25 de setembro de 2008

O time-sharing dos bancos

Ouvindo e lendo as declarações do presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro, a culpa do endividamento dos portugueses é deles próprios, porque pediram o que não conseguiriam pagar. Bem como das agências de viagens, dos promotores imobiliários, das marcas de automóveis que promovem campanhas publicitárias que prometem facilidades. Nunca dos bancos. Ora, isto, sendo verdade, é só meia verdade. Primeiro, porque por detrás do crédito ao consumo de viagens, casas e carros, há bancos e sociedades financeiras. Segundo, porque os bancos fazem das campanhas publicitárias mais agressivas que existem no mercado.
Pessoalmente, já recebi chamadas telefónicas a oferecer-me crédito de todas as maneiras e feitios. Num caso, uma gravação pedia-me apenas para dizer sim; noutro, enviaram-me um cheque de milhares de euros em meu nome que para ser creditado na conta, bastava o seu envio num envelope RSF, etc., etc.
Sendo ainda mais concreto, dou o exemplo da compra da minha casa.
Há um par de anos comprei o apartamento onde vivo. Sem entrar em detalhes de valores. O apartamento custou 50. Eu tinha 15 e uma casa que valia 20. Como não tinha ainda vendido a casa, tive de pedir 35. Vendi a casa cerca de um ano depois e entreguei esse dinheiro ao banco para amortização do capital em dívida. Nessa altura, o banco tentou por variados expedientes dissuadir-me de entregar o dinheiro. Tive mesmo de ser algo assertivo para que a gestora de conta e um director comercial – que ela convocou expressamente para aquela reunião – aceitassem a decisão. Pelo meio, tentaram vender-me investimentos e aplicações sem que eu nunca os tivesse pedido. E nem sequer pude dar os 20 que recebi da venda da casa, apenas me permitiram entregar 17,5, já que o contrato só autorizava, sem juros, uma amortização anual inferior a 50% do capital. Ou pagaria uma taxa de juro obscena. E mesmo para entregar esse dinheiro ainda tive de pagar uma taxa administrativa de €125.
Continuei, nos anos seguintes, a fazer amortizações de capital de sensivelmente 50% do empréstimo, pagando, até há dois anos, em que o Banco de Portugal acabou com essa marmelada, uma taxa administrativa de €125. Só em taxas para entregar o dinheiro paguei, ao longo de alguns anos, umas centenas de euros. Ora, como se vê por estes exemplos, os bancos também promovem o endividamento. Aliás, esse mesmo banco enviou-me em tempos – sem que eu lhe pedisse – um cartão de crédito que nunca usei, obrigando-me, para desistir dele, a um pedido por escrito e cobrando-me uma taxa obscena por ter tido um cartão que nunca pedi e que nunca usei. Isto com base apenas no «quem cala, consente»!
Sinceramente, hoje já pouco distingue os bancos – que há 20 atrás eram instituições idóneas e com alguma ética de comportamento – dos vendedores de time-sharing que nos abordavam na Rua Augusta vendendo férias...
Foto - TSF

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20 de setembro de 2008

O espelho nunca vem só…

O nosso processo de envelhecimento é inexorável. Há etapas físicas e etapas mentais que vamos cumprindo. Espelho, corpo e mesmo a mente já me tinham avisado disso. Não o tinha, porém, ainda sentido, na atitude dos outros para comigo. Foi agora a vez!
No ano passado, tive de interagir, durante um ano, dois dias por semana, com um grupo de 15 pessoas em que, tirando um caso, eram todos mais novos do que eu. Gente na casa dos vinte e muitos ou trinta e poucos. A dada altura, teve de se organizar um evento colectivo e coube-me a mim, de forma espontânea, a liderança de todo processo. Ninguém me disse nada, ninguém sequer me tentou meter aquilo em cima, mas eu intuí-o. Era aquele comportamento que se esperava de mim naquele momento. Fi-lo, mas não deixei de reflectir.
Há uma semana, tive de interagir durante oito dias com um grupo, em que, não sendo o mais velho, e estando inclusive a meio da tabela etária dos convivas, fui, a dado passo, chamado a assumir um determinado processo.
Um representante do grupo dos mais novos abordou-me de forma bastante formal para solicitar a minha opinião sobre um assunto que envolvia o colectivo. Dei-lha, foi aceite e depois pediu-me para falar individualmente com cada uma das 30 pessoas. Li-lhe mesmo um certo desconforto pela abordagem e a passagem imediata para mim de um determinado tipo de ascendente e de uma autoridade que nunca pedi, nem quis, nem equacionei que pudesse suscitar nos mais novos…
Sendo eu estruturalmente um tímido, fujo bastante de ser o centro do que quer que seja. Ao longo do tempo, porém, como acontece com quase todos, fui sendo escolhido pelos meus pares para isto ou para aquilo e empurrado para diversos papéis de representação que fui (vou) desempenhando com mais ou menos custo e mais ou menos sucesso. Foi esta, porém, a primeira vez que isso me aconteceu não interpares ou pelos mais velhos, mas por decisão dos mais novos, uma ou duas gerações abaixo da minha… E essa é mais uma etapa do processo de envelhecimento, à qual me vou ter também de ir habituando…

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