preços das gasolinas e do gasóleo em Portugal são dos mais elevados da Europa.
Os impostos sobre as gasolinas e o gasóleo em Portugal estão na média em termos europeus.
Os salários em Portugal são dos mais baixos da Europa.
Percebe-se facilmente que o que está mal nesta equação não é o ISP, o Imposto sobre os Produtos Petrolíferos, mas os lucros das empresas petrolíferas que têm custos laborais mais baixos e margens de comercialização mais gordas.
O acordo conseguido pelo Governo com as empresas de transporte - que implicou basicamente uns benefícios fiscais, através de umas deduções do combustível no IRC, uns incentivos à troca de veículos mais poluentes por menos poluentes e umas dilações no pagamento do IVA - tem afinal – contrariamente ao que foi dito - custos pagos por todos nós. Serão menos directos do que a criação do tal gasóleo profissional, mas são custos na mesma.
Ora, o Governo teve aqui, depois do relatório do regulador que absolveu as empresas petrolíferas de suspeitas de cartelização – alguém estaria à espera de ver um ofício da GALP para a BP ou uma escuta com a voz de Faria de Oliveira ao seu homólogo da BP combinando os aumentos?! – uma oportunidade de ouro para as penalizar de outra forma, fazendo-lhes mossa exactamente onde mais lhes dói, ou seja, no bolso, obrigando-as a reduzir as margens.

Yes we can...

Pode até não ser desta! Mas parece-me que é apenas uma questão de tempo – tempo curto, medido em anos e não em décadas – até ganharmos uma grande competição internacional a nível de selecções. E isso, mais do que a Scolari, que também tem ajudado, fica sobretudo a dever-se à globalização que leva uma significativa percentagem dos nossos jogadores a jogarem nas principais ligas europeias…

Salve, José!

Assisti com deleite aos excertos da conferência de imprensa em que Mourinho foi apresentado como treinador do Inter de Milão. Sobretudo quando ele se expressou num italiano já fluente, chegando mesmo a rejeitar as perguntas e as respostas em português ou em inglês. Não tenho especial simpatia pela personalidade de Mourinho, mas, como português, orgulho-me dele. Ali não está só o génio. Aquele que foi tocado pelos deuses com um determinado dom. Ali está sobretudo o trabalho. O homem faz o TPC e demonstrou-o ontem, uma vez mais. E porquê? Porque ele há muito que percebeu que Itália seria um destino mais do que certo. Era apenas uma questão de tempo. Tirando Inglaterra, só mesmo Itália ou Espanha. Teria, pois, de aprender italiano. Para melhor se expressar com os jogadores, com a direcção, com os jornalistas. E ele sabe que o papel do treinador, contrariamente ao dos jogadores, se joga mais com a boca do que com os pés. Por isso estudou italiano. Aquilo é profissionalismo ao mais alto nível. E no estado mais puro. É um orgulho para Portugal ter gente assim.
Salve, José!

Onde é que estão os outros

Olhei com simpatia para o comício-festa das esquerdas em que participou Manuel Alegre. E olhei com simpatia para o discurso de Manuel Alegre.
Não deixei, contudo, de reflectir, tal como um amigo fez questão de me chamar a atenção, que Manuel Alegre, hoje a ala esquerda do PS, já foi, há mais de vinte anos, a sua ala direita…
Não deixei, ainda, de reflectir que Mário Soares, que na semana passada alertou o Governo e o PS para a necessidade de se preocupar com a pobreza e com as desigualdades em Portugal, foi aquele que há vinte anos foi acusado de meter o socialismo na gaveta…
Ora, se a ala direita é hoje a ala esquerda e se aquele que meteu o socialismo na gaveta é hoje quem empunha a sua bandeira, onde é que estão os outros?!?!?!