31 de março de 2006

Universitas Portucalensis

Hoje estive a assistir a umas provas académicas de uma amiga. A Oeste nada de novo. A Universidade no seu melhor. Vestimentas pretas e colares, tudo muito ritualizado, como convém a uma vetusta instituição. Ciência de hoje com vestes de anteontem. Naturalmente, são só as vestimentas. E estavam lá os «cromos» todos destas ocasiões. E como os havia em dobrado, havia para a troca. Os «profes» instalados, os colegas maledicentes, os estudantes devotos, a família e os amigos. Não me excluo. Não sei ainda é que número me coube na caderneta?! A criatura a quem coube arguir gastou largos minutos a distribuir salamaleques, à esquerda e à direita. A Universidade portuguesa é pequenina e, por isso, todos se conhecem. Ou trabalharam juntos ou foram alunos ou mestres uns dos outros, de onde, é tudo em família. Mas o que mais me chocou. E não devia. Foi a «senhora» - meto-o entre aspas: a «coisa» é metafórica - presidente do júri, a «dona do pedaço» - nossa conhecida de outras, mas felizmente ultrapassadas, «andanças» - que se portou mal. Mal, mas afinal como habitualmente. Escarrou a sua jactância gratuita para cima dos outros. Mais valia da dita cuja no júri de hoje: a «sábia» administração do tempo de que dispunham uns e outros. Falou pouco, mas quando falou, do alto da sua pose, algures entre o marcial e o doméstico, criou mal-estar… Não havia necessidade... E eu a ver aquilo… E aquilo custou-me… Salvou-se a minha amiga, espírito livre, mas que sofre… com aquilo...

27 de março de 2006

A luta dos afectos em Brokeback Moutain

O Pólis&etc. não costuma abordar aqui factos ou situações para os quais não tenha algo de próprio a dizer. Não vale a pena baralhar e voltar a dar. Não vale a pena repetir o que os outros disseram por outras palavras. Faz-se, hoje, uma excepção, a «pedido de várias famílias» - a bem dizer de uma única família – leitora deste blogue – ia a dizer leitora atenta, mas não sei se o será. Refiro-me ao filme-escândalo da temporada, O Segredo de Brokeback Moutain. A palavra «segredo» é da tradução portuguesa que tem sempre de «inventar» qualquer coisa. O título original é só Brokeback Moutain, e chega. Eu presumo, mesmo, que o convite à escrita sobre este filme é assim uma espécie de presente envenenado. Para ver se se apanha qualquer «esqueleto atrás do armário», talvez com um fundo vagamente voyeur... O Pólis&etc. foi ver a fita. E gostou. Gostou pelo tratamento da questão da homossexualidade que é abordada com sensibilidade e delicadeza por Ang Lee. Cá está algo que todos andam a dizer e eu repito. É o que acho, de facto. As personagens principais, Ennis del Mar e Jack Twist, vão «crescendo» e ganhando densidade ao longo do filme. Ou nós vamo-nos adaptando a elas, compreendendo-as e aceitando-as. Admito, aqui, que isto possa ser um preconceito masculino. A primeira cena de envolvimento dos dois foi incómoda – há que dizê-lo – para a minha heterosexualidade, julgo que talvez pelo seu lado mais «animal», pelo desejo sexual em estado puro. E por ser a cena mais explícita de todo o filme. Tudo o resto, não. O desenvolvimento subsequente do filme é o crescimento do afecto e a luta pela sua assunção, contra o preconceito. E é mesmo muito curioso, a aprendizagem dos afectos feita por Ennis, dos dois, o cowboy mais terra-a-terra, mais desajeitado. Jack sempre havia sido homossexual, Ennis é apenas alguém à procura de afecto. O ambiente fechado e concêntrico das montanhas, como é aquele em que Ennis e Jack partilham, acaba por tornar normal a aproximação daqueles dois homens, pelo que não espanta o que aconteceu. A evolução posterior representa a assunção possível daquele sentimento numa certa América. Ambos foram até onde era possível. A fotografia e a caracterização são magníficas. As casas, as roupas e os ambientes daquela América interior e rural estão ali retratados ao pormenor e não são só as montanhas do Wyoming, são também os velhos ranchos decadentes, os cenários urbanos das pequenas cidades do Texas, aquela rua de prostitutos no México. Uma das cenas finais, quando Ennis vai falar com os pais de Jack, é muito bonita e cheia de «silêncios que falam», muito bem geridos por Ang Lee. A mestria da realização - daí o óscar - vê-se bem nos pequenos pormenores, como na cena do Natal nas famílias de Ennis e de Jack, em que a ligação entre uma e outra é feita pelo trinchar do peru: a cena «viril» com o sogro de Jack, apesar de «puxar» para o estereótipo americano, não aborrece. Os flashbacks à infância de Ennis enquadram-lhe o perfil que nos permite a compreensão plena do personagem: a cena em que um homossexual local aparece morto é marcante... Em resumo, o filme merece atenção e aconselha-se...

P.S. - Uma crítica para a fábrica de fazer dinheiro e de apresentar filmes em que se transformaram as novas salas de cinema (chamam-lhes multiplex)... Sem excepção... Nunca me hei-de adaptar a isto... Salas todas iguais, quadriláteros que não se distinguem uns dos outros, onde se encafuam umas centenas para ver um filme... Não há intervalos, quer seja o Segredo de Brokeback Moutain, quer seja o Ben-Hur... As pipocas são omnipresentes... Não há espaços de convívio, dignos desse nome... Ir ao cinema já não é um ritual… Um dia voltaremos a este tema, nós que crescemos a ver cinema nas velhas salas de Lisboa... Resta dizer que fomos ao El Corte Inglês.

24 de março de 2006

O cachecol na noite da Taça & o Alberto João

Ao escrever este poste sei que vou dar «munições» às Krónikas Tugas na sua cruzada sobre a pseudo-coligação infiel anti-SLB. E provavelmente dará origem a comentários do tipo «eu não dizia» ou «é mais um argumento». Porém, a acontecer, isso não é relevante para o caso. Pois, o que vi chocou-me e isso sobrepõe-se às salutares picardias entre blogues. Ao assistir pela televisão ao FC Porto-Sporting de quarta-feira, quando uma câmara instalada num carril junto ao solo se passeava, dando-nos aquelas belas imagens do público das primeiras filas, dei com os olhos num cachecol do FC Porto, ostentado por um adepto, dizendo: «Filhos da p. SLB». O p. abreviado é meu. No cachecol – é claro - estava por extenso. Pasmei! E pasmei, não pelo espírito subjacente a isso, que sei que existe! E pasmei, não porque alguém o ostentasse, que isto há gente para tudo e o futebol não é um espelho de virtudes! Pasmei, sobretudo, porque aquilo era um produto industrial, feito por uma empresa – presumo naturalmente que aquilo não faz parte do merchandising do Porto. Quem terá sido, então, o industrial que fez aquilo? Como é possível deixar-se comercializar impunemente aquilo? Ninguém fiscaliza a montante?! E a jusante?! Também não?! Se não se permite levar o que quer que seja para os jogos (até isqueiros, guarda-chuvas e outros objectos que possam servir de arremesso)! Se há minuciosas revistas à entrada! Como é possível fazer-se «vista grossa» à entrada nos estádios de símbolos ofensivos e instigadores de violência? Pergunto: como reagiriam os adeptos do clube adversário sentados ao lado de um energúmeno desses quando ele celebrasse um golo com um cachecol daqueles? Ora, a meu ver, esses objectos deveriam ser confiscados e os adeptos deveriam ser identificados pela Polícia e advertidos ou mesmo sancionados penalmente, em caso de reincidência. É que – meus senhores – ainda não chegámos à Madeira?

21 de março de 2006

Só eu sei por que não fico em casa...


Não gostamos muito de ostentar as glórias clubísticas, porque as glórias têm-se, não se ostentam. E nós seríamos do Sporting mesmo sem nenhuma das glórias conquistadas. Porém, também não vem nenhum mal à Pólis uma pequena manifestação de orgulho leonino, bem patente no lema da Lotaria do Centenário do Grande SCP que anda à roda no próximo dia 27:

80.000 sócios
9 medalhas olímpicas
13 mil títulos
5.900 atletas
100 atletas olímpicos
21 taças europeias

Está tudo bem com o David

Aproximando-se perigosamente a idade em que tem de fazer o primeiro exame prostático, o Pólis&etc. já começou a sofrer por antecipação…
Porém, hoje, com uma alma nova e uma esperança renovada… Esperança e alma que já tinham ficado mais confortadas quando, nas últimas eleições presidenciais, ouviu o Dr. Soares dizer no Brasil que, apesar da idade, estava tudo bem com a sua próstata (nalguns meios masculinos conhecida como «a castanha»: órgão de duvidosa e nem sempre conhecida serventia, mas que pela posição geoestratégica que ocupa é bom que lá esteja e que não se lhe mexa muito, por causa da vizinhança, que isto nunca se sabe...). É claro que o Pólis&etc. já conhecia o jacto do Manneken Pis que corre há muitos e bons anos na Bélgica… É mesmo pior do que o azeite Galo, a «cantar» desde 1911. Mas este exemplo é verdadeiramente demolidor… Como se vê, o «velho» David, apesar da idade, ainda mantém um bom jacto na micção, contínuo e forte…
De onde se deduz que ainda há esperança para os homens da Pólis…
P.S. – Embora cheire a States, não sabemos onde fica exactamente este «obelisco» - provavelmente ignorância nossa - mas é sem sombra de dúvida um símbolo de bom gosto, como este poste, aliás …

19 de março de 2006

Espectro - Missing in action

Já que falamos de blogues desaparecidos, fica uma palavra para O Espectro, que também fechou portas, outra perca importante na blogosfera. Discordávamos muitas vezes do conteúdo e da forma dos textos nele expressos, mas líamos sempre com interesse. Além do mais, tiramos o chapéu ao facto de vpv (Vasco Pulido Valente) e ccs (Constança Cunha e Sá) manterem as caixas dos postes abertas a toda a sorte de comentários, concordantes ou discordantes, boçais, malcriados ou o que fosse, o que se regista e não é vulgar noutras «causas» ou «abruptas» paragens…

18 de março de 2006

In memoriam – «Salvados» de A MOFA

Desinteligências no «colectivo» de A MOFA, um dos blogues predilectos da Pólis, ditaram, numa reacção irreflectida, o apagamento de todos os postes daquele jovem blogue, com apenas 3 semanas de existência. Decidiu, então, o Pólis&etc., pelo gosto que lhe dava a leitura daquelas prosas, recuperar o possível – por vezes só extractos - através das páginas em «cache» do Google e do Blogger. Conseguiu-se, deste modo, reconstituir parte significativa dos postes e mesmo alguns dos comentários. Que aqui se deixam, in memoriam. É realmente uma pena que aquele blogue, que descascava a realidade com casca fininha, tenha deixado de existir. Chama-se a atenção para a série Adivinhe Quem Vem para jantar, da nossa especial predilecção. Embora saiba que a Impatiens não vai aceitar, o Pólis&etc. não quer deixar de reiterar aqui a disponibilidade, para acolher os eventuais textos que, em momentos de especial desfastio ou indignação com o mundo à sua volta, aqui queira postar. As portas da ágora da Pólis estão sempre abertas à escrita inteligente que combina «bom senso» e «bom gosto», ingredientes que nem sempre andam juntos, sobretudo por aqui na blogosfera…
Eis, pois, com a repescagem destes postes (ou «postas» de postes, que se a Impatiens quiser reconstituir, o Pólis completará…), a recriação da lei de Lavoisier, ou seja, a de que «na blogosfera, nada se perde, tudo se transforma».
Aqui vão eles, por ordem cronológica, do mais recente para o mais antigo

15 mar. 2006
Rebuliço na função pública
Segundo os entendidos, um boato leva três dias a atravessar os Estados Unidos, da Califórnia ao Maine. Levará, portanto, meras fracções de segundo a atravessar os corredores dos ministérios e das direcções-gerais da nossa administração [...]

por Impatiens

13 mar. 2006
Lobos e cordeiros
A notícia, transmitida por um dos nossos canais televisivos, começou assim: «Um jovem de vinte e dois anos foi morto a tiro por um agente da PSP de ...» Logo pensámos, os que ouvimos, estar perante mais um caso de abuso de autoridade e [... ]
por Impatiens

12 mar. 2006
A propósito dos Óscares
O Óscar de Melhor Actriz foi atribuído a Reese Witherspoon pelo desempenho em «Walk the Line». Ainda não vimos o filme, pelo que não comentamos o seu merecimento. Vimo-la, contudo, na «Feira das Vaidades» e não provou [...]

por Impatiens

11 mar. 2006
Posts d'A MOFA Júnior - 1
- Kuando se tenta parecer inteligente: «O Xe Guevara é o teu ídolo? Atão k musicas é k ele canta? Tens algumas musicas dele no Mp3?» - Guida.
- Kuando se fala dhomens: «Eu n tnh tipo, eu so kero é ser o tipo d alguem.» - Teresa.
por Impatiens

11 mar. 2006
Saudade
No entanto, na visão da MOFA - que confessa não vibrar com as coisas da política e admite, portanto, alguma miopia - a prestação do ex-PR foi confusa, ambivalente, lenta, sem brilho, e apenas sucedeu que a sorte esteve do seu lado na [...]
por Impatiens

10 Março 2006
Adivinhe quem vem jantar - 2
Faz tempo que «atravessou a raia equatorial». O cabelo encaneceu e a bochecha roliça descaiu, mas, fazendo fé no que diz, não descaiu mais nada. É também um jovem de espírito, vigoroso no combate político, ainda que, por vezes, falhe o alvo ou ceda às perrices, às teimosias e às superiores impaciências dos chamados «cotas». Não é, porém, nada que não se lhe perdoe, pelo muito que fez e se sacrificou por todos nós. Ao ponto de se ver obrigado a um «amargo» retiro parisiense por alguns anos... Depois voltou a um país enfim libertado, mas ainda terçou armas em prol das suas convicções. E soltou do jugo colonialista algumas parcelas de terra africana, para regozijo de quantos viram, na iniciativa, a oportunidade de, com uma mão à frente e outra atrás, retornar ao solo pátrio. É um homem culto e de boas famílias, que escreve livros e gere fundações, tão coerente no que pensa, quanto dissonante no que diz, a consciência, em suma, do regime. A MOFA sente-se honrada com a sua presença. Subsistem incertezas quanto ao «menu». O convidado parece ser um bom garfo, mas a idade impõe cautelas... Mesmo sabendo que, como garantia Abraracourcix nos paroxismos da sua figadeira, o que é bom não pode fazer senão bem.
por Impatiens

9 Março 2006
Os intocáveis
Consta que o Dr. Mário Soares se retirou hoje da AR sem cumprimentar o recém-empossado Presidente da República. Já que a MOFA se assume como um espaço politicamente (in)correcto, aí vai: k ganda *****!!!!!
por Impatiens

O 4.º poder
O desproporcionado poder do nosso «4.º poder» faz pensar nestas palavras de Eça de Queiróz: «Um grande pintor de Paris dizia-me o ano passado: a multidão vê falso. Vê em Portugal, sobretudo. Pela aceitação passiva das opiniões impostas, pelo apagamento das faculdades críticas, pela preguiça do exame - o público vê como lhe dizem que é».
por Impatiens

Complexos

As conversas - quase em monólogo, neste caso - são como as cerejas. E a de ontem trouxe à colação - por um processo um tanto ínvio de raciocício, há que confessar - o assunto sensível dos complexos. Sensível porque todos os temos, os detestamos e os preferimos ignorar. É, no entanto, divertido especular sobre eles e sobre as suas origens e tipologias. Ele há-os individuais e colectivos; há-os nacionais, regionais e locais; há-os políticos, religiosos, étnicos e sociais... por aí fora. E há-os também mistos, os de mais difícil caracterização. Este, por exemplo, o complexo de ***** (nome por que é vulgarmente designada a haste que coroa a fronte plácida do boi) tem forte implantação nos centros urbanos menos cosmopolitas ou mais provincianos (de que Lisboa está naturalmente, excluída,... como é bom de ver!). E manifesta-se do seguinte modo: o homem louva, orgulhosamente, a sua legítima, a mulher da sua escolha, e a harmonia que reina na sua casa; e, no entanto, insinua-se, ansiosamente, a todo o «rabo-de-saias» que se lhe depara, ou faz-se cabotino com declarações do tipo «adoro mulheres».
por Impatiens
Comentários
10 mar. 2006
por Impatiens Estas reacções, de sinal tão contrário, têm uma explicação: o homem receia oususpeita de que a legítima tenha um «aconchego». Noutras palavras, o homem tem um complexo!... Insiste na subscrição de ontem, senhor Politikos? :-)

8 Março 2006
«Adoro mulheres!»
Um reputado político e advogado da nossa praça declarava, há dias, numa entrevista concedida a não sei que jornal: «Adoro mulheres!» A afirmação não é das que se aceitem passivamente, sobretudo pela linguagem! Adorar, claro, adora-se o que se quiser. Mas o verbo adorar tem campos de utilização muito próprios e um tanto restritos, como o trato com o divino e, num registo mais prosaico, a expressão de preferências alimentares: «Adoro feijoada!», «Adoro tripas...», «Adoro jaquinzinhos fritos!»... Ora ouvir falar das mulheres como de um prato de cozinha, francamente! Há, no entanto, que admitir que o sentido da frase do entrevistado seja menos vulgar. Os excertos das suas respostas aparecem tão pontuados de citações literárias e belos «nacos» de poesia, que esse «Adoro mulheres» tem certamente outra leitura. Fica-se, ainda assim, com a sensação de que há palavras pouco felizes; e de que não há como fazer passar uma imagem de respeitabilidade, quando se usa terminologia de rufião. Veja-se o que não se ficaria a pensar de uma mulher sexagenária, que viesse a público dizer: «Adoro homens!»
por Impatiens

7 Março 2006
A geração Morangos com Açúcar
A nova fornada de adolescentes não coloca, aos seus progenitores, problemas particulares de compreensão. Violento foi o choque geracional nos anos sessenta e setenta, quando a então radical liberalização dos costumes lançou pais e filhos em lados distintos da «barricada». «Correu sangue»! E com o que na altura se viu, viu-se quase tudo. Hoje, por isso, as diferenças aparecem mais esbatidas, numa versão «soft» do grande «crash». Não há bloqueios, nem repúdios. Não pode, no entanto, negar-se, da parte dos mais velhos, algum desalento. Esta geração Morangos com Açúcar é uma geração de telenovela; parece que não vive, representa. Nada é genuíno, tudo se imita! Não usa, mas gasta e desgasta palavras que antes tinham uma mística, como, se calhar, esvazia os sentimentos que elas expressam. «Amo-te imenso», «adoro-te muito»... mas o que é isto? Em SMS, MSN, MMS (e sei lá em que outros SSS e MMM), o que abunda são estas frases «pires», que perderam importância, senão sentido. Será que o(a) Anonymous da MOFA quer comentar?
por Impatiens

6 Março
Incentivos ao investimento
A é um gestor português, numa empresa de média dimensão de um sector de ponta (em crise, como o estão sempre todos os sectores em Portugal). A é um gestor actualizado, porque veste bem e porque devora, diariamente, os títulos de caixa alta de quantos jornais e revistas de negócios forram os escaparates do quiosque da sua rua. A tem uma excelente relação com B, o administrador-geral, porque chefe é chefe! Tem uma relação péssima com os seus pares, porque lhe invejam a excelente relação que tem com B. E procura não ter relação nenhuma com os subordinados, senão para lhes dar as ordens e lembrar (nunca é demais!) que «porta da rua é serventia da casa». A tem um odiozinho de estimação por C, um colega, também gestor, que considera supinamente incompetente! Com noções de gestão que remontam aos primórdios da revolução industrial, C parece-lhe o paradigma das «más práticas», pois exerce uma liderança permissiva, insiste na lenta burocracia do planeamento - desprezando o improviso, o génio da grei! - e faz o que cabe aos subordinados fazer. É, enfim, uma excrescência do sistema, um sujeito a abater. Afora estes pequenos desgostos e vicissitudes, A tem-se na conta de um óptimo profissional e está satisfeito consigo próprio. É um gestor português! E é nisto que querem investir?
por Impatiens

5 Março 2006
Reflexões de WC
Que a casa é um refúgio, um porto de abrigo, não é uma ideia consensual. Basta atentar na gente, que por aí há, que não pode ver-se em casa e que, aos fins-de-semana - ou no tempo que não está por conta de outrém - invade os centros comerciais no Inverno, as praias no Verão, e, nos entretantos, bate, em mudança baixa, perríssima, o triângulo Lisboa-Sintra-Cascais, de todos conhecido pela «voltinha dos tristes». São muitos os que assim perdem a oportunidade (que só a intimidade doméstica dá) de serem eles próprios, um pouco mais livres, e de, sem constrangimentos sociais ou laborais, sem a pressão das multidões, das bichas ou do trânsito, «viajar» no sofá da sala, lendo um livro, ouvindo música ou vendo um bom filme, sonhar (ou talvez mais do que isso) no quarto, petiscar na cozinha e meditar, no recolhimento da casa-de-banho, no «post» de amanhã.
por Impatiens

4 Março 2006
Também não fui feita para isto
A leitura do artigo do vpv no Público de hoje sugere estas palavras de Arturo Pérez-Reverte em «O Mestre de Esgrima» (que bem podiam integrar a «carta de princípios» da MOFA): «E já que fala no assunto, digo-lhe que prefiro ser governado por César ou por Bonaparte, que posso sempre tentar assassinar se não me agradarem, a ver decidirem-se as minhas preferências, costumes e companhias pelo voto do tendeiro da esquina... O drama do nosso século, don Marcelino, é a falta de génio; que só é comparável à falta de coragem e à falta de bom gosto. Isso deve-se, com certeza, à irrefreável ascensão dos tendeiros de todas as esquinas da Europa.»
por Impatiens

Adivinhe quem vem jantar - 1
Ganhou peso e barbela, mas os anos são o que são. O olhar também cresceu, parece que para além dos aros dos óculos, e as pupilas são como contas movediças à procura da simetria. É o olhar febril e meio alucinado do visionário. No entanto, raciocina bem, com clareza, com estrutura, com brilho, ou não seja ele um eminente jurista! Já o pensamento... Bom, o pensamento tem seguido um curso, nos últimos anos, que lembra aqueles índios que montavam as cavalgaduras virados para a cauda e avançavam às arrecuas. Há também algo de infantil nas suas reacções. A placidez de outros tempos cedeu lugar a um certo excesso de emotividade, com ameaça de lágrimas e com tudo. Se este estranho percurso interior é o efeito de novas e genuínas convicções, então o diagnóstico é reservado: há lâmpadas fundidas naquele sótão. Mas se, pelo contrário, segue uma estratégia pessoal de dar nas vistas, ou provocar o adversário, ou ganhar protagonismo, ou liderar um movimento de opinião, ou fazer-se a um cargo qualquer, ou mesmo presidir a um campeonato internacional de futebol, então o diagnóstico é benigno: não há doença, há apenas erro de cálculo. Logo se verá como vai comportar-se ao jantar. Para já, baniram-se os rojões de porco à minhota, porque se esperam convivas de outras fés.
por Impatiens

3 Março 2006
O sexo e a cidade
Chegou a altura de «agarrar o boi pelos cornos»! E de a equipa da MOFA confessar a sua predilecção pela série. Encontra-lhe um sentido pedagógico, é isso! A equipa já entrou em revisões e está sempre a aprender, numa matéria em que, diz quem sabe, nunca se sabe demais. Ele há de tudo no sexo e a cidade: imaginação, sofisticação, ritmo, nervos, muito sexo, cidade. E há também uma linha indefinível, que não é de moralidade, mas sugere dignidade ou auto-estima... que não se transpõe nunca, e que é o que faz com que ver o sexo e a cidade, apesar de todas as ousadias, não tenha mal.
por Impatiens
Politikos diz
Ah, a MOFA tem uma equipa?! Vimos pouco mas do que vimos gostámos e concordamos com a MOFA em todos os adjectivos de caracterização... «Matéria em que, diz quem sabe, nunca se sabe demais». «Diz quem sabe?!?!?!» E quem é que sabe?! E a MOFA não sabe?! Mas pelo menos há-de ter umas ideias, não?!...

Impatiens diz
Apesar da sua juventude, a MOFA já viu muito...


Uma cunha
Quando, há dias, se lhe desvendou o segredo do emprego de um velho conhecido, cujo pundonor sempre pusera acima de qualquer suspeita - uma cunha - a MOFA entrou em estado de choque. Mas o autor destas linhas logo a informou de que também ele, «in illo tempore», beneficiara de uma cunha para entrar no mercado de trabalho. E de que o processo tem os seus méritos. É verdade que é surdo a considerações de competência ou traquejo profissional. Mas assim mesmo, pode evitar que quem entra seja melhor do que quem já lá está, condição essencial à preservação, na entidade empregadora, de um clima social apaziguado. É verdade que nem sempre traz mais-valias para a organização. Mas tem subjacente esse critério da confiança pessoal (seja no indivíduo a quem se estende a mão, seja naquele que o recomenda), tão terno, tão familiar, tão «em cada esquina um amigo», que é o que faz o «encanto» do modelo de gestão nacional face ao isentos... mas cinzentos modelos de inspiração anglo-saxónica.
por Impatiens

Comentários
Politikos diz
A MOFA tem vários heterónimos... Veja-se o que encontrei sob a sigla MOFA:
http://www.mofa.gov.sa/detail.asp?InServiceID=2&intemplatekey=MainPage Cuidado com as siglas: um verdadeiro perigo, nos tempos que correm...

Politikos diz
Sim, sim, uma verdadeira instituição nacional... Este blogue prima pelas metáforas, pelas imagens. Uma surpresa em cada «post». Gostámos particularmente do «em cada esquina um amigo»... Aqui vislumbramos um pendor «esquerdizante» e de intervenção que não conhecíamos à MOFA... Certamente resquícios da vivência revolucionária do pós 25 de Abril...

Impatiens diz
Caro politikos: já espreitou no dicionário?

Anonymous diz
Eskerda, eskerdizante, revoluçao, 25 d Abril? Ke isso???????

Politikos diz
Nós sabemos da juventude do anónimo da MOFA mas a MOFA sénior pode decerto elucidar os mais jovens acerca das coisas passadas há 30 anos! Experimente ir até Grândola e lá verá a que me refiro.

2 Março 2006
Amigos
Sugere a MOFA que se fale de um certo amigo de gostos heterodoxos. Pois aí vai: é um rapaz honesto, delicado, de boa índole... é o que é, e tem direito a sê-lo, como todos têm, havendo sensatez, discreção e consciência de que a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade dos outros. Pois esse amigo provém de uma gente transmontana, talhada no granito. Razão porque é também um rapaz de ideias sólidas e fixas. E assim deliberou deslocar-se à vizinha Espanha para, na apropriada Feces de Abajo (terra de presidentes), contrair matrimónio. Entre os amigos, consternação geral! Que o direito lhe assiste, assiste. E o casamento anda, por estes dias, tão desacreditado, que tanto faz. Mas, no regresso da lua-de-mel, como encarar a «noiva»? Como assumir um arzinho «blazé», com os olhos a arregalar-se para o fenómeno? Como engolir, sem arrepios, as naturais manifestações de afecto mútuo? Como enquadrar o «casal»? Questões que ficarão sem resposta até ao próximo episódio. Mas que ninguém está preparado para ele, ninguém está.
por Impatiens

1 Março 2006
Burr
Escrevendo sobre Burr, G. Vidal reafirma a tese de que a História é a versão dos poderosos. Washington não teria, segundo ele, sido o brilhante estratega militar (antes acumulando derrotas), nem o carismático comandante de um ordeiro exército revolucionário, mas tão só o (surpreendentemente!) hábil manipulador de um conjunto de retóricos e «amigos do alheio», chamado Congresso. Um homem teimoso, monolítico, dotado de alguma coragem física, mas, sobretudo, totalmente desprovido de imaginação e de humor. Pouco apreciado pelo soldado raso, que desprezava, era, no entanto, adulado pelo oficial carreirista, a que apadrinhava as ambições, enquanto este se não lembrasse de o contradizer. O perfil é tão familiar, que a História deve estar cheia de «Washingtons». Nem admira! Não é, de facto, o soldado raso, mas o oficial que «decide o que a História há-de ser».
por Impatiens

No emprego...
Os piores dias são aqueles em que o chefe, depois de trepar ao último andar e se aviltar, se humilhar, se dobrar, lamber botas, sacudir tapetes e até espantar gatos vadios, desce para nos fazer a demonstração da sua incompetência, alegremente, sem vergonha, quase com «panache»! É por estas e por outras que sabemos que, no fim do mundo, só os insectos vão sobreviver.
por Impatiens
Anonymous diz
O k? O *** chateou-t hj? :P

Politikos
diz
Será que é um chefe para todo o serviço?! Fico a aguardar - ansioso - a resposta?!?!? Adorámos o «panache»... Cada post tem o seu toque... Não há crise no fim do mundo. O Noé preservará um casal de cada espécie, para além dos insectos... A menos que a MOFA tenha informação privilegiada a este respeito?!

Impatiens
diz
Se o anonymous usou estrelinhas, por alguma razão foi, senhor politikos! Fiquemo-nos, portanto, pelo último andar. Para todo o serviço? Não sei... De quem? Tem alguém em mente?

Politikos
diz
E a Impatiens, está a pensar em alguém?! Por mim, desde que sei que morreu um gato com a gripe das aves por ter comido um cisne, só me posso congratular pela diligência de alguém que espanta os gatos vadios?! Não lhe parece?!
28 Fevereiro 2006
Subsídios
A MOFA ouviu dizer que tinha sido «superiormente» prometido criar um subsídio para idosos, destinado a abranger cerca de 300.000 indivíduos. A iniciativa foi lançada, mas a carga burocrática associada às candidaturas revelou-se demasiado pesada (incluindo a necessidade de provar a situação fiscal regularizada dos descendentes, exigência que, servindo os interesses de «saneamento» das finanças públicas, não terá deixado de semear a cizânia em muitas famílias). Assim, só 2 a 3 milhares de idosos se terão candidatado. E, depois de feita a verificação de conformidade com os requisitos, só 500 terão preenchido as condições! A estimativa inicial falhou portanto em 99,83%... Será verdade?! Se for, parabéns ao «artista» do esquema!
por Impatiens

27 Fevereiro 2006
A MOFA
O que será a MOFA? Um movimento? Um partido político? Um ministério? Ou um simples mistério?... Um título de filme? Uma marca comercial? Uma banda sonora? Ou um policial?... Um estado de espírito? Uma sensação? Que coisa será? Alguma emoção?... Coisa de Artes? Ou de Ciências? De Geografia? Ou de Anatomia?... Tanta pergunta faz-me pensar: que será a MOFA? Quer adivinhar?
por Impatiens

Comentários
Anónimo diz
Muito engraçado. O meu palpite é que não é nada do que aí está. Talvez o nome de uma instituição?

Politikos
diz Talvez Amofinados de Alcântara?!Seja lá o que for, não cheira, certamente, a mofo... Bem-vinda à blogosfera...

17 de março de 2006

«Fusionar» e «externalizar»

A propósito da reforma da Administração Pública, o Diário de Notícias de hoje traz um extenso artigo, onde se podem ler trechos do relatório PRACE – Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado que, entre muitas coisas, refere que «[…] serão “fusionados”, privatizados ou extintos 120 serviços». Mais adiante, sabemos também que «[…] a Polícia Militar será “fusionada” na Polícia Judiciária». Além de ficarmos a saber que «a Casa Pia, o Inatel, o Instituto Português da Qualidade, por exemplo, serão “externalizados”». Resta dizer que me parece ter sido o jornalista que colocou as pelicas nas palavras «fusionados», «fusionada» e «externalizados», pelo que, deduzo, as referidas palavras constam do tal relatório PRACE. O que eu pergunto mesmo é se os autores do relatório têm alguma coisa contra as palavras «fundidos», «fundida» e «privatizados». Num texto em que se fala da desburocratização da «máquina» do Estado, eu proporia, a bem da «desburocratização» do texto, a «externalização» do Português do dito relatório...

14 de março de 2006

A Herança

Os mecanismos do cérebro humano são de facto inescrutáveis e nunca deixam de me surpreender. O supereu, essa entidade freudiana que fiscaliza permanentemente as nossas acções passadas, existe e condiciona também as nossas acções futuras. Os sentimentos de culpa estão em todos nós, em maior ou menor grau, e dependem da nossa formação e educação. É consabido que da nossa família, além da herança genética, que herdamos no nascimento, e da herança material, que herdamos na morte, vamos herdando, ao longo da vida, a sua história, a sua cultura, a sua forma de estar na vida. Tudo isso nos enforma e nos condiciona. E muitas vezes carregamos fardos antigos que não são nossos mas que claramente herdámos e não sabemos como lidar com eles e o que fazer com eles. Cada um adopta aí a sua própria estratégia de sublimação. Vem isto a propósito de uma curiosa notícia que li esta semana na Sábado (n.º 97), que dava conta de que o filho de Hermann Goering, braço direito de Adolf Hitler e criador da Gestapo, se havia convertido ao judaísmo. O normal para quem tem aquele apelido nos dias de hoje seria solicitar a sua mudança, usar um outro apelido, adoptar uma postura low profile, «esconder-se» do mundo ou pelo menos «esconder-se» no mundo. Mas não, o filho de Goering foi mais longe e decidiu adoptar a religião daqueles que o seu pai chacinou. A conversão pode ser genuína e pode até ser uma coincidência. Porém, a mim esta atitude - que me fez lembrar um outro fenómeno interessante, a Síndrome de Estocolmo, em que a vítima de sequestro se começa a identificar com os seus captores – parece-me claramente uma forma de expiar uma culpa dos seus maiores que não sendo sua ele também herdou.

12 de março de 2006

Arlequim – Servidor de dois amos


Vale a pena ir ver a peça Arlequim – Servidor de dois amos, que está em cena na Sala Estúdio do Teatro Nacional Dona Maria II. É uma peça do teatro popular italiano que se insere na corrente denominada Comedia dell’Arte. Escrita, em 1745, pelo conhecido autor Carlo Goldoni, foi agora encenada por Filipe Crawford e adaptada à realidade portuguesa. Para quem não sabe, a Comedia dell’Arte caracteriza-se pelo uso das máscaras, o que permite aos actores interpretarem indistintamente velhos, novos, mulheres e homens, além de permitir a improvisação e a interacção como público, pois há um texto base, a partir do qual tudo é possível. Cada espectáculo é, por isso, diferente do outro. Um conjunto de actores muito jovens mas seguros foram capazes de aproveitar algumas deixas e reacções do público para «esticar» algumas cenas e estabelecer alguma interacção que chegou mesmo ao diálogo. Entraram um pouco «frios», mas encontraram-se pouco depois, como se tivessem recolhido a confiança necessária nos semblantes do público. A trama gira em torno dos encontros e desencontros de dois pares amorosos, ligados pelos equívocos criados pelo trapalhão e vivaço Arlequim, que presta simultaneamente serviço a dois amos, sem que eles se apercebam. Muito bom, o desempenho conjunto. Destaque especial para o actor que interpreta o velho Pantaleão, com todo o seu conjunto de maneirismos vocais e de postura, bem como para o que interpreta a figura do Coimbrão e simultaneamente do criado - um pouco atrasado - da estalagem. Gostávamos de poder dar conta dos nomes dos actores mas como acabámos por não comprar o programa e o site do Dona Maria faz o favor de não ter sequer uma linha sobre esta peça?!... É como se não estivesse em cena. Será que a direcção do Teatro não percebe para que serve um site?!?!... (ah, por acaso ainda lá tem a passar em imagens a peça que estava em cena naquela mesma sala, mas em Fevereiro...).
Embora a trama seja descoberta, no final tudo acaba bem e o «nosso» Arlequim lá consegue passar por «entre a chuva», mesmo servindo a dois amos... Coisa afinal não muito diferente do que muitas vezes se passa fora do teatro...
P.S. - Acabámos, já depois de colocar no ar o poste, por descobrir o site da FC Produções Teatrais (Filipe Crawford Produções Teatrais), mas também não disponibiliza os nomes dos actores reportados às personagens...

Posses&bichanos

Segundo informações da minha mãe, com mais de 40 anos de residência na zona de São Bento, onde se encontra a Assembleia da República, esta foi a posse de um presidente da república que maior aparato provocou na zona: 40 anos, 7 presidentes e mais de uma dezena de posses depois... O que me trouxe à memória uma história com seguranças passada nas areias de Vilamoura e me faz pensar também que há «coisas» que nunca mudam… Ao que me disse ainda, quem mais sofreu com aquilo tudo foi o pobre do gato. É que o «bichano» já não podia com o barulho das pás do helicóptero que durante horas sobrevoou a zona… Se o «bicho» começar a sofrer de stress pós-traumático, vou apresentar a conta na PR

Ainda a Clubite

Não duvido do que as Krónikas Tugas (KT) ouviram. Conheço os fóruns on-line dos jornais e o tal programa de rádio, que ouço ocasionalmente, e sei bem o que por lá se diz. Nos fóruns, então, grande parte das declarações são de um ressabiamento atroz. Atrás de um ecrã, sem moderação, e a coberto ou não de anonimato, diz-se tudo e dá-se voz a todos os recalcamentos. Mas não é só de anti-benfiquismo. É de anti-sportinguismo e de anti-portismo. O Benfica não tem, neste particular, nenhum monopólio. Acontece apenas que as KT estão mais atentas às declarações do seu clube. No ano passado, mercê da boa carreira internacional do Sporting, aconteceu o mesmo nas vésperas dos jogos internacionais. E neste momento, o Benfica está a fazer uma boa campanha a nível internacional, o que aumenta o ressaibo de alguns. O número desse tipo declarações é proporcional ao número das vitórias conquistadas. O que me admira é a importância desmesurada dada pelas KT ao que dizem umas dezenas de energúmenos e a partir daí extrapolar da árvore para a floresta… sobretudo num dia como aquele... em que o que deveria ser enaltecido era a vitória. Foi-o, dizem as KT. Pois foi, a que se seguiu a frase: «Os adeptos do Sporting Clube do Porto podem continuar a ver os jogos europeus da sua equipa na Playstation». O que diz tudo. E pelos vistos em tom menos inflamado, ainda se insiste neste poste com a ideia esquizofrénica da tal coligação, abonando-se em votos mútuos, pseudo cabalas e pactos secretos, e numas declarações que nem conheço mas que seguramente ninguém subscreve. O que por absurdo dispensa mais comentários. Quanto à «mania das grandezas» e à «nostalgia das glórias passadas», é o que efectivamente acho. Ponhamos as coisas assim. A mim não me custa nada reconhecer o prestígio e a grandeza do SLB. Assim como não me custa reconhecer o prestígio e a grandeza do FCP. O que eu acho é que as KT têm dificuldade em aceitar a perca de liderança do futebol português, liderança que, neste momento, e desde há quase duas décadas, pertence ao FCP. Tal como havia pertencido ao SLB nas décadas de 60 e 70 e ao Sporting na de 50. Onde aliás não havia competições europeias... Os remoques deste poste ao Sporting também não me afectam, nem me diminuem. Às vitórias do SLB poder-se-iam contrapor os 4 campeonatos seguidos do Sporting, a Taça das Taças, a maior goleada na história das competições europeias, o primeiro jogador a ir a uma selecção da Europa, o maior números de golos conseguido pelo melhor marcador do campeonato, etc., etc. E se nos descentrarmos do futebol, as conquistas mundiais no atletismo, o facto de ser o clube mais eclético e o clube com maior número de títulos e de taças conquistadas no conjunto das modalidades praticadas, assim como o clube português com mais núcleos e delegações espalhados pelo mundo. Não valerá, pois, muito a pena esgrimir números e grandezas. Cada um com as suas. São – e ainda bem – dois grandes clubes. Para terminar, só cá faltava mesmo a do «clube do povo» versus «clube da elite», coisa que de tão arcaica eu julgava já definitivamente enterrada e não a ouvia há mais de vinte anos. Mas que afinal ainda é usada como «arma de arremesso». Em primeiro porque essa ideia de povo, que se radica no velho e relho ideário marxista da luta de classes, está obsoleta. Pois certamente não seria a noção de povo-Nação a que as KT se referiam. E em segundo, porque a grandeza no número de adeptos de ambos os clubes é hoje tal que não faz qualquer sentido referir-se tal coisa. Quanto à venda de património, o que está em causa é apenas uma opção de gestão, pelo que acenar com a «falência» só poderá atribuir-se, quiçá, a um desejo subconsciente por parte das KT de que tal aconteça… O que – acreditem – não está para breve…
P.S. - Como nalgumas sedes, a figura de Gimli, o Mestre Anão, de O Senhor dos Anéis, foi confundido com um gaulês, aqui se deixa uma foto mais fiel, pretendendo-se apenas aludir ao título do poste da polémica das Krónikas Tugas.

10 de março de 2006

A religião Clubite

Já se sabe que o futebol é um fenómeno tribal que convoca as emoções mais primárias, a fé e a crença. Há mesmo aqueles que, não sendo crentes e criticando as religiões, professam uma outra religião, a clubite, que é, também ela, uma fé, uma crença. E isto é interclassista e percorre transversalmente todos os estratos sócio-culturais. Devo dizer que não me excluo completamente deste grupo. Talvez a clubite seja, das aquisições da minha infância, aquela que intelectualizando acho mais irracional, mas que permanece. Não me livro dela, embora o meu supereu me critique e me alerte para alguma da irracionalidade que ela vai gerando. Vem isto a propósito de dois postes (sobretudo o Anões) de um blogue congénere, que muito prezamos, e daí este poste, as Krónikas Tugas, a propósito da vitória de ontem do Benfica. Neles se fala de uma «coligação Sporting-Porto?!», de «anões e marrecos mentais» de «tristes e grotescas existências» que só querem «odiar o Benfica»; que «nunca saberão o que é um clube com dimensão mundial», que «nasceram pequenos e provincianos e hão-de ser sempre assim», para finalizar esperando «que passem todos uma péssima noite, que espumem de raiva até ao desespero».
Ora isto é pura «espuma de raiva». E de onde é que ela vem? Ao que parece foi provocada por umas «pessoas» - adeptos do Porto e do Sporting, presumo que no máximo umas dezenas – que terão escrito e dito umas baboseiras quaisquer, respectivamente, num site de um jornal e num programa de rádio?! Confesso que pasmei. E pasmei porque esperava ver um poste eufórico, de uma alegria esfusiante por uma importante vitória internacional do Benfica que eu, aliás, me preparava para parabenizar. Pasmei por não haver uma única palavra para elogiar a equipa, o magnífico golo do Simão, o golo da consagração do Miccoli, as opções certeiras do Koeman ou até mesmo para dizer algumas das «boutades» costumeiras… Pasmei porque a tal coligação só existe na cabeça das Krónikas Tugas? E as tais «pessoas», que admito existam, são uma minoria… Aproveitar o que – repete-se -, quiçá umas dezenas de indivíduos escreveram num site ou disseram numa rádio para afirmar o que se afirmou aproxima irremediavelmente as Krónikas Tugas daqueles que critica… E o comentário é totalmente desproporcionado e desajustado, ainda por cima num dia como o de ontem…
Confesso que por muito que me esforce não consigo compreender a raiva que emana deste poste…
Ou melhor, acho que ele é uma espécie de sublimação das frustrações acumuladas, ou seja, o produto de uma certa nostalgia megalómana de adeptos de um clube que, qual fidalgo arruinado, vive sobretudo das glórias passadas e aproveita as vitórias de hoje para arrasar a nova fidalguia…

8 de março de 2006

«Condecorações automáticas» - A fogueira das vaidades

Melhor fora que se falasse de A Fogueira das Vaidades de Tom Wolfe, mas não. Falamos antes da fogueira das vaidades de Sampaio e de Cavaco. Esta, ao contrário da outra, com minúsculas. Sampaio recebeu hoje o Grande Colar da Ordem da Torre e Espada, uma «condecoração automática» devida a todos os presidentes que cessam funções. Até aqui ainda vá. É bom que a Pátria – recuperamos aqui este Alegre vocábulo – agradeça simbolicamente aos que a servem. Porém, já amanhã, num dos seus primeiros actos solenes como Presidente da República, Cavaco irá condecorar o mesmo Sampaio com o Grande Colar da Ordem da Liberdade. Dois colares para o mesmo pescoço... Em dois dias consecutivos... Admite-se que seja um novo recorde do Guiness… Ora, num período em que se fala das «progressões automáticas» dos funcionários públicos, conviria talvez repensar as «condecorações automáticas» dos titulares de cargos públicos. Ah! E já agora, recordamos aqui, os três casos em que, de acordo com os estatutos das Ordens, a Torre e Espada pode ser conferida:

  • «Por méritos excepcionalmente relevantes demonstrados no exercício de funções dos cargos supremos que exprimem a actividade dos órgãos de soberania ou no comando de tropas em campanha;
  • Por feitos de heroísmo militar e cívico;
  • Por actos excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade».

4 de março de 2006

Sampaio ou Soares - Paula Rêgo ou Júlio Pomar

Na entrevista da Visão (n.º 678) a Jorge Sampaio, refere-se, a propósito das 8 telas de Paula Rêgo com cenas da vida da Virgem, aliás belíssimas, que se encontram na capela do Palácio: «Sampaio fica na história como o PR que introduziu a arte contemporânea no Palácio». O que não é exacto. Soares foi o primeiro a fazê-lo, quando se fez retratar por Júlio Pomar.

Olha que dois?! Les Dupondt

O mandato do PR da Pólis, que chega ao fim no próximo dia 9, termina como começou e como sempre esteve, algo indefinido e algo inconsequente. Depois de ter ido à televisão pedir uma resolução rápida no caso do Envelope 9 e de o Procurador-Geral da República da Pólis ter prometido celeridade, a investigação - que se julgava simples - «arrasta-se» sem fim à vista. O «tempo jurídico» não é igual ao «tempo cronológico». Isso já se sabia e uma vez mais se comprova. O PR não diz nada e o PGR, como sempre, nada diz...

2 de março de 2006

Blogosfera passa a contar com a MOFA

Saudamos o aparecimento da MOFA, um novo blogue de alguém que estimamos pessoal e profissionalmente. É sempre bom quando nos cruzamos com alguém discreto, inteligente, culto e senhor de uma finíssima ironia e de um invulgar sentido de humor. Além disso, um observador arguto do género humano nas suas misérias e grandezas... Vamos acompanhar com atenção e interesse o desenvolvimento da MOFA e aconselhamos...
Hits
cidadãos visitaram a Pólis desde 22 Set. 2005
cidadão(s) da Pólis online