No afã de realizar dinheiro com tudo e mais um par de botas, agora temos as multas por condução sob o efeito de drogas. O Ministro da Administração Interna (MAI), Rui Pereira, com aquele ar professoral disse aos jornalistas e demais povoléu nas televisões da Pólis «sob o efeito de droga». O que é bem pior. O homem é jurista. Não desconhece o valor das palavras e sabe que aquilo, dito assim, tem outro impacto. Achei logo aquilo um pequeno truque, demagógico, de fraco ilusionista. É apenas um pequeníssimo episódio, é certo. Mas somei-o ao facto de o ver no dia a seguir sorridentemente agarrado a uma menina a entregar um prémio na Volta a Portugal em Bicicleta e percebi que podemos ter ali pau para toda a colher. E incomoda-me ver alguém, de quem até tinha boa impressão, prestar-se a representar com zelo estes papéis. Bem sei que é muito pouco para fazer um juízo negativo, mas confesso que já estou com um pé atrás. Aguardemos o resto do desempenho do novo MAI. À droga e ao abraço à menina da Volta, somou-se, em parcela gorda, a mais inominável das demagogias. É que – esta não a ouvi ao homem, mas sim a um qualquer responsável - aquele teste seria apenas efectuado aos automobilistas que apresentassem sinais de poder estar sob o efeito de drogas. Mas nesse mesmo dia, houve uma noite de caça às bruxas para testar os novos aparelhos! Ora o problema destes testes, generalizados ou pontuais, não são os estupefacientes - claro está - mas sim os psicotrópicos, do grupo das benzodiazepinas, que se prescrevem e se tomam entre nós – e mal, mas isso agora não vem ao caso – como pãezinhos quentes. Se aquilo for soma e segue, como parece, e aplicado indiscriminadamente a todos os condutores, e o teste for fiável e rigoroso, vamos ter, por exemplo, a malta que toma uma pastilha para dormir, e atento o facto de a substância permanecer no sangue durante 24 horas, a ser multada à tripa forra. Se não tomar, não dorme e pega no volante ensonado. Se tomar, pega no volante sem sono, mas como aquele tipo de comprimidos pode exactamente causar sonolência... Mais uma regulamentação que é em si mesma boa, a ser cretinamente implementada por esta sorte de validos que quer mostrar serviço a todo o vapor. Cá por mim e com esta aplicação, é mais um esbulho legal, na linha dos radares de Lisboa e da tributação das doações dos 500 euros entre pais e filhos, que afinal acabou sensatamente por não avançar.
Etiquetas: Polícias, Políticos, Trânsito