18 de dezembro de 2009

Assim não vamos lá...

Há tempos fui, pela primeira vez, a um Tribunal da Pólis na qualidade de testemunha. Tratava-se de um processo de regulação do poder paternal. Basicamente, a parte que tem a criança quer mais dinheiro.
Felizmente, conheço a Justiça pelo que é público e não por experiência própria, pelo que até encarei aquilo como uma oportunidade de ver por dentro como a máquina (não) funciona. E pude constatar, como aliás já sabia, que funciona mal, embora, apesar de tudo, ainda esperasse pior...
O Tribunal de Família e Menores fica no novo Campus da Justiça no Parque das Nações. Lá chegado, a sinalética é boa. Apenas perguntei uma vez a uns polícias e fui dar com o Tribunal respectivo num abrir e fechar de olhos. As instalações são muito boas, bem equipadas e espaçosas, pelo que nem percebo as razões de queixa de quem se mudou...
No átrio, dois seguranças de uma empresa privada perguntam-me se sou advogado. É que se fosse teria livre-trânsito e eles não teriam de preencher papel nenhum, já que estavam muito cansados - cito - e, ao dizer isto, entreolharam-se com uns sorrisos entre o cúmplice e o alvar...
Tinha ouvido falar de filas nos detectores de metais e de malas e pessoas revistadas. Mas ali, isso não me aconteceu. Passo pelo detector de metais como cão por vinha vindimada... Aquilo apitou, comigo, com quem ia à frente e com os que vinham atrás...
No elevador, subo com umas 3 ou 4 pessoas, todas mulheres. Os elevadores são amplos, as distâncias sociais também, o que me permitiu olhar para todas elas. Reparei numa que claramente se destacava. Tinha bom ar: magra, cabelos aloirados, sorriso bonito, já com mais de trinta anos. Uma trintona enxuta! Saio num dos pisos, a sinalização é nula e nem vivalma se via. Vou andando às cegas pelos corredores e lá encontro a secção respectiva. A funcionária foi diligente e simpática. Deu baixa do nome e mandou-me aguardar no piso inferior onde iria decorrer a audiência.
Lá tomo de novo o elevador, ao qual, apesar de novo, já falta um pedaço do pavimento, curiosamente tapado com um cartão. Comentei isso com um dos funcionários que descia e que me disse que tinha sido das mudanças. Pois! Tinha sido mas assim continua!
Na sala de espera das audiências, filas de cadeiras, onde, numa delas, já falta o assento. Atrevo-me a pensar que assim vai continuar...
Tempos volvidos, chegam as partes. E um pouco depois a funcionária que me atendeu no piso superior. Constatei com estupefacção que a dita tem agora uma capa preta! Pensei que os paramentos eram só para juízes, procuradores e advogados, mas parece que não. As batas e as capas diferem apenas no feitio e na nomenclatura. Neste caso era pior porque nem uma bata era mas sim apenas uma capa que não cobria sequer a roupa toda. Enfim... Daí a pouco chega a juíza. Afinal, a trintona enxuta do elevador! Antes assim, pensei eu! Porém, a atitude é má. Chega já devidamente paramentada, passo acelerado e largo, e um andar um pouco descompensado, quase descoordenado, deixando a voz atrás de si e vociferando com a funcionária sobre as salas… Não gostei! Deu um ar de dona do pedaço, com alguma rudeza de modos. A funcionária judicial, física e fisionomicamente bem menos interessante, é ao pé dela, na atitude, uma princesa. É correcta, profissional, amável e solícita. A outra é arrogante, altiva e sobranceira.
Após uma breve conferência de partes, solicitada sem convicção pela funcionária, a audiência começou. Foram entrando e saindo pessoas. Uma das partes, mais as testemunhas – eu incluído – nem sequer fomos ouvidos. Porém, permanecemos inutilmente no Tribunal durante horas. No fim, ninguém nos deu sequer uma explicação. Qualquer coisa como: agradecemos terem esperado, terem colaborado com a Justiça, mas o depoimento não foi necessário por isto e por aquilo; nada! Aliás, foi tudo convocado para a mesma hora, o que mostra logo a desorganização e o desrespeito pelo cidadão. No final, a juíza marcou a decisão: basicamente aumenta ou não aumenta umas dezenas de euros a pensão de alimentos para um mês depois?!?! Por muita fundamentação que aquilo tenha, está tudo dito quanto a prazos?! Assim, realmente não vamos lá. Mas é o que temos...

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6 de dezembro de 2009

A Trick of the Tail - Porque no te callas?

Quinta-feira à noite fui à Aula Magna da Universidade de Lisboa assistir à recriação do mítico concerto de 1976 dos Genesis, A Trick of the Tail, pela banda canadiana The Musical Box, inserido na tournée que estão a fazer pela Europa. Trata-se da única banda autorizada pelos Genesis e a qualidade da performance, quer musical, quer coreográfica, tem-na levado a encher salas um pouco por todo o mundo. Lisboa não foi diferente.
O ambiente estava giro. Cotas e filhos de cotas em aprendizagem das músicas que os pais gostavam. Havia gente com ar casual, outros com roupas onde se percebia ainda algum do espírito dos anos 70 e 80 em versão remasterizada século XXI, gente de fato e gravata acabadinha de sair do emprego para ali. As cadeiras da Aula Magna continuam com aqueles estofos pindéricos dos anos 70 - se calhar foi por isso que a escolheram -, mas pior ainda esfarrapados, com um ar abarracado, uma indignidade para uma sala daquelas. Não sei se não há dinheiro para mandar estofar as cadeiras, mas deveria pelo menos haver para assegurar a sua manutenção. Nada, porém, esmorecia o entusiasmo e a expectativa daquele momento de regresso ao passado.
A coisa começou bem. As primeiras músicas deram o mote. O público vibrou com o The Lamb Lies Down on Brodway. Mas de repente, a meio do espectáculo, e ainda por cima do mítico Firth of Fifth, com o público rendido, puff. Foi-se o som! A luz manteve-se, mas nem mais um acorde. Sai a banda, uns 10 minutos de espera e eis quem vem um tipo da produção do espectáculo, bem-educado e civilizado, dizer que tinha havido uma avaria eléctrica, que não era da responsabilidade da Aula Magna mas sim da EDP e que o piquete já havia sido chamado.
15 ou 20 minutos mais tarde, mais um elemento da produção, desta feita uma menina, repetir o que já sabíamos, que o piquete já tinha sido chamado, que estava a chegar, para esperarmos mais uns 10 minutos. 20 minutos depois, vem um boçal da produção dizer que havia vários problemas daqueles por toda a cidade e que o(s) piquete(s) da EDP não davam para as encomendas, pedindo-nos para esperar. No final, atirou com ar cretino que «aqueles que tivessem os papás e as mamãs à espera em casa poderiam ir embora que a produção devolveria o dinheiro». Os cotas, que no viço dos anos 70 ou 80 teriam se calhar partido aquilo tudo – por bastante menos, já vi partirem um pavilhão todo, num concerto dos Tubes, no defunto Pavilhão de Alvalade -, resignaram-se. Nem um assobio, uma pateada, nada. O pessoal queria era recordar os temas de A Trick of the Tail e que se lixasse o resto. Mais 20 minutos e vem o tipo bem-educado e civilizado da produção que apareceu em primeiro lugar dizer que:

1.º Não havia hipótese de resolver o problema e que lamentavam;
2.º Que a produção, tentaria reagendar o concerto para o dia seguinte na Aula Magna – que, aliás, já tinha outro espectáculo mas que tentariam negociar e que depois entrariam em contacto com todos nós?!?!?;
3.º Que, obviamente, devolveriam integralmente o dinheiro, nos pontos de compra, para quem quisesse.
Tenho assistido a um cada vez maior profissionalismo na produção de espectáculos. Longe já vai o tempo dos amadorismos. Quinta, porém, foi a excepção. Talvez a produção tenha sido completamente apanhada de surpresa por aquilo que aconteceu, e não tenha nenhum protocolo previsto para o plano B, mas o facto é que lidou com aquilo tudo da pior forma.
Já nem falo do cretino que mandou a boca dos papás e das mamãs, que devia fazer tudo na produção menos falar em nome dela. Como disse o rei: Porque no te callas? Mas é irrealista e disparatado, tentar reagendar o concerto para o dia seguinte numa sala que já tem um espectáculo marcado para esse dia, negociando com os produtores desse outro espectáculo?! E o contacto com cada um de nós, como o fariam…
Uma palavra para o grande profissionalismo da banda que mesmo assim veio à boca de cena agradecer com sorrisos, paciência e fair play. Eles e o público estavam dispostos a quase tudo.

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No meu copo 257 - Bétula 2008; Duas Quintas Reserva 2003; Concha y Toro Late Harvest, Reserva Privada 2006

Começo a desesperar com a veia de eno-escriba do Politikos!
Haja paciência! Haja paciência!

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